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Joana Ramiro

Qual o impacto ambiental de um bebé?

10 Jan 2024 - 10:00
Se para muitos, o início de um novo ano traz consigo um rol de resoluções, para tantos outros serve de incentivo à tomada de grandes decisões: como ter um bebé. Não será aliás por acaso que o mês de setembro regista quase sempre o maior número de nascimentos em Portugal. Mas para quem se preocupa com o ambiente, ter um filho continua a ser um grande dilema.

Uma pesquisa publicada em 2023 pela universidade inglesa UCL, descobriu que em cada 12 de 13 estudos sobre o declínio na natalidade, a ansiedade relacionada com a crise climática estava na base da decisão de não ter filho.

Em 2019, um grupo de ativistas climáticos lançou mesmo o movimento Birth Strike, que propunha repudiar a reprodução até que líderes mundiais tomassem a crise climática a sério.

Mas qual é, na verdade, o impacto ambiental de um bebé? Um estudo de 2008 mas ainda hoje várias vezes citado, sugere que o nascimento de um filho pode adicionar até 9441 toneladas métricas de CO2 à média de emissões de uma mulher num país industrializado. Um valor equivalente às emissões de 2100 carros a gasolina num ano de circulação.

Outro estudo, desta vez de 2017, indica que o simples ato de se ter uma criança a menos tem um impacto muito maior na nossa pegada anual de carbono do que qualquer outra alteração no estilo de vida. Prescindir de um voo de longo curso: redução em 1.6 toneladas métricas de CO2. Abdicar do uso de veículos a gasolina: redução em 2.4 toneladas métricas de CO2. Ter um filho a menos: redução em 58.5 toneladas métricas de CO2.

A ansiedade relacionada com a crise climática está cada vez mais na base da decisão de não ter filhos

Vários cientistas têm, no entanto, vindo a ver estes números como inflacionados ou feitos com base em cálculos estáticos, que não tomam em conta a descarbonização do nosso sistema económico. O alcançar da neutralidade carbónica, por exemplo, alteraria em muito o impacto que o nascimento de uma criança tem no ambiente.

O mesmo estudo de 2017, publicado na revista Environmental Research Letters, sugere que se os Estados Unidos chegassem ao carbono zero, a decisão de ter um filho a menos seria o equivalente à redução anual de 1.4 toneladas métricas de CO2 por indivíduo.

Todavia, não se pode negar que um bebé tem atualmente um impacto ambiental significativo, principalmente se não houver um repensar das escolhas de consumo relacionadas com a criança.

Um bebé pode utilizar até 2500 fraldas e 3000 toalhitas por ano, sendo que uma fralda descartável demora em média 500 anos e uma toalhita cerca de 100 anos a decompor. Para além disso, a maior parte dos produtos de higiene e alimentação infantil vem ainda em invólucros e embalagens não recicláveis, aumentando assim o número de plásticos que flagelam o meio ambiente.

Todos os anos mais de 200 mil toneladas de roupa são deitadas fora em Portugal, uma parte considerável sendo roupinhas de bebé e criança. Isto porque as roupas de criança rapidamente deixam de servir e o hábito de compra de vestuário infantil em segunda mão só agora se começou a normalizar.

Também os brinquedos têm o seu quê de culpa. Segundo um relatório do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), “a indústria de brinquedos é a indústria que mais plástico utiliza no mundo”. Cerca de 90% dos brinquedos produzidos mundialmente são feitos de plástico. E, infelizmente, 80% de todos os brinquedos – e o plástico de que são feitos – acabam em aterros e lixeiras.

Uma fralda descartável demora em média 500 anos e uma toalhita cerca de 100 anos a decompor

Há no entanto que relembrar que as emissões de dióxido de carbono não se podem culpar diretamente à existência de seres humanos, e sim a um sistema económico que depende ainda maioritariamente de combustíveis fósseis, da desflorestação e da agricultura e pecuária intensivas.

Segundo uma pesquisa publicada em 2014 pela revista científica PNAS, mesmo que se impusesse uma política de filho único à escala mundial, a população do planeta seria ainda assim de cerca de 7 mil milhões em 2100. Um número que dentro do sistema atual continuaria a emitir um valor exorbitante de CO2.

Se está a pensar ter um bebé, ou se o mesmo já vem a caminho, há várias alternativas mais sustentáveis aos produtos necessários às rotinas dos pequeninos.

Pode optar por fraldas de pano reutilizáveis ou fraldas descartáveis feitas de materiais biodegradáveis como o bambu. O mesmo se aplica às toalhitas, que podem ser substituídas por toalhas turcas humedecidas ou discos de bambu reutilizáveis. Também já há no mercado opções de toalhitas descartáveis feitas sem plástico.

Quanto às refeições, tanto organizações ambientais como nutricionistas recomendam que se dê aos bebés e crianças apenas alimentos não processados, preparados em casa ou na hora. Todos os restantes conselhos nesta área são os mesmos dados a adultos e demais. A compra de alimentos deve ser feita tendo em conta a origem do produto e a sua pegada de carbono (como a escolha de frutos sazonais em vez dos importados), a produção biológica e os materiais utilizados no seu acondicionamento e transporte para casa.

Deve também lembrar-se de que, mesmo que a redução de plástico na sua cozinha seja importante, a reutilização de artigos existentes pode ser uma solução mais ecológica do que a sua imediata e total substituição por peças ou recipientes novos.

Se está a pensar ter um bebé, ou se o mesmo já vem a caminho, há várias alternativas mais sustentáveis aos produtos necessários às rotinas dos pequeninos

No que toca a brinquedos, roupinhas e demais acessórios – berços, cadeirinhas, etc – já estão disponíveis várias plataformas online de compra e venda de produtos infantis em segunda mão. Desde a Vinted e a OLX, à Kid to Kid, BabyLoop e 3Ciclo, há opções para diversos gostos e carteiras.

E se quiser mesmo comprar algo novo, também já temos no mercado português lojas de brinquedos ecológicos e sustentáveis. Basta procurar no seu motor de pesquisa de eleição.