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Bernardo Simões de Almeida

Qual é a pegada carbónica das grandes empresas de tecnologia?

12 Mar 2024 - 10:00
As grandes empresas de tecnologia, como a Amazon, a Microsoft ou a Apple, são responsáveis pela inovação em larga escala que nas últimas décadas revolucionou o nosso dia-a-dia. Porém, apesar das soluções que oferecem – ou devido a elas – têm pegadas carbónicas bastante altas e com isso contribuem também para o aquecimento global.

De acordo com um relatório do Think-Tank francês, the shift project, o sector da tecnologia é responsável por 3.5% das emissões totais de CO² e tem um consumo de energia que sobe 6% todos os anos.

Existem as contribuições diretas, resultantes do consumo de combustível e fabricação de produtos. Juntam-se as contribuições indiretas como o consumo de energia de uma determinada empresa de tecnologia e ainda o terceiro fator de emissão que se prende com o consumo dos produtos por parte dos utilizadores.

Os centros de processamento de dados (data centres) são aqueles que mais energia consomem, cuja estimativa é de 240 a 330 TWh por ano. Este consumo é largamente produzido como recurso a combustíveis fosseis.

Recorde-se também os modelos de negócio atuais relativos aos produtos de consumos maciço e a sua obsolescência planeada. Não raras vezes, as empresas têm já no horizonte melhores produtos que desde cedo criarão vontade por parte do consumidor em adquiri-los. Consequentemente, o E-desperdício é gerado. Só no ano de 2019 foi produzido mais de 50M de toneladas métricas de desperdício.

Os centros de processamento de dados (data centres) são aqueles que mais energia consomem, entre 240 a 330 TWh por ano.

As empresas de tecnologia, como é o caso da Amazon, produzem mais emissões do que certos países. Se tivermos em contas as emissões diretas, indiretas e terciárias, este gigante da tecnologia produziu, em 2022, cerca de 71M de toneladas métricas, mais 1M do que Singapura e mais 50M do que a Eslovénia. Isto apesar de 90% das suas operações serem conduzidas com acesso a energias renováveis.

As empresas que recorrem ao método de entrega no próprio dia (Same Day Delivery) , cujo volume de negócio, de acordo com a Business Research Company, ultrapassa já os 9 biliões de dólares, aumenta em cerca de 15%  as emissões de gases nocivos. Isto é devido ao aumento significativo de veículos associados ao sector. Estima-se, de acordo com o relatório da Green Last Mile Europe, que este sector da indústria E-commerce atinja uma pegada de 5,5M de toneladas métricas em 2032.

O próprio consumidor contribui também paras emissões de CO², ainda que de forma indireta ou terciária. Com efeito, os produtos derivados da indústria eletrónica, como sejam as Smart TVs, Tablets ou Smarthpones, fazem, atualmente, parte do quotidiano à escala global.

Estima-se que em 2025, estes e outros produtos similares, sejam responsáveis por 2.8% do consumo elétrico mundial, consumo este que ainda é gerado por combustíveis fosseis. Curiosamente, 40% deste consumo é feito pelos produtos quando estão em stand by.

A Amazon produz mais emissões do que certos países. Este gigante da tecnologia produziu, em 2022, cerca de 71M de toneladas métricas, mais 1M do que Singapura e mais 50M do que a Eslovénia.

A emissão causada por aparelhos eletrónicos subiu 53% entre 2014 a 2020, de acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, publicado na Circular Economy, e gerou 580M de toneladas métricas de CO² para a atmosfera terrestre. Há ainda que considerar um outro aspeto, a concentração de metais no ar, água e solo, resultantes da utilização e despojo dos aparelhos.

A pegada ambiental das redes sociais é mais um sector preocupante, uma vez que cada vez mais pessoas as utilizam e cada utilizador passa mais tempo a consumi-las. Um estudo feito pela Greenspector, em França, demonstra que a rede social com maior pegada é a empresa chinesa Tik-Tok – consome 22.4 mAh só para abrir e lança 5MB de dados durante os primeiros 30s de utilização.

De acordo com este o mesmo estudo, cada pessoa passa cerca de 115 minutos, em média, a fazer scrolling numa rede social a cada dia, o equivalente, no caso da Tik-Tok, a 110g de CO². Se esta média se mantiver durante um ano, a pegada ambiental só desta empresa, é de 40kg de carbono.

A indústria da criptomoeda traz também consigo a nefasta contribuição para emissão global de gases estufa. A Universidade de Cambridge conclui, no seu estudo sobre o impacto ambiental da Bitcoin, que desde o seu lançamento, esta criptomoeda já emitiu quase 200M de toneladas métricas.

Apesar dos acordos de Paris, e das promessas de redução de emissões, o chamado net-zero é ainda uma total uma incerteza.