Já em fevereiro de 1937, o presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Roosevelt, dizia que “a nação que destrói os seus solos, destrói-se a si própria.” Irónico, no mínimo, uma vez que desde então, toda a humanidade tem ignorado esta verdade de La Palisse.
Sejamos claros, o CO2 em si não é um problema. Faz parte do ecossistema global natural e é essencial para a nossa sobrevivência. O problema é a quantidade de CO2 produzida por nós, humanos, devido a um estilo de vida insustentável, e pela incapacidade dos solos em fixar carbono, como consequência de uma agricultura industrial e degenerativa, que acelera a desertificação e resulta na incapacidade de os mesmos fixarem e sequestrarem o CO2 da atmosfera.
Mas o que é, afinal, o ciclo do carbono?
É um processo natural que envolve a movimentação contínua do carbono entre a atmosfera, os oceanos, os solos, a biosfera e a litosfera. O ciclo começa com a fixação do carbono atmosférico pelas plantas durante a fotossíntese. As plantas absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e usam energia solar para converter o CO2 e a água em carboidratos, libertando o oxigênio (O2) que respiramos como subproduto.
O carbono fixado pelas plantas é transferido para os consumidores primários (animais herbívoros) quando estes se alimentam das plantas, continuando a ser transferido ao longo da cadeia alimentar à medida que os consumidores primários são consumidos pelos consumidores secundários (animais carnívoros).
Neste ponto e importante referir que cerca de 18% do nosso corpo, em massa, é formado por átomos de carbono e esses átomos são a chave da nossa existência! Plantas e animais (humanos incluídos) realizam respiração celular, um processo no qual o carbono orgânico é quebrado para produzir energia, libertando CO2 de volta para a atmosfera como subproduto.
Quando as plantas e os animais morrem, os seus restos mortais são decompostos por microrganismos no solo. Durante a decomposição, o carbono orgânico é libertado como CO2 para a atmosfera ou é convertido em matéria orgânica estável, como o húmus, no solo. Parte do carbono libertado durante a decomposição é armazenado no solo, onde pode permanecer por centenas a milhares de anos.
Outra parte do carbono é transportada para os oceanos através da erosão, onde é armazenada na forma de sedimentos orgânicos e pode permanecer armazenado durante milhões de anos, antes de ser novamente libertado para a atmosfera através de processos geológicos, como vulcanismo e metamorfismo, ou consequência da atividade humana.
O foco da humanidade, da indústria e da política no combate às alterações climáticas deveria estar em subsidiar e financiar ecossistemas saudáveis, no fomento da biodiversidade e no aumento de matéria orgânica no solo (Húmus).
Quantos saberão, por exemplo, que numa colher de solo saudável existem mais organismos do que pessoas no mundo? Que mais de 50% da composição da matéria orgânica é carbono? Ou que, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o aumento de 1% de matéria orgânica no solo, dependendo da sua especificidade, ajudaria a reter mais 150.000 litros de água por hectare?
O aumento de matéria orgânica no solo é sem dúvida a única estratégia conhecida, visível, palpável e quantificável que poderá funcionar, de forma sustentável, na mitigação do aumento da concentração de CO2 na atmosfera, no aumento da disponibilidade de água potável e na produção de alimentos densos em nutrientes que conseguem alimentar toda a população mundial.
Voltando ao Monstro de que todos falam e ninguém vê, sem esquecer o chão em que pisamos.
A capacidade de fixação de carbono no solo pode variar dependendo de vários fatores, como o tipo de solo, o clima e as práticas agrícolas, entre outros. Não existe uma resposta única para a capacidade de fixação de CO2 por 1% de húmus por hectare, pois é uma estimativa que pode variar consideravelmente.
No entanto, existem estudos que sugerem que o solo com 1% a 3% de matéria orgânica pode armazenar cerca de 20 a 30 toneladas de carbono por hectare só na camada superficial. A iniciativa internacional “4 por 1000”, lançada pela França em 1 de dezembro de 2015 na COP21, demonstrou que a agricultura, e em particular os solos agrícolas, podem desempenhar um papel crucial na segurança alimentar e nas alterações climáticas, pois representam o maior potencial de armazenamento de carbono.
Se o nível de carbono armazenado pelos solos nos 30-40 centímetros superiores aumentasse 0,4 por ano, o aumento anual de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera seria significativamente reduzido para valores que nos permitiriam continuar a desenvolver estratégias para possibilitar à humanidade adaptar-se à nova realidade climática.
Conclusão
Promover e financiar a agricultura regenerativa e a consequente criação de matéria orgânica (húmus) nos solos é o derradeiro cenário em que todos ganham uma solução holística e pacífica, que resolve muitos dos problemas da humanidade e da vida selvagem.
Posto isto, pergunto-me por que motivo perseguimos cenários de “descarbonização virtual” em que tanto os governos como empresas privadas manipulam os dados e resultados ao sabor das suas necessidades políticas e económicas? Porque não viramos o nosso foco mundial para algo que é palpável e até uma criança consegue ver e perceber? Parece-me que continuamos a tapar o sol(o) com a peneira e a dar passos em frente à beira de um abismo, que não foi criado pela natureza mas sim pela forma como nós humanos nos relacionamos com a mesma.
Façam terra em vez de guerra!
David de Brito, co-fundador da Terramay