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Miguel Judas

Joana Schenker: “a minha causa é o mar, devo-lhe tudo que sou hoje”

26 Sep 2023 - 05:24
Campeã mundial de bodyboard e com quase 50 mil seguidores na rede social Instagram, a atleta portuguesa tem aproveitado a notoriedade mediática para ser uma voz ativa em defesa dos oceanos. Em parceria com a Oceanário de Lisboa e Fundação Oceano Azul desenvolveu o projeto Schenker School Tour, através do qual tem partilhado com os jovens das escolas portuguesas a experiência de atleta profissional, ligada à literacia do Oceano.

Como é que o Bodyboard surgiu na sua vida e de onde vem a esta enorme paixão pelo mar?

O mar sempre fez parte da minha vida, desde criança lembro-me de passar muito tempo na praia a brincar com as ondinhas. Mais tarde descobri o bodyboard, aos 13 anos com os meus amigos da escola, nunca mais parei. Sagres e toda a zona de Vila do Bispo tem uma longa tradição nesta modalidade e foi bastante natural começar a praticar também, a prancha de bodyboard abriu-me uma nova porta para aproveitar o mar e as ondas de uma forma mais intensa.

Uma paixão que acaba por ser um pouco mais que isso, pois é uma incansável ativista na defesa dos oceanos. Considera importante que personalidades conhecidas, como desportistas ou artistas, assumam um papel mais ativo na defesa das causas em que acreditam?

Acho que é fundamental, sinto-me responsável pelo oceano e quero tentar retribuir um pouco de tudo o que ele me deu. Acredito que a principal função de um atleta profissional é inspirar os outros, principalmente os mais jovens e devemos usar a nossa voz para contribuir de forma positiva e ativa na sociedade. A minha causa é o mar, pois devo-lhe tudo que sou hoje.

Joana Schenker, 35 anos, começou a praticar bodyboard aos 13, em Vila do Bispo, e foi a primeira portuguesa a sagrar-se campeã mundial desta modalidade Foto: Francisco Pinheiro

Quais são os principais problemas com que nos debatemos no que à poluição marítima diz respeito e como os poderemos inverter, se é que ainda vamos a tempo disso?

Vamos sempre a tempo de fazer melhor! Todas as nossas ações do dia-a-dia têm consequências diretas na saúde do Oceano. Digo sempre que proteger o mar começa em casa! Reduzir o plástico de uso único, optar por menos embalagens e por reutilizáveis como por exemplo garrafas retornáveis, nunca deitar plásticos como por exemplo cotonetes para a sanita. Usar proteção solar certificada “amiga dos corais”, apanhar lixo na praia mesmo que não seja nosso… Pequenas ações que vão longe quando muitas pessoas as fazem. A indústria da pesca também tem um impacto enorme na saúde do oceano, aliás a questão da sobrepesca é urgente e mesmo muito do lixo marinho é derivado da indústria da pesca. Preferir peixe apanhado de forma seletiva e artesanal, ter muita atenção aos rótulos quando se compra peixe congelado (de onde vem, como foi pescado, etc…), reduzir o consumo de peixe e marisco no geral.

Todas as nossas ações do dia-a-dia têm consequências diretas na saúde do Oceano e por isso digo sempre que proteger o mar começa em casa

Foi por isso que criou o Schenker School Tour, uma iniciativa conjunta com o Oceanário de Lisboa e a Fundação Oceano Azul, mais direcionada para as gerações mais novas? No que consiste em concreto este projeto e que resposta tem tido por parte dos mais novos?

O “Schenker School Tour” foi uma iniciativa lançada pelo Oceanário de Lisboa e Fundação Oceano Azul. No fundo desafiaram-me a partilhar a minha experiência de atleta profissional ligada à literacia do Oceano com os jovens nas escolas portuguesas. A minha palestra tem como principal objetivo motivar e inspirar uma atitude proactiva na proteção do mar. Já dei mais de 1 centena de palestra e mais de 12700 alunos assistiram de norte a sul de Portugal. É uma ação gratuita e as escolas interessadas podem se inscrever no meu website, em joanaschenker.com.

 

Já deu mais de uma centena de palestra a mais de 12700 alunos do norte a sul de Portugal Foto: Francisco Pinheiro

Sendo praticante e profissional de uma modalidade ainda vista como masculina, como vê a luta pela igualdade de género dentro do desporto de alta competição? É uma causa que também abraçou?

É uma causa impossível de ignorar sendo uma atleta num desporto ainda maioritariamente masculino. A verdade é que estamos lentamente a caminhar na direção certa mas ainda estamos longe da igualdade, desde o prize Money, muito inferior, às condições de ondas em que competimos, à exposição mediática ou ao acesso a patrocínios. É importante envolver todas as vertentes do desporto no caminho para a igualdade, organizações, fãs, atletas etc…

 

Quando deixar a competição, o ativismo é para continuar?

Eu já nasci ativista e um dia quando deixar a competição ainda vou ter mais tempo para me dedicar às causas que me estão junto do coração!