voltar

Marina Prieto Afonso

A Importância da Biofília – ou como promover a saúde através da relação com a Natureza

4 May 2024 - 09:00
A progressiva urbanização e transformação dos habitats naturais, com perda da biodiversidade e mutações climáticas rápidas que ameaçam a estabilidade e a sobrevivência das espécies naturais e dos humanos é uma das preocupações da atualidade. O programa para o desenvolvimento sustentável das Nações Unidas pretende que, até 2030, se desenvolva o acesso universal a espaços verdes seguros e inclusivos, nas cidades. Urge encontrar formas de melhorar as relações entre as pessoas e a natureza, com impacto não só no bem-estar humano, mas também no mundo natural em geral.

O conceito de biofília pode ajudar-nos a compreender a importância desta mudança de mentalidades. Etimologicamente, a biofília significa a amizade pela natureza, ou seja, os sentimentos positivos que são evocados na sua presença.

Segundo E.O.Wilson (1984), a biofília reflete a ligação profunda do ser humano com os elementos naturais como as árvores, as flores, os animais, a água, e é desta ligação que derivam o desejo de preservação dos espaços naturais e da biodiversidade, assim como algumas experiências espirituais importantes.

A preferência de paisagem é uma das provas de que a biofília está ativa em nós. Preferimos olhar e habitar paisagens amplas, com pontos de água e locais onde nos possamos abrigar e observar o que se passa à nossa volta, e esta resultado foi obtido em diversas culturas.

Este tipo de paisagem segue o plano básico da paisagem da savana e tem sido utilizado para a conceção dos parques urbanos, com lagos, pequenas florestas e trilhas com vistas. Quando se compara estas paisagens com os desertos, as florestas densas ou as construções modernas, as pessoas preferem largamente a paisagem de tipo savana.

Vários estudos mostraram a influência psicológica restauradora da exposição a paisagens naturais.

A biofilia também se reconhece no impacto positivo que tem na saúde e no bem-estar humanos, e pela evocação de emoções positivas que permanecem ativas na nossa espécie. Por exemplo, nos Estados Unidos e no Canadá há mais crianças e adultos a visitarem zoológicos durante os fins-de-semana do que a assistirem a desportos, muito apreciados nesses países.

Vários estudos mostraram a influência psicológica restauradora da exposição a paisagens naturais. Pessoas residentes em áreas com espaços verdes num raio de cerca de 1 km apresentavam menos probabilidades de contrair patologias como ansiedade e depressão, e essa relação é mais evidente ainda para pessoas vivendo em condições sócio-económicas desfavorecidas.

A exposição à natureza tem o efeito geral de regular os ritmos biológicos do sono e vigília (ritmos circadianos), promovendo a vitalidade física e os comportamentos cooperativos.

O contacto com a natureza também aumenta os índices de felicidade e de bem-estar subjetivos, promovendo os afetos positivos para consigo e para com os outros, e desenvolvendo um sentido mais profundo de propósito e de significado existenciais.

Estar imerso na natureza, ouvir sons como o canto das aves ou da água a correr pode, por si só, ter um efeito tranquilizante e recuperador, permitindo abrandar a atividade mental e entrar numa experiência de sintonia com os aspetos mais simples e simultaneamente mais profundos do estar vivo.

Por sua vez, a experiência direta do solo e das caminhadas, com os pés na terra e respirando os odores da floresta (terpenos), regula diretamente os ritmos cardíacos e a tensão arterial, ajudando ao equilíbrio emocional e fisiológico.

Frequentar parques e jardins promove o bem-estar e a coesão social, e as atividades comunitárias de grupo como a horticultura ou o restauro ecológico aumentam os laços sociais entre as pessoas.

Crianças entre os 7 e os 12 anos que passearam vinte minutos no parque, apresentaram um efeito de equilibração idêntico ao da medicação para redução dos sintomas da Perturbação do Défice da Atenção e Hiperatividade.

Um outro estudo mostrou que as crianças habitando perto de espaços verdes tinham menos probabilidade de apresentar patologias mentais como depressão, ansiedade ou perturbações alimentares, comparativamente com outras crianças que habitaram em espaços pouco expostos à natureza.

A ecoterapia é um novo tipo de psicoterapia que decorre em contacto com os espaços naturais. Inclui experiências sensoriais diversas como olhar para as árvores e flores, cheirar os odores da terra molhada, ouvir os sons da natureza, provar e tatear frutos e vegetais.

Estas experiências são acompanhadas de verbalização das emoções evocadas, conversando sobre os seus aspetos positivos ou negativos e o modo como se relacionam com os problemas da pessoa.

O eco-bem-estar (ecowellness) que deriva da ecoterapia e, em geral, da exposição à natureza, não corresponde somente à ausência de sintomas psicológicos, mas inclui a apreciação, o respeito e a reverência pela natureza, desenvolvendo sentimentos de conexão e experiências de bem-estar que promovem as ações pró-ambientais.

Um outro estudo mostrou que as crianças habitando perto de espaços verdes tinham menos probabilidade de apresentar patologias mentais como depressão, ansiedade ou perturbações alimentares.

Frequentar parques e jardins promove o bem-estar e a coesão social, e as atividades comunitárias de grupo como a horticultura ou o restauro ecológico aumentam os laços sociais entre as pessoas, contribuindo deste modo para a participação pública em debates e decisões que afetam os locais de vida e as suas populações, humanas e não humanas.

Estas são algumas das razões biofílicas para a importância dos espaços verdes nas cidades. A urbanização afastou-nos do nosso habitat natural milenar e dos pequenos burgos em que ainda mantínhamos um contacto diário com a natureza, mas a biofilia permanece em nós como uma motivação poderosa para procurarmos o que nos torna mais felizes e, dessa forma, nos ajudar a ser mais profundamente humanos.