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Teresa Lencastre

Os naufrágios têm um impacto positivo na vida marinha?

28 Apr 2024 - 09:00
A abundância de vida marinha em naufrágios não é novidade, sobretudo para quem pratica mergulho. Navios, aviões e outras estruturas são frequentemente “hotspots” para os mergulhadores, que aí encontram uma janela para o passado, mas também novos habitats com uma grande variedade de espécies. Mas serão de facto bons ou maus para a vida marinha? Um estudo inédito feito no Reino Unido revelou recentemente que os naufrágios podem ter vantagens para os ecossistemas marinhos.
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De acordo com uma investigação feita pela Universidade de Plymouth e a Blue Marine Foundation, os cerca de 50 mil navios naufragados ao longo da costa britânica têm servido de refúgio para peixes, corais e outras espécies, protegendo-as da pesca de arrasto.

A Universidade de Plymouth diz tratar-se do primeiro estudo “a demonstrar a importância ecológica acrescida dos naufrágios – e das áreas que os rodeiam – em zonas de forte pressão de pesca”.

Navios, aviões e outras estruturas são frequentemente “hotspots” para os mergulhadores e por isso também “há muito que se pensa que os naufrágios podem estar a desempenhar um papel importante na criação de santuários para as espécies marinhas. É brilhante ver este facto comprovado neste estudo”, acrescenta Joe Richards, um dos co-autores do estudo.

“A atmosfera de um naufrágio deixa-me absolutamente extasiado. Há a mesma sensação de paz que se sente ao entrar numa catedral”, disse em tempos o pai do mergulho autónomo, o francês Jacques Cousteau.

Quando se fala em embarcações no fundo do mar, contudo, há uma distinção importante a fazer, explica ao Green eFact Alberto Braz, tenente-coronel reformado com uma vasta experiência no afundamento de navios em Portugal.

Um naufrágio é um acidente com riscos para os ecossistemas, uma vez que não há controlo sobre os possíveis materiais tóxicos que a embarcação contém, nem sobre o local onde vai convergir. Por outro lado, um afundamento é um processo intencional e controlado, que pode servir diferentes propósitos, como, por exemplo, a criação de recifes artificiais para promover a vida marinha.

Foi precisamente com esse objetivo que Alberto Braz procedeu ao afundamento de seis embarcações em Portugal, nomeadamente como coordenador do projeto Ocean Revival, que, entre 2012 e 2013, levou para as profundezas do Algarve quatro navios de guerra da Armada Portuguesa.

Corveta “Afonso Cerqueira” foi afundada na Madeira em 2018. Foi uma das várias operações deste tipo coordenadas por Alberto Braz.

“A criação de recifes artificiais é nada mais nada menos que a recuperação de habitats que desapareceram ou quase se extinguiram por erro humano”, esclarece o perito português.

“Este tipo de recifes artificiais tem uma preparação de descontaminação de seis meses e é verificada por autoridades competentes. Para além da função primária de recife artificial, esta estrutura torna-se um sítio de mergulho que respeita regras de segurança”, conclui Alberto Braz.