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Sara Pinho

Que empregos podem surgir com a transição energética?

7 Feb 2024 - 10:00
Devido à transição energética, haverá postos de trabalho na indústria fóssil potencialmente afetados e profissões que irão desaparecer para dar lugar a outras: a nível mundial, podem vir a ser criados 24 milhões de novos empregos. E em Portugal podem vir a nascer até 250 mil.

Para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius, os países signatários do Acordo de Paris comprometeram-se a reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa, o que implica apostar veementemente na transição e eficiência energética e na mobilidade sustentável, procurando fontes de energia mais limpas.

De acordo com o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050), Portugal terá de reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em mais de 85%, relativamente a 2005, para atingir a neutralidade carbónica, sendo possível atingir este objetivo com efeitos positivos na economia e na empregabilidade.

Se, por um lado, haverá setores ligados à indústria fóssil potencialmente afetados pela transição energética e profissões que irão desaparecer, por outro, o mercado de trabalho vai sentir transformações com a criação de um grande número de novos empregos e de formações especializadas.

Os setores ligados à indústria fóssil serão os potencialmente mais afetados pela transição energética.

O relatório “Work for a brighter future”, conduzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2019, diz-nos que, a nível mundial, podem vir a ser criados 24 milhões de novos postos de trabalho até 2030, resultantes da implementação das políticas para lidar com a crise climática e o fomento de uma economia mais sustentável

Em Portugal, as estimativas do relatório da campanha “Empregos para o Clima” apontam para a criação de entre 200 a 250 mil novos empregos, nomeadamente nos setores da produção energética, transportes, edifícios, indústria, agricultura, resíduos e floresta, sem deixar de parte a requalificação e a formação profissionais. Atualmente, é a indústria de painéis solares que mais recruta em Portugal.

A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável destaca as áreas da engenharia, consultoria, ciência de dados, investigação e desenvolvimento, assistência técnica e outras que incluam formação em construção sustentável.

Atualmente, é a indústria de painéis solares que mais recruta em Portugal.

Com base no relatório “Empregos para o Clima” e o contributo da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável para este artigo, estes são alguns dos empregos que podem vir a ganhar expressão nos próximos anos:

 

Energias Renováveis

A área da engenharia é uma das que se destaca no setor das energias renováveis. Nela cabe, por exemplo: o desenvolvimento e implementação de sistemas de energia solar, eólica, geotérmica ou da biomassa; o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia; o desenvolvimento e operação de sistemas elétricos inteligentes (as chamadas redes inteligentes, ou “smart grids”, em inglês).

A Zero inclui ainda a engenharia de reciclagem dos componentes de tecnologias de energias renováveis, a engenharia do hidrogénio verde e a engenharia civil como ramos relevantes.

A área da engenharia é uma das que se destaca no setor das energias renováveis.

Transportes

No setor dos transportes, será fundamental, por exemplo: a construção, renovação e eletrificação da ferrovia, bem como a construção de novas paragens e apeadeiros; postos de abastecimento para carros elétricos e ciclovias; o fabrico de bicicletas, locomotivas elétricas e autocarros elétricos; a manutenção e prestação dos serviços de transporte público (requerendo condutores, inspetores, mecânicos e administradores).

A construção, renovação e eletrificação da ferrovia, bem como a construção de novas paragens e apeadeiros, serão algumas das áreas em destaque no setor dos transportes.

Edifícios

No setor dos edifícios, a engenharia civil e a construção civil vão ser necessárias para o desenvolvimento e aplicação de tecnologias inovadoras e eficientes de construção, como a impressão 3D, e para a construção ou reciclagem de edifícios que minimizem o uso de energia. Serão ainda necessários projetistas e pessoal técnico para a gestão e fiscalização de obras.

Na construção civil vão ser necessário o desenvolvimento e aplicação de tecnologias inovadoras e eficientes, como a impressão 3D.

Indústria

No setor da indústria, é possível criar empregos para: fabrico e instalação de máquinas industriais elétricas; elaboração de projetos de adaptação da indústria; gestão, inspeção e fiscalização.

No setor da indústria serão necessários projetos de adaptação a um novo paradigma.

Agricultura

Aliado ao setor da alimentação, o setor agrícola poderá ramificar-se da seguinte forma: mão-de-obra nas práticas agroecológicas; projetos-piloto em agricultura biológica, agricultura urbana, agroecologia e agrofloresta; certificação e controlo de práticas; nutrição e cozinha vegetariana ou macrobiótica; aproveitamento do desperdício alimentar.

No setor agrícola irão surgir novos projetos-piloto em agricultura biológica e em agricultura urbana.

Resíduos e Economia Circular

Neste setor, haverá espaço para: a conceção e o design de produtos (como embalagens, eletrodomésticos e vestuário), aliado à área da investigação e do desenvolvimento; a gestão de procura e compras; a reparação; a recolha dos resíduos e do lixo; a compostagem municipal e reciclagem.

A compostagem municipal e a reciclagem continuarão a ser uma aposta na área dos resíduos e da economia circular.

Floresta

A gestão florestal assume especial relevância, sendo que as medidas de criação de emprego podem passar pela realização de cadastro florestal, pela contratação de mais vigilantes da natureza e guardas florestais e pelo reforço do combate aos incêndios, através da contratação de bombeiros profissionais.

A gestão florestal assume especial relevância num mundo descarbonizado, que obrigam à criação de novos empregos nesta área.

A associação Zero refere ainda vários empregos na área da consultoria, essenciais para, por exemplo, a promoção de soluções sustentáveis para o ambiente, como a consultoria na gestão de projetos ambientais; a monitorização e gestão relacionadas com a energia dentro de uma empresa, tendo também em conta a própria sustentabilidade empresarial; a consultoria jurídica ambiental; a arquitetura sustentável; o urbanismo; e o marketing verde.

Relativamente à ciência de dados, a associação sugere empregos de análise e auditoria de eficiência energética, assim como de análise de dados de desempenho ambiental.

Transversal a todos os setores será, por fim, a criação de postos de trabalho de assistência técnica: técnicos de serralharia, eletricidade, eletrónica, informática e química; técnicos de energia solar e eólica, de climatização e refrigeração e de baterias; e técnicos de segurança e saúde no trabalho.