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Sara Pinho

Qual a relação entre o plástico e as alterações climáticas? 

1 Mar 2024 - 10:00
Um novo relatório publicado pelo Center for Climate Integrity revela que tanto a indústria do plástico como a indústria petrolífera têm enganado os consumidores sobre os perigos que os seus produtos representam para o ambiente, através de campanhas promotoras da reciclagem.

Os plásticos andam de mãos dadas com a indústria dos combustíveis fósseis. Sendo eles feitos a partir de petróleo, mas também de gás, carvão ou celulose, a ligação entre os plásticos e as alterações climáticas centrou-se durante muito tempo no uso e na queima de combustíveis fósseis para os produzir. Além disso, muitas empresas de combustíveis fósseis detêm, gerem ou investem em indústrias de produção de plástico, como explica a ONU.

Já em 2018, um outro estudo veio alertar para o facto de o plástico ser, ele próprio, uma fonte de gases com efeito de estufa, por libertar uma série de químicos durante a sua degradação, nomeadamente metano e etileno.

Esta investigação acrescentou uma nova camada à ligação entre o plástico e as alterações climáticas, ao concluir, inclusive, que o plástico mais usado, o polietileno (que está presente, por exemplo, nos sacos de plástico do supermercado), é aquele que maior quantidade de gases com efeito de estufa emite, quando exposto a radiação solar. Mesmo no escuro, a ação da radiação solar na superfície do plástico acelera a produção de gases.

Citada pela BBC, a principal autora da pesquisa constata “que a indústria está a crescer e que nos próximos 30 anos serão produzidos cada vez mais gases [com efeito de estufa]”, advertindo que, se olharmos para todo o plástico produzido desde 1950, está ainda quase todo no planeta, apenas se está a degradar em pedaços cada vez mais pequenos.

O plástico mais usado, o polietileno (que está presente, por exemplo, nos sacos de plástico do supermercado), é aquele que maior quantidade de gases com efeito de estufa emite.

Um novo relatório publicado pelo Center for Climate Integrity (CCI) revelou agora que tanto a indústria do plástico como a indústria petrolífera têm enganado os consumidores sobre os perigos que os seus produtos representam para o ambiente, através de campanhas promotoras da reciclagem. Apesar de saberem há muitos anos que a reciclagem não é uma solução económica ou tecnicamente viável para a gestão de resíduos plásticos, estas grandes empresas têm-na promovido em prol do aumento das suas vendas.

Isto explica-se pelo facto de a maioria dos resíduos não poder ser reciclado nem reutilizado e porque o custo da reciclagem é mais elevado do que a produção de plástico do zero, de acordo com o relatório do CCI. O documento mostra como as campanhas se focaram, nos últimos 50 anos, na reciclagem como solução para o problema dos resíduos de plástico e não na redução da sua produção.

A maioria dos resíduos não poder ser reciclado nem reutilizado e porque o custo da reciclagem é mais elevado do que a produção de plástico do zero.

De acordo com a OCDE, a poluição plástica está a crescer incessantemente: produz-se, atualmente, mais do dobro de resíduos plásticos do que se produzia há 20 anos, sendo que a maior parte deste lixo acaba em aterros ou incineradoras. Apenas 9% é reciclado e 22% escapa aos sistemas de gestão de resíduos, acabando em lixeiras não fiscalizadas ou na natureza. Outros resíduos são simplesmente queimados a céu aberto.

Tanto a indústria do plástico como a indústria petrolífera têm enganado os consumidores sobre os perigos que os seus produtos representam para o ambiente.

Desta forma, a reciclagem, só por si, não está a travar a produção e a utilização das embalagens descartáveis, como explica a especialista Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, à revista Sábado. “São essas que têm de ser combatidas”, reitera.

Além de contribuir para a crise climática, pela emissão de gases com efeito de estufa, o plástico prejudica gravemente os ecossistemas, interferindo em última instância com a cadeia alimentar, e cria pressão sobre os esforços para combater as alterações climáticas.