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Sara Pinho

“Mais do que dizer o que não está a ser feito, importa dizer que é preciso fazer mais”, afirma a fundadora da ANP|WWF em Portugal sobre a iniciativa Hora do Planeta

17 Mar 2024 - 10:00
As plantas da Estufa Fria de Lisboa comem-se? O que são as espécies comestíveis e as espécies silvestres? Como se analisa a água utilizada no mercado? Estas e outras perguntas compõem o programa da Hora do Planeta, que este ano se assinala no dia 23 de março, entre as 20h30 e as 21h30 (hora local).

Como mote para o evento, promovido pela Organização Não-Governamental WWF (World Wide Fund for Nature), foi lançada a campanha “Pequenas ações, grande impacto” que servirá de base às diversas atividades que vão decorrer no Mercado de Alvalade, em Lisboa, a partir das 16h. Às 20h30, tudo ficará às escuras.

A Hora do Planeta é uma iniciativa mundial dedicada à consciencialização para a proteção do ambiente e do planeta, cujo objetivo se centra em conseguir que as pessoas assumam uma “ação efetiva de transformação da sua vida para uma vida mais sustentável e responsável, tendo em conta os limites do planeta”, como explica Ângela Morgado, fundadora da ANP|WWF em Portugal, em entrevista ao Green eFact.

Este ano, a tónica da ação recai sobre a alimentação responsável e sustentável, o bem-estar físico e mental, a água e a conservação das espécies marinhas. Mas será que andamos a tratar bem da comida, da água e de nós mesmos?

Ao longo do dia 23 de Março, o Mercado de Alvalade, em Lisboa, vai ser palco de diversas iniciativas para assinalar a Hora do Planeta.

Ângela Morgado afirma que, no geral, as pessoas estão preocupadas “com a saúde do planeta e querem preservar os habitats das espécies emblemáticas e as paisagens e, por isso, consideram alterar os seus hábitos”, considerando os jovens aqueles que mais estão “sob alerta”. Um relatório do ano passado da GlobeScan confirma a crescente consciencialização relativamente às alterações climáticas, mas a crença de que as ações individuais podem efetivamente mitigar os efeitos das alterações climáticas não o acompanha.

Mostrar que as ações individuais fazem a diferença é precisamente aquilo que a campanha “Pequenas ações, grande impacto” pretende, através do programa de atividades que dedica à Hora do Planeta no próximo sábado.

Repetindo o conceito criado em 2023, este ano está disponível um “Banco de Horas” no site da Hora do Planeta, que convida pessoas a título individual, autarquias, empresas e organizações a registar as atividades que vão realizar em prol do ambiente, sejam elas uma caminhada, a recolha de lixo, a pesquisa de informação sobre as alterações climáticas ou um jantar no escuro. Pretende-se contabilizar, no fim, quantas horas foram “doadas” à regeneração do planeta. Em 2023, perfez-se um total de 410 mil horas em todo o mundo. Quantas serão em 2024? Para participar na edição deste ano, a inscrição pode ser feita neste formulário.

Embora a iniciativa seja conhecida pelo “apagão”, durante o qual se desligam as luzes das casas e das cidades por uma hora, esse é meramente simbólico. A finalidade não é poupar energia nem contabilizar o gasto energético das cidades, mas, sim, sensibilizar as pessoas para o facto de que o planeta precisa de ser protegido e preservado. Para isso, é importante que os comportamentos individuais sejam alterados além dessa hora, de forma a colocar menos pressão sobre os recursos naturais.

Ângela Morgado defende que as pessoas assumam uma “ação efetiva de transformação da sua vida para uma vida mais sustentável e responsável, tendo em conta os limites do planeta”

A também diretora-executiva da ANP|WWF diz ser fundamental “reduzir tudo” para diminuir a nossa pegada ecológica. O “tudo” abrange, por exemplo, usar os transportes públicos ou a bicicleta, em detrimento do uso do carro; ter em conta se é realmente necessário comprar roupa ou acessórios com frequência; ou comprar menos produtos que vêm em embalagens de uso único, de modo a evitar-se a poluição de resíduos plásticos na natureza.

Além disso, Ângela Morgado lembra-nos de que “a agricultura tem uma grande pegada hídrica, ou seja, os recursos hídricos disponíveis estão a alimentar uma agricultura que não está de acordo com os limites do planeta”, fazendo a ponte para uma das vertentes a que a WWF dá destaque – os sistemas alimentares, que contribuem para a desflorestação e para as emissões de gases com efeito de estufa na atmosfera.

Aqui, a ação pode passar por escolher alimentos locais e sazonais, combater o desperdício alimentar e substituir, sempre que possível, a proteína animal por proteína vegetal com valor nutricional equivalente, de acordo com a ANP|WWF.

Como suporte para uma transição alimentar informada, esta Organização Não-Governamental elaborou o Guia de Consumo de Proteína em Portugal e, em abril deste ano, vai lançar o “Cabaz Sustentável”, um novo produto que irá ter em conta as componentes ambiental da pegada ecológica e a nutricional, para mostrar que “está tudo interligado”.

Ângela Morgado lembra-nos de que “a agricultura tem uma grande pegada hídrica, ou seja, os recursos hídricos disponíveis estão a alimentar uma agricultura que não está de acordo com os limites do planeta”

Outro dos focos desta edição tem como foco envolver mais os municípios, na medida em que são eles que “comunicam localmente com os munícipes e, no fundo, conseguem passar a mensagem de uma forma mais próxima” ao dinamizarem atividades coletivas em prol do ambiente. Para Ângela Morgado, as empresas não ficam de fora da equação, acreditando que, ao aderirem à Hora do Planeta, conseguem igualmente mobilizar os seus funcionários e incentivá-los a apagar as luzes em casa ou a participar nos eventos que assinalam a iniciativa.

Mas há muito por fazer, nas palavras da fundadora da ANP|WWF, que assevera: “mais do que dizer o que não está a ser feito, importa dizer que é preciso fazer mais. Tudo o que está a ser feito ainda é pouco”.

A nível global, as populações de vida selvagem decresceram 69% entre 1970 e 2018, como mostra o relatório Planeta Vivo 2022. A isto, juntam-se os impactos dos incêndios, das secas extremas, das inundações e das alterações da temperatura média global.

Junta-se também o facto de o ambiente ainda não ser uma prioridade nos debates políticos, uma crítica que Ângela Morgado não deixa de evidenciar: “é preciso assumir que o ambiente deve ser uma prioridade. Nesta campanha eleitoral, pouco se falou do ambiente e de como é que os partidos integram o ambiente nas suas prioridades. E isso é fundamental para as pessoas”.

A WWF (World Wide Fund for Nature) é uma das maiores organizações independentes de conservação do planeta e está presente em mais de 120 países. Pretende travar a degradação do ambiente e construir um futuro no qual os seres humanos vivam em harmonia com a natureza. A ANP (Associação Natureza Portugal) é uma Organização Não-Governamental para o Ambiente e trabalha em associação com a WWF para a conservação da biodiversidade e dos recursos nacionais. A ANP|WWF é parceira do Green eFact.