No seu site oficial, a UICN informa que a mudança de designação foi possível depois de a população de machos adultos ter aumentado de 62, em 2001, para 648, em 2022. Atualmente, estima-se que existam mais de 2 mil exemplares da espécie autóctone da Península Ibérica.
Ao Green eFact, a ANP-WWF diz que a mudança de classificação é “um marco histórico e um testemunho do sucesso dos esforços de conservação realizados nos últimos anos”. Catarina Grilo, diretora de conservação e políticas da organização, dá conta de “um esforço conjunto de várias entidades” e de “avultados investimentos públicos e privados em diversas frentes”.
Para a alteração do estatuto do lince-ibérico contribuíram “esforços de reprodução em cativeiro e posterior reintrodução à natureza”, bem como a “manutenção e recuperação do montado”. Entre as mudanças implementadas no habitat natural da espécie incluem-se melhorias da vegetação e a criação de “um mosaico de floresta, matos e áreas abertas de pastagens”.
“Estas ações de restauro da natureza [têm sido] das grandes apostas da ANP|WWF em Portugal ao longo dos últimos anos, complementando o trabalho ativo de outras instituições e organizações”, refere Catarina Grilo.
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Para a alteração do estatuto do lince-ibérico contribuíram “esforços de reprodução em cativeiro e posterior reintrodução à natureza”, bem como a “manutenção e recuperação do montado”.
A mudança de designação não significa, contudo, que os esforços pela proteção do lince-ibérico estejam concluídos, avisa a especialista. A espécie mantém-se, aliás, numa categoria preocupante da UICN, mas em vez de apresentar um risco de extinção na natureza “muito elevado”, passou a sofrer um risco “elevado”.
Com efeito, Catarina Grilo diz que ainda “há muito a ser feito para garantir a preservação do lince-ibérico a longo prazo”.
Uma das medidas defendidas pela diretora de conservação e políticas da ANP-WWF é a proteção “urgente” do coelho-bravo, a principal fonte de alimento do lince-ibérico, considerado atualmente “em perigo de extinção” pela UICN.
Catarina Grilo diz que a população desta presa natural tem sofrido perdas significativas, por causa de doenças (como a mixomatose e a doença hemorrágica viral), da perda de habitat e da pressão de predadores.
“A proteção desta espécie é crucial para a manutenção do equilíbrio ecológico e para a sobrevivência do lince-ibérico. Neste âmbito, a ANP|WWF tem colaborado no projeto ibérico LIFE Iberconejo com várias organizações, incluindo o próprio ICNF”, explica.
Por outro lado, é “essencial” continuar a proteger e a restaurar habitats naturais, garantir a conectividade entre as diferentes populações de lince e assegurar a existência de território para se expandir. Importa ainda “reduzir as ameaças humanas, como atropelamentos e caça furtiva”, “monitorizar continuamente as populações de lince e promover a coexistência pacífica das pessoas com estes animais”.
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Uma das medidas defendidas por Catarina Grilo, diretora de conservação e políticas da ANP-WWF, é a proteção “urgente” do coelho-bravo, a principal fonte de alimento do lince-ibérico.
Lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)
Em entrevista ao Green eFact, Catarina Grilo explica ainda as diferentes classificações da lista vermelha da UICN. De acordo com a especialista, trata-se de “uma das melhores e principais ferramentas para analisar o estado de conservação das espécies e para que os Governos e organizações possam agir para proteger cada espécie”.
“Em simultâneo, acaba por instar as entidades responsáveis a manter uma monitorização eficaz das espécies e a publicar periodicamente dados sobre as mesmas”, refere.
Extinta (Extinct)
Esta é a categoria mais grave da lista da UICN. De acordo Catarina Grilo, “uma espécie considera-se extinta quando não restam quaisquer dúvidas por parte da IUCN de que morreu o último indivíduo dessa espécie, seja na natureza, seja na vida selvagem”.
Veja a lista de espécies “extintas”, aqui.
Extinta na Natureza (Extinct in the Wild)
No universo das espécies extintas, há ainda outra categoria, explica a diretora de conservação e políticas da ANP-WWF, referente aos animais que existem apenas em cativeiro ou estão (re)naturalizados “bastante fora da sua área original de implantação ou distribuição”
Catarina Grilo cita a explicação do Projeto Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental para esta classificação: “quando falharam todas as tentativas exaustivas para encontrar um indivíduo no seu habitat, conhecido e ou expectável, em períodos apropriados (do dia, da estação e do ano), realizadas em toda a sua área de distribuição histórica.”
Veja a lista de espécies “extintas na natureza”, aqui.
Criticamente Em Perigo (Critically Endangered)
A categoria “criticamente em perigo” é aplicada quanto a espécie “enfrenta um risco de extinção na natureza extremamente elevado”, revela a especialista.
“De destacar que o lince-ibérico é a primeira espécie a eliminar duas categorias de ameaça da lista da IUCN em apenas 21 anos”, diz Catarina Grilo, lembrando que também já esteve “criticamente em perigo”.
Veja a lista de espécies “criticamente em perigo”, aqui.
Em Perigo (Endangered)
Depois de deixar de estar “criticamente em perigo”, o lince-ibérico esteve “em perigo” até muito recentemente. Esta categoria refere-se às espécies que enfrentam “um risco de extinção na natureza muito elevado”, como o coelho-bravo.
Veja a lista de espécies “em perigo”, aqui.
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O lince-ibérico é a primeira espécie a eliminar duas categorias de ameaça da lista da IUCN em apenas 21 anos.
Vulnerável (Vulnerable)
Já esta é a classificação atual do lince-ibérico, como anunciado a 20 de junho. Como explicado anteriormente, refere-se às espécies que enfrentam “um risco de extinção na natureza elevado”.
Veja a lista de espécies “vulneráveis”, aqui.
Quase Ameaçada (Near Threatened)
Esta designação refere-se, por outro lado, às espécies que não se qualificam aos estatutos de “criticamente em perigo”, “em perigo” ou “vulnerável”. Ainda assim, explica Catarina Grilo, “é provável que lhe venha a ser atribuída uma categoria de ameaça num futuro próximo”.
Veja a lista de espécies “quase ameaçadas”, aqui.
Pouco Preocupante (Least Concern)
Tal como o nome indica, os animais nesta categoria causam menor preocupação. Espécies “pouco preocupantes” não se incluem nas categorias acima e normalmente têm “uma ampla e abundante distribuição no território”, refere a especialista.
Veja a lista de espécies “pouco preocupantes”, aqui.
Informação Insuficiente (Data Deficient)
Já está classificação aplica-se “quando ainda não há dados suficientes para analisar o estado de conservação da espécie”, diz Catarina Grilo.
Veja a lista de espécies com “informação insuficiente”, aqui.
Não Avaliada (Not Evaluated)
Por último, esta designação é usada quando a espécie “ainda não foi avaliada pelos critérios da UICN”. Não há, por isso, qualquer lista da entidade para esta classificação.