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Bernardo Simões de Almeida

A UE é mesmo um dos menores emissores de carbono do Mundo, como alega o Chega?

13 Jun 2024 - 09:00
Passadas as eleições europeias, recuperamos um conjunto de alegações sobre as alterações climáticas feitas pelo candidato e vice-presidente do Chega, Tânger Correia, agora eleito eurodeputado, durante um debate na rádio Observador, que, como se constata, carecem de uma verificação mais apurada.
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A primeira alegação foi que as emissões de carbono da totalidade dos países da UE são inferiores às da Indonésia. Tânger Correia afirmou ainda, no mesmo debate, que os países com maiores emissões se encontram todos fora da Europa comunitária. E para concluir, acrescentou que o nível de emissões de carbono dentro do espaço europeu é o menor do mundo.

Ora, todas estas afirmações por parte do agora deputado europeu do Chega são falsas.

Sobre a primeira alegação e de acordo com dados fornecidos pela própria União Europeia relativos ao ano de 2022, a UE está entre os seis maiores emissores de carbono para atmosfera, acompanhada por países como a China, EUA, Rússia e Brasil. Estes seis países juntos emitem mais de 60% de toda emissão carbónica mundial, que, em 2022 ascendeu às 53.8 Gigatoneladas.

Olhando mais em detalhe para estes mesmos dados, percebe-se que a EU contribuí com 3.59Gt, ou seja com cerca de 6.7% das emissões globais, enquanto a Indonésia contribui apenas com 2.3%, apesar do país ter tido um aumento de 10% das suas emissões entre 2021 e 2022.

O vice-presidente do Chega realçou ainda que estas emissões eram per capita. Mesmo assim, a afirmação continua a ser falsa. Aliás, segundo o mesmo relatório, as emissões per capita da EU em 2022 foram de 8 toneladas CO²eq/cap. Já as da Indonésia foram pouco mais de metade desse valor (4.47t CO²eq/cap).

As alegações do agora eurodeputado Tânger Correia sobre as emissões da UE são desmentidas pelos dados publicados pela própria UE.

Quanto à segunda alegação, facilmente se percebe que não tem fundamento quando os próprios dados da União Europeia verificam que a mesma é uma das seis maiores emissoras mundiais. Ainda assim e por uma questão de dupla verificação, o site VisualCapitalist mostra que, em 2021, só o Luxemburgo aparece em 19º lugar com emissões na ordem das 13 toneladas per capita, enquanto a Indonésia surge no número 129, com emissões de 2.3t per capita.

No caso da terceira alegação, os dados acima mencionados são já suficientes para aferir que esta também não é verdadeira, uma vez que a União Europeia é um dos maiores contribuintes mundiais para as emissões carbónicas. E também a agência do ambiente americana (EPA) mostra dados similares.

Com efeito, o conjunto dos 27 países da UE era, em 2020, o quarto maior emissor de carbono mundial, atrás da Índia, EUA e China. O site World Resources Institute confirma igualmente estes indicadores, mostrando, por exemplo, que a Turquia aparece em 2019 no 16º lugar de emissores globais, com cerca 488 toneladas métricas de carbono emitido para a atmosfera.