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João Maria Botelho

Economia Azul – o equilíbrio entre crescimento e a saúde dos oceanos

2 Apr 2024 - 10:00
O oceano é a força vital do nosso planeta. Repleto de vida, regula o nosso clima, fornece-nos alimentos e recursos e possui um imenso potencial de desenvolvimento económico. No entanto, este vasto recurso está sob pressão crescente das atividades humanas, como a sobrepesca, a poluição e as alterações climáticas. A Economia Azul surge como uma resposta a este desafio. Trata-se de um quadro para aproveitar o potencial económico do oceano, assegurando simultaneamente a sua saúde a longo prazo.

A nossa relação atual com o oceano é insustentável: As frotas pesqueiras estão a esgotar as unidades populacionais de peixes a um ritmo alarmante; a poluição de origem terrestre e os resíduos de plástico estão a criar vastos giros oceânicos; As alterações climáticas estão a provocar a acidificação dos oceanos e a subida do nível do mar, perturbando os ecossistemas marinhos.

Para navegar em direção a uma Economia Azul sustentável, a ciência e a inovação são cruciais. Eis como, em dois pilares eixo:

 

O fomento integral e compreensivo das práticas sustentáveis

Através da investigação científica, podemos avançar no desenvolvimento de métodos de pesca mais seletivos que minimizem as capturas acessórias prejudiciais. Ao mesmo tempo, permite-nos reduzir a utilização de antibióticos na aquacultura, promovendo práticas mais responsáveis e saudáveis para o ambiente marinho. Além disso, estamos a explorar sistemas inovadores de biorremediação, utilizando tecnologias avançadas para limpar a poluição e restaurar a saúde dos oceanos.

Apostar em energias renováveis

O oceano possui um vasto potencial para a produção de energia renovável, como a energia eólica offshore e a energia das ondas. A ciência e a inovação podem ajudar-nos a aproveitar este potencial de forma bastante mais eficiente

Através da investigação científica, podemos avançar no desenvolvimento de métodos de pesca mais seletivos que minimizem as capturas acessórias prejudiciais.

São já vários os exemplo de inovação em ação a nível europeu, eis alguns:

 

Campus mondial de la mer, França

Esta rede liga universidades, institutos de investigação e empresas da região da Bretanha. Partilham conhecimentos, colaboram em projetos de investigação e desenvolvem soluções inovadoras para atividades marítimas sustentáveis.

MaREI (Centre for Marine and Renewable Energy), Irlanda

O MaREI centra-se no desenvolvimento de tecnologias de energias renováveis para aproveitar o poder das ondas, marés e correntes oceânicas. Isto ajuda a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e promove um futuro energético mais sustentável.

Centro de Aquacultura EXPOSED, Noruega

A Noruega é líder em aquacultura, mas os métodos tradicionais estão limitados a águas abrigadas. O EXPOSED tem como objetivo desenvolver tecnologias para a criação sustentável de peixes em ambientes oceânicos mais adversos, expandindo as possibilidades da indústria e minimizando o impacto ambiental.

 

A falta de políticas e regulamentos eficazes representa um grande desafio para a economia azul.

Embora promissora, a Economia Azul está a navegar em mares turbulentos. A pandemia teve um impacto significativo no financiamento da investigação, com uma queda estimada de 10% nos investimentos em ciência e tecnologia em 2020.

Por outro lado, a falta de políticas e regulamentos eficazes representa um grande desafio para a economia azul. A sobrepesca, a poluição marinha e a perda de biodiversidade são exemplos de problemas que exigem uma abordagem regulamentar mais sólida. A natureza transnacional dos desafios da economia azul exige uma resposta global coesa. Desta forma, a Década das Nações Unidas para a Ciência dos Oceanos (2021-2030) oferece uma oportunidade crucial para reforçar a cooperação internacional e construir um futuro sustentável para os oceanos.

Para que possamos medir o impacto,  veja-se que a economia global dos oceanos está estimada em 3 mil milhões de dólares e emprega cerca de 350 milhões de pessoas. Estima-se que a produção de produtos do mar terá de aumentar 60% até 2050 para satisfazer a crescente procura mundial. A energia renovável dos oceanos tem potencial para fornecer até 10% da procura global de energia até 2050.

A Década das Nações Unidas para a Ciência dos Oceanos representa um momento crucial para mobilizar a comunidade mundial e construir um futuro sustentável para os oceanos. Através da intensificação da investigação, da implementação eficaz de políticas e da colaboração internacional, podemos enfrentar os desafios da Economia Azul e construir um futuro próspero para as gerações vindouras.