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Pureza Fleming

Qual o impacto dos smartphones no ambiente – e porque os devemos reciclar?

2 Mar 2024 - 10:00
É impossível imaginar a vida de hoje sem os smartphones, mas a realidade é que, na hora do descarte, também os problemas se acumulam. Vários estudos apontam que os aparelhos são abandonados, em média, apenas dois anos e meio após a compra.

Estima-se que, em todo o mundo, o número de smartphones seja de cerca de 7 mil milhões. Só neste preciso minuto 5002276 smartphones foram vendidos em todo o mundo. O aumento mais significativo de vendas ocorreu em 2017, quando se registou um aumento de 20,9% no número de utilizadores de smartphones.

Até 2027 prevê-se que o mercado atinja um valor de 795,3 mil milhões de dólares, demonstrando uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 9,5% durante o período de 2020 a 2027.

Empilhados uns sobre os outros, um mar de telemóveis inutilizados seria capaz de atingir uns impressionantes 50 mil quilómetros, mais de cem vezes a altura da Estação Espacial Internacional, descobriu o consórcio de pesquisa WEEE.

“Os smartphones são um dos produtos eletrónicos de maior preocupação para nós”, afirmou Pascal Leroy, Diretor Geral do Fórum WEEE, uma associação sem fins lucrativos que reúne quarenta e seis organizações de responsabilidade do produtor e se apresenta como “o maior centro de competência mundial respeitante ao know-how operacional e de gestão de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE)”.

Se todos os telemóveis descartados fossem empilhados, atingiriam a impressionante altura de 50 mil quilómetros.

Os telemóveis obsoletos são apenas a ponta do icebergue de 44,48 milhões de toneladas de lixo eletrónico global gerado anualmente e que não é reciclado, de acordo com o Monitor Global de Lixo Eletrónico de 2020.

Cerca de 1,5 mil milhões de smartphones são vendidos anualmente, e quase o mesmo número é desativado durante esse período.

Com volumes tão expressivos, os telemóveis antigos tornaram-se na categoria de lixo eletrónico de crescimento mais rápido. Apesar de conterem ouro, cobre, prata, paládio e outros componentes recicláveis valiosos, quase todos estes dispositivos indesejados são, por norma, acumulados, despejados ou incinerados, causando danos significativos à saúde e ao ambiente.

Em todo o mundo, estima-se que o atual número de smartphones seja de cerca de 7 mil milhões.

Apesar de tudo, efetuar uma mudança significativa e evitar a poluição ao reciclar um telemóvel é hoje, possível. Graças a tecnologias inovadoras, até 80% dos materiais utilizados nos telemóveis podem ser reciclados e reutilizados.

Esta reciclagem proporcionaria:

Menor poluição – Os telemóveis contêm materiais perigosos como chumbo, mercúrio, arsénio, cádmio e bromo. Quando os telemóveis são descartados e incinerados, esses metais tóxicos são libertados no ambiente, causando poluição. Quando não são incinerados, acabam por contaminar lentamente o solo, os recursos hídricos e os aterros. Com a estatística de um novo telemóvel a cada 18 meses, os materiais tóxicos acumulam-se, acelerando a destruição do ambiente. A reciclagem permite que tais materiais sejam reaproveitados sem poluir o ambiente.

Maior poupança de energia – Um telemóvel reciclado poupa energia suficiente para carregar um portátil por cerca de 44 horas. Com um recorde de 130 milhões de telemóveis descartados anualmente, se fossem reciclados, poderiam gerar energia suficiente para abastecer mais de 24,000 casas por ano.

Menor mineração – Os telemóveis são compostos por minerais valiosos que se estão a tornar cada vez mais escassos, mas podem ser recuperados através da reciclagem. Segundo um artigo da BBC, um milhão de telemóveis contém quase 16 toneladas de cobre, 350 kg de prata, 34 kg de ouro e 15 kg de paládio. Se todos fossem reciclados, tal poderia diminuir a extração destes minerais para a fabricação de novos telemóveis.

Prevenção de problemas de saúde – Os materiais tóxicos presentes nos telemóveis não causam apenas poluição ambiental, também podem representar graves preocupações de saúde para animais e seres humanos. Por exemplo, o chumbo é conhecido por causar cancro e afetar as funções cognitivas em humanos. Já o mercúrio pode ser fatal para os animais e causar problemas sensoriais graves, fraqueza muscular ou perda de memória.

Até 80% dos materiais utilizados nos telemóveis podem ser reciclados e reutilizados.

Por outro lado, um grupo de investigadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, publicaram um artigo no qual propõem uma alternativa revolucionária: ressuscitar smartphones

“É preciso uma quantidade espetacular de energia para fabricar tecnologia de computador moderna e de alto desempenho. O artigo explora como tornar a computação mais sustentável, encontrando novos usos para dispositivos pelos quais a sociedade já pagou um custo de carbono, resultante do seu fabrico”, avançou o professor Pat Pannuto, que liderou a investigação.

A ideia é “dar vida” a mil milhões de smartphones descartados e reimplantá-los como processadores funcionais, que podem ser utilizados, por exemplo, em sites de comunicação social e como sensores de monitorização da vida selvagem.

A pesquisa sugere ainda que os computadores antigos e sem uso podem aumentar a capacidade de computação global e, ao mesmo tempo, suplantar a fabricação de novos dispositivos.

“Para dispositivos com vida útil mais curta, como smartphones, 80% ou mais da pegada de carbono ao longo da vida vem da energia gasta para fazer o dispositivo, não da energia que este usa para funcionar. Com tantos telefones, laptops e desktops antigos a acumular pó por aí, temos de lhe conseguir encontrar uma segunda vida útil”, conclui o académico.