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Bernardo Simões de Almeida

Frederico Barreiro: “o tempo de vida dos ECOblocos poderá ser superior a 100 anos”

22 May 2024 - 09:00
A Cânhamor é uma empresa portuguesa que aposta na produção de ECOblocos, um material de construção alternativo e sustentável à base de cânhamo, com inúmeras aplicações para o setor da construção civil. O Green eFact falou com Frederico Barreiro, um dos quatro fundadores da empresa que, apesar de recente, já foi distinguida por duas entidades distintas pela capacidade de inovação.

Como nasceu este projeto?

Nasceu da vontade de transformar o sector da construção num sector mais amigo do ambiente. O sentido de urgência nesta mudança acabou por ser o grande dinamizador deste projeto.

 

Quanto tempo foi necessário desde a ideia inicial até hoje?

Passaram 3 anos e foi processo foi constituído por diversas etapas, tais como: desenvolvimento e certificação do produto; preparação e “educação” do mercado; e, por último, o investimento e implantação de uma nova fábrica, que nos dará a capacidade de responder ao mercado ibérico.

 

Qual foi a etapa mais difícil?

Todos os projetos que pressupõem uma mudança de paradigma têm os seus obstáculos na mudança de mentalidades.

A nova fábrica, por ser absolutamente única no mundo e não ter por onde se replicar, exige um cuidado e responsabilidade ímpar, até pelo grande investimento que representa.

É complicado definir a etapa mais difícil neste processo porque todas tiveram os seus desafios. Por todo o impacto trazido ao mercado por este produto, podemos dizer que o saldo foi bastante positivo e gratificante, mas acima de tudo estamos obviamente bastante orgulhosos por poder contribuir de uma forma tão impactante no futuro de todos.

Frederico Barreiro reconhece que “ainda é necessário desmistificar certos aspetos” relacionados com os produtos feitos à base de cânhamo.

Relativamente à matéria-prima, especificamente, o que leva cada bloco?

Cada bloco é constituído pela seguinte matéria-prima: aparas de cânhamo, cal e argila. A todos estes ingredientes é adicionada água e temos a nossa mistura pronta.

 

Existe alguma consternação legal para o cultivo?

Na nossa opinião, atualmente, a maior barreira ao cultivo do Cânhamo em Portugal acaba por ser o requisito de “compra pré-sementeira“. Ou seja, antes ainda do agricultor poder semear, ele tem que ter já um comprador assinado para o cânhamo. E foi isto que a Cânhamor veio revolucionar em Portugal, uma vez que a partir do final de 2024 vamos passar a ser também indústria transformadora. Com a nova unidade fabril teremos a capacidade de receber diretamente o cânhamo do campo e transformá-lo nas diferentes matérias-primas associadas como: apara, fibra e pó. Conseguimos, assim, garantir a compra da cultura produzida pelos nossos agricultores parceiros.

Este ano já foram plantados cerca de 250 hectares, mas esta nova fábrica terá capacidade para processar o equivalente a 1500 hectares/ano, por isso ainda há muita margem de progressão para o futuro.

 

Qual é a área de cultivo mínima para ser rentável?

Vai depender muito das condições iniciais de cada agricultor e do respetivo terreno.

Apesar do ano passado termos já feito alguns testes de cultivo, é diferente plantar cânhamo à escala industrial do que em testes. Dessa forma, só quando a colheita atual acabar, é que teremos dados da realidade portuguesa, uma vez que não se cultiva cânhamo à escala industrial há várias décadas em Portugal.

Dito isto, este ano estabelecemos uma área mínima de 20 hectares para fazer parcerias. É sempre necessário reforçar que dependerá das condições pré-existentes do próprio agricultor e do terreno.

O investimento numa nova fábrica significa um aumentona capacidade de produção da empresa, que segundo Frederico Barreiro dará capacidade de responder às necessidades do mercado nacional e espanhol.

Qual é a duração média deste betão e as suas possíveis aplicações?

Embora este material já exista há algumas décadas, no mundo da construção acaba por ser algo relativamente novo. Em Portugal então, é extremamente novo! Dito isto, estamos a apontar 75-100 anos de vida útil. Apesar das nossas casas serem todas recentes (mais ou menos 2 anos), baseamos estes valores na experiência estrangeira (especialmente Canadá e França, países que possuem climas mais rigorosos) e em estudos científicos. Alguns estudos até consideram que o tempo de vida deste material poderá ser superior a 100 anos! Daqui a umas décadas teremos mais certezas.

 

Como explica a afirmação de que este material é um repelente natural?

Os nossos ECOblocos têm “um repelente natural” devido aos próprios componentes orgânicos do Cânhamo (como os terpenos). Contudo, este não é o único componente que contribui para este benefício, também o elevado pH obtido pelo uso da Cal Hidráulica, faz com que as pragas (ratos e insetos) não tenham qualquer “interesse” no nosso material.

 

Foram recentemente os vencedores dos prémios Tektónica e Consulai, quall foi a sensação?

Estamos muito orgulhosos de termos recebido estes dois prémios, são o resultado de todo o trabalho que temos desenvolvido nestes últimos 3 anos. Pretendemos continuar a inovar e a trabalhar para sermos cada vez mais reconhecidos, como uma empresa inovadora, sustentável e que pensa no futuro, principalmente das gerações vindouras.

Com os ECOblocos são retiradas inúmeras operações em obra, uma vez que representam “toda uma nova forma (mais simples) de construir”.

Será de facto possível que o betão de cânhamo seja uma alternativa em larga escala?

O investimento na nova fábrica significa um aumento incrível na capacidade de produção, que nos dará a capacidade de responder às necessidades do mercado, não só nacional, mas também espanhol.

Acreditamos com toda a convicção que a construção com os ECOblocos será o novo “normal”.

 

Como tem sido a adesão por parte da indústria?

A indústria apresenta-se recetiva aos nossos ECOblocos. Passados 2, 3 anos, a Cânhamor já não é um sonho, mas sim uma certeza, visto que podemos contabilizar mais de 60 casas concluídas e mais de centenas em processo construtivo.

 

Que desafios/dificuldades haverá para que isso seja uma realidade?

Apesar da recetividade que temos sentido por parte do sector, ainda é necessário desmistificar certos aspetos do nosso produto, tal como o seu método de aplicação. Mesmo podendo ser colocado de forma muito prática e rápida, ainda existe algum desconhecimento.

Com os ECOblocos, são retiradas inúmeras operações em obra, é toda uma nova forma (mais simples) de construir.

Acreditamos que, muito rapidamente, os ECOblocos serão considerados um material standard em qualquer obra.