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Miguel Judas

Quanto tempo temos para inverter as alterações climáticas?

5 Jun 2024 - 09:23
No dia mundial do Meio Ambiente recordamos o aviso feito há pouco mais de um mês por Simon Stiell, secretário da Convenção das Alterações Climáticas da ONU, que alertou para o facto de termos “apenas dois anos para evitar os efeitos mais graves das alterações climáticas”, acusando os países do G20 de serem os responsáveis por 80% dos gases com efeito estufa emitidos para a atmosfera. Mas quanto tempo nos resta afinal e o que podemos fazer entretanto?

Apesar de os cientistas não se cansarem de alertar que é imperativo reduzir para metade, até 2030, as emissões de gases com efeito de estufa que causam as alterações climáticas, a vontade política (e económica) para o fazer ainda está aquém do necessário, para travar um aumento da temperatura média do planeta superior a 1,5 graus Celsius, considerado crucial pela comunidade científica para inverter a caminhada rumo ao abismo.

E tempo é algo que já começa a escassear, como alertou recentemente o secretário da Convenção das Alterações Climáticas da ONU, o granadino Simon Stiell, afirmando que o mundo tem “apenas dois anos para evitar os efeitos mais graves das alterações climáticas”.

De facto e de acordo com o relatório da avaliação global da aplicação do Acordo de Paris, apresentado em setembro de 2023, o mundo emitiu quase mais 24 gigatoneladas (milhões de toneladas) de CO2-eq do que seria necessário para o aquecimento não ultrapassar a trágica meta dos 1,5 graus.

De acordo com o relatório da avaliação global da aplicação do Acordo de Paris, só em 2022 o mundo emitiu quase mais 24 gigatoneladas (milhões de toneladas) de CO2-eq do que seria necessário para o aquecimento não ultrapassar a trágica meta dos 1,5 graus.

Segundo um artigo publicado no site Our World in Data, uma organização que tem como missão promover o conhecimento baseado em dados e investigações oficiais, e que cita um estudo realizado pelo professor inglês Piers Forster, diretor do Priestley International Centre for Climate da Universidade de Leeds, para termos 50% de hipóteses de limitar as temperaturas a 1,5°C, poderíamos emitir mais 250 mil milhões de toneladas de CO2. Mesmo assim, ainda haveria 50% de possibilidades de ultrapassarmos essa meta. Já para termos 83% de probabilidades de permanecer abaixo do limite dos 1,5 graus, “o mundo só poderia emitir 100 mil milhões de toneladas”.

Ora, no Acordo de Paris ficou estabelecido o objetivo de manter o aumento da temperatura média global “bem abaixo dos 2°C” e “prosseguir esforços para limitar o aquecimento a 1,5°C”. E neste estudo os investigadores liderados por Peirs Forster quiseram estimar quanto mais CO2 poderia ser emitido para manter as temperaturas abaixo de 1,5°C e 2°C – o chamado de “orçamento de carbono” mundial.

As estimativas mais recentes foram publicadas em 2023 e “baseiam-se na quantidade que poderia ser emitida a partir do início desse ano”. Segundo o estudo e tendo em conta que foram emitidas 41 mil milhões de toneladas de CO2 em 2022, “para termos 50% de probabilidade de permanecermos abaixo de 1,5°C, só poderão ser emitidas 250 mil milhões de toneladas”. O que significa “apenas seis anos ao nível das emissões atuais”.

O orçamento para a meta dos 2°C, por sua vez, é significativamente maior: “com 50% de probabilidade, o mundo poderia emitir 1150 mil milhões de toneladas”, o que “equivale a cerca de 28 anos de emissões atuais”. Já “para uma probabilidade de dois terços, o prazo é de 23 anos”.