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Pureza Fleming

Quais as consequências para o ambiente do consumo excessivo de calçado?

12 Apr 2024 - 09:00
Cerca de 24 mil milhões de pares de sapatos são produzidos anualmente para uma população mundial de cerca de oito mil milhões de habitantes. No final, 90% desses sapatos acabam em aterros sanitários devido à sua curta vida útil. E, em média, são necessários cerca de 40 anos para que um sapato se decompor nesses mesmos aterros.

Em 2022 produziram-se aproximadamente 24 mil milhões de pares de sapatos. Cada um deles contém na sua composição uma miríade de plásticos, bem como borracha sintética à base de petróleo. Segundo um artigo do Parlamento Europeu, até 35 por cento dos microplásticos existentes nos oceanos provêm de têxteis sintéticos, muitos deles incluídos no calçado.

De acordo com um estudo da consultora Quantis, a indústria do calçado é responsável por 1,4% das emissões globais de gases efeito de estufa. Esta percentagem é especialmente impressionante se considerarmos que as viagens aéreas são responsáveis por 2,5% destas emissões. Prevê-se que só o valor do mercado mundial de calçado desportivo deva ultrapassar os 95 mil milhões de dólares americanos até 2025, quase duplicando o então número recorde de 55 mil milhões atingidos em 2016.

Já em 2013, um outro estudo, realizado pelo MIT descobrira que um normal par de sapatilhas de corrida gerava em média 13,6 quilogramas de emissões de CO₂, um valor “bastante elevado para um produto que não utiliza eletricidade nem necessita de componentes de propulsão”, sublinhou então Randolph Kirchain, um dos coautores da pesquisa. A maior parte destas emissões provém da indústria transformadora, mais em concreto dos processos de produção e os materiais envolvidos.

Segundo um artigo da revista ambiental Unsustainable Magazine, “pode levar entre 25 a mil anos para um sapato se decompor”, tudo dependendo dos materiais envolvidos na sua composição.

Dando um salto até ao fim de vida dos sapatos, que normalmente também é curta, devido a fatores tão diversos como a durabilidade dos materiais ou as simples tendências da moda, o cenário é igualmente pouco animador, pois não só são praticamente impossíveis de reciclar, devido à miríade de materiais incluídos na sua composição, como demoram toda uma eternidade a decompor-se em aterro.

Segundo um artigo da revista ambiental Unsustainable Magazine, dedicado a este tema, “pode levar entre 25 a mil anos para um sapato se decompor”. Tudo depende dos materiais, pois enquanto o couro leva entre 25 a 40 anos, a borracha pode durar de 50 a 80 anos e os materiais sintéticos feitos de plástico, cada vez mais comuns no calçado desportivo, podem demorar “até mil anos”.

Prevê-se que só o valor do mercado mundial de calçado desportivo deva ultrapassar os 95 mil milhões de dólares americanos até 2025.

Apesar de tudo a produção mundial de calçado apresentou uma quebra na primeira metade de 2023. Dados reunidos pela APICCAPS indicam que os quatro maiores representantes (75%) da produção mundial de calçado — a China, a Índia, o Vietname e a Indonésia —, registaram naquele ano uma quebra muito expressiva.

A China, que produz anualmente 13 mil milhões de pares de calçado e exporta nove mil milhões para países como os Estados Unidos ou a Alemanha, viu recuar as suas exportações em 9%. Também na India e no Vietname as exportações de calçado recuaram. No caso do Vietname a quebra foi de 17%, considerada também a maior entre todos os principais players asiáticos. A Indonésia, que por seu turno produz mais de 1026 milhões de pares de calçado anualmente, assistiu, na primeira metade de 2023, a um recuo nas exportações de 15%.

Perante o preocupante cenário do consumo excessivo de calçado, torna-se evidente a urgência de repensar os hábitos de consumo e a forma como interagimos com os produtos que utilizamos diariamente. A produção massiva de ténis não gera apenas uma quantidade assustadora de resíduos, mas também contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa e a poluição dos oceanos. Melhor que comprar novo é reciclar o velho, e hoje, já são muitos os serviços que respondem a esta demanda.