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Miguel Judas

Embrulhar frutos e vegetais em plástico é prejudicial para o ambiente?

29 Jun 2024 - 09:00
Diferentes investigações provaram que embrulhar os vegetais e frutos em celofane prolonga a sua vida útil, contribuindo assim para reduzir a imensa pegada ecológica resultante do desperdício alimentar. Há no entanto quem discorde desta última conclusão, como o demonstrou um outro estudo realizado em Inglaterra.
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Há de facto um motivo para os vegetais e as frutas serem embrulhados em celofane: o de prolongar a sua vida útil, o que no retalho é chamado de shelf life – “tempo de prateleira”. Diversos estudos científicos têm demonstrado que os alimentos duram muito mais tempo se estiverem protegidos por plástico.

Uma dessas primeiras análises, publicada em 2011 no Journal of Food Science and Technology, concluiu que um pepino envolto numa película de plástico duro, permanece sem perder qualidades até 15 dias, em vez de nove, a uma temperatura de 12º C; E cinco dias ao invés de dois, a temperaturas entre 29º C e 33º C.

Mais recentemente, em 2022, outra investigação, conduzida por um grupo de cientistas suíços de instituições como o Laboratório Federal de Ciência e Tecnologia, o Laboratório de Membranas Biomiméticas e de Têxteis de St Gallen e o Centro de Investigação de Engenharia Biomédica da Universidade de Berna, estimou que proteger pepinos com plástico tem uma vantagem ambiental superior quase cinco vezes a não o fazer.

Lembrando que o desperdício alimentar representa 6% das emissões totais de dióxido de carbono, o estudo suíço estudo calculou, por exemplo, que “cada pepino desperdiçado, por se ter estragado, tem a mesma pegada ecológica de 93 folhas de celofane a embrulhar o vegetal”.

Um estudo realizado em 2022, por um grupo de cientistas suíços, estimou que proteger pepinos com plástico tem uma vantagem ambiental superior quase cinco vezes a não o fazer.

Apesar de não colocar em causa o facto das embalagens de plástico prolongarem o “tempo de prateleira” dos frutos e vegetais, um outro estudo, realizado em Inglaterra pela ONG de ação climática WRAP, contraria no entanto a relação entre o sobre-embalamento e a diminuição do desperdício alimentar, demonstrando até que, pelo contrário, o pode potenciar.

A investigação, que durou 18 meses e além de pepinos incluiu também batatas, bróculos, bananas e maçãs, concluiu que “as embalagens muitas vezes levam os consumidores a comprar mais do que necessitam, aumentando assim o problema do desperdício de alimentos”.

Em declarações ao jornal inglês The Guardian, o CEO da WRAP, Marcus Grover, afirmou que “embora a embalagem fosse importante e muitas vezes desempenhasse um papel crítico na proteção dos alimentos”, o plástico “não prolonga necessariamente a vida útil dos produtos frescos não cortados”.

Segundo esta análise descobriu, a embalagem acaba por ser uma das “partes menos importantes” na luta contra o desperdício alimentar e que outros fatores, como permitir aos consumidores comprar a quantidade certa ou armazenar os alimentos de forma correta, acabam por ser muito mais importantes.