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Miguel Judas

Qual é a pegada carbónica do email e do SMS?

16 Feb 2024 - 10:00
Aparentemente inofensiva, a comunicação via e-mail ou sms tem um preço ambiental pago em centenas de toneladas de carbono emitidas para a atmosfera. Como o tudo o resto que acontece na internet, a atual dependência do ciberespaço também tem uma consequência que perdura no tempo.

Segundo um artigo publicado no site da Universidade das Nações Unidas, a respeito da reedição do livro How bad are bananas – the carbon footprint of everything, da autoria do investigador britânico Mike Berners-Lee, um utilizador médio da internet contribui para um total global de emissões de 360 milhões de toneladas de carbono.

Isto apenas com o enviar de alguns e-mails ou mensagens de texto, a que se juntam as habituais pesquisas diárias em qualquer motor de busca. A este número acresce ainda outro, de 130 milhões de toneladas, correspondentes à energia necessária para manter armazenada toda a crescente quantidade de dados existente na rede.

De acordo com a 8 Billion Trees, a pegada carbónica anual de um utilizador médio do serviço de e-mail é de 0,6 toneladas, o que só por si representa o mesmo valor de emissões totais de um habitante da África Central. Quem tiver dúvidas pode até experimentar a “calculadora de pegada de carbono de e-mail” disponibilizada no site desta empresa ambiental americana.

Portanto e embora a quantidade de energia necessária para fazer uma simples busca na internet ou enviar um e-mail seja diminuta, cerca de 4,1 bilhões de pessoas (mais de metade da população global) estão hoje conectadas online. O que significa que essa mesma diminuta quantidade de energia, bem como os respetivos gases de efeito estufa, é multiplicada por todas elas.

 

A pegada carbónica anual de um utilizador médio do serviço de email é de 0,6 toneladas, o que só por si representa o mesmo valor de emissões totais de um habitante da África Central.

Outro artigo, publicado em 2020 pela BBC, estimava que a pegada de carbono de todos os dispositivos (computadores, telemóveis, tablets e smart tvs), da internet e dos sistemas de suporte e difusão representava já cerca de 3,7% das emissões globais de gases do efeito estufa, o que seria já “similar à quantidade produzida pela indústria de aviação a nível mundial”, como explicou à estação britânica Mike Hazas, um investigador da Universidade de Lancaster, no Reino Unido. Na altura, a previsão era que estes números poderiam mesmo “duplicar em 2025”

Ainda segundo as contas da BBC, se as 1,7 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa geradas pela produção e operação das tecnologias digitais fossem divididas entre todos os utilizadores de internet do mundo, tal corresponderia à emissão de 400 kg de dióxido de carbono ao ano por cada um.

O envio de um único email curto é responsável por uma emissão de apenas 4 gramas de CO2 para a atmosfera. Mas sublinhemos aqui o curto, porque se ao mesmo adicionarmos um anexo, como um documento em PDF ou uma foto em alta resolução, a quantidade de emissões já sobe para próximo das 50 gramas.

É só pensar no número de emails que enviamos e a que respondemos por dia, para facilmente percebermos que não será um ato assim tão inócuo quanto isso. Aliás e ainda segundo o artigo da 8 Billion Trees, basta enviar 65 emails, para se atingir o mesmo número de emissões de carbono de uma pequena volta de carro, qualquer coisa como “ir ao supermercado mais próximo e voltar”.

Se ao email for adicionado um anexo, como um documento em PDF ou uma foto em alta resolução, a quantidade de emissões já sobe para próximo das 50 gramas de CO2.

Há no entanto maneira de reduzir algumas emissões, como alertou um estudo da empresa energética britânica OVO, também citado no artigo da BBC e segundo o qual bastava que “cada adulto no Reino Unido enviasse um email a menos”, a dizer, por exemplo, “obrigado”, para reduzir as emissões em cerca de 16 toneladas ao ano – “o equivalente a retirar das ruas inglesas mais de 3 mil carros a diesel”.

Outros truques para reduzir a pegada carbónica digital são substituir os anexos por links para documentos e não enviar e-mails para muitos destinatários ao mesmo tempo; além, claro, de deixar de receber e-mails que não se leem, como newsletters de supermercados ou afins.

As mensagens de texto (emojis incluídos) são o meio de comunicação digital com menos pegada carbónica.

Existem todavia diferenças entre mensagens de texto e emails. Segundo Mike Berners-Lee, “cada mensagem de texto emite cerca de 0,014 gramas de CO2”, o que acaba por representar bastante menos que os emails, mesmo quando estas são multiplicadas inúmeras vezes pelas várias conversas que temos diariamente.

Assim e sempre que for possível, o melhor é substituir o email por mensagens de texto, que emitem uma quantidade de gases de efeito estufa muito menor – estima-se que umas meras 32 mil toneladas ao ano. E até podem incluir um sorridente emoji, cuja pegada carbónica é exatamente a mesma dos normais carateres alfanuméricos.