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Sara Pinho

Plantar água com árvores: um projeto da Project Earth para a regeneração do Rio Mira

13 Feb 2024 - 10:00
A plantação de árvores e arbustos autóctones é uma das formas de combater a escassez de água em zonas particularmente afetadas pela seca, na medida em que promove a regulação dos ciclos de água, a preservação da biodiversidade e a resiliência aos fogos, diminuindo o risco de incêndio.

Numa altura em que a escassez de água é o maior desafio ambiental que Odemira tem de enfrentar, devido às alterações climáticas, à desflorestação e às práticas locais de agricultura intensiva, a Project Earth – Associação para a Valorização Sustentável de Regiões de Convergência – uma associação local sem fins lucrativos, criada em 2017 – promoveu uma ação de plantação de árvores na freguesia de Santa Clara.

Mas não é a falta de água que assume a centralidade neste projeto. “Não queremos falar sobre a escassez de água; queremos falar sobre a água e o potencial destes territórios e lugares”, esclarece Diogo Dias Coutinho, presidente da Project Earth, ao Green eFact. E isto, a seu ver, apenas é possível com o envolvimento da comunidade.

A ação “Plantar Árvores, Plantar Água”, que decorreu em novembro de 2023, mobilizou assim a comunidade de Santa Clara durante três dias para participar no projeto colaborativo da associação, assente na reflexão sobre o território e o ambiente, na sensibilização, no empoderamento social e na recuperação de uma memória coletiva intimamente ligada ao rio Mira.

Foram plantadas mais 235 árvores de 19 espécies diferentes em Santa Clara.

Santa Clara conta agora com mais 235 árvores de 19 espécies diferentes. E porque cada ecossistema tem a sua especificidade, selecionaram-se espécies autóctones (nomeadamente árvores com maior resistência ao fogo, no caso de incêndio) e aferiu-se que locais seriam mais adequados para as receber.

Entre as espécies selecionadas, encontram-se castanheiros, ciprestes, sobreiros, azinheiras, alfarrobeiras, freixos, pereiras-bravas, loendros e sabugueiros, as quais foram plantadas em três locais diferentes da freguesia.

De acordo com a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, plantar árvores é uma das medidas que visa a preservação das florestas, responsáveis pelo sequestro de carbono, e pela promoção do papel que os sistemas naturais podem desempenhar por si mesmos, relativamente à proteção e regeneração do solo.

A escassez de água é o maior desafio ambiental que Odemira tem de enfrentar, devido às alterações climáticas, à desflorestação e às práticas locais de agricultura intensiva

Que recursos foram reunidos?

O ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas contribuiu para identificar que árvores estariam disponíveis para plantar, tendo sido a seleção das mesmas validada pela bióloga Paula Canha.

À aquisição das árvores seguiu-se a limpeza dos locais e a compra de material de suporte e de proteção, como tubos protetores, que simultaneamente possibilitam a concentração de humidade, promovendo o crescimento saudável das árvores.

Esta ação, em particular, foi desenvolvida através de um donativo privado, mas geralmente os programas que a Project Earth conduz são públicos. “O que acontece na região interior é que há pouco tecido empresarial e é difícil atrair outros apoios. As empresas não se sentem ligadas a estes lugares despovoados e, por isso, não investem aqui”, explica Diogo Dias Coutinho.

Além destes apoios, o voluntariado é também uma componente essencial para concretizar o projeto. A ação contou com o apoio de um consórcio de voluntários que juntou a CACO – Associação de Artesãos do Concelho de Odemira, a Rota Vicentina – Associação para a Promoção do Turismo de Natureza na Costa Alentejana e Vicentina e voluntários do Corpo Europeu de Solidariedade.

Entre as espécies selecionadas, encontram-se castanheiros, ciprestes, sobreiros, azinheiras, alfarrobeiras, freixos, pereiras-bravas, loendros e sabugueiros.

Que efeitos têm iniciativas destas a nível ambiental e social?

“Plantar água”, recriar uma cultura e regenerar uma região é talvez o tríptico que melhor descreve este processo regenerativo em curso no concelho de Odemira, que pretende desenvolver a relação entre o rio e as pessoas, abrindo espaço para pensar o uso da água e do solo e refletir sobre a importância de proteger a vegetação e a biodiversidade.

Diogo Dias Coutinho acredita que estas iniciativas conseguem “mudar uma cultura”, mas para isso acontecer “é preciso que as pessoas percebam a importância dos recursos hídricos e que haja uma reflexão sobre isso”.

A capacitação da população local, através de workshops e de residências artísticas para transmissão de conhecimento e aprendizagem de boas práticas, é uma das vertentes nas quais a Project Earth trabalha, de modo a que estas comunidades façam ouvir a sua voz e mostrem o poder político que têm.

Serem as próprias populações a proteger os rios e a sentir que as suas intervenções são importantes tem um efeito transformador
Diogo Dias Coutinho, presidente da Project Earth

O objetivo, a longo prazo, deste projeto colaborativo para a regeneração da região do Mira, é criar um cordão de biodiversidade que se possa alastrar a toda esta bacia hidrográfica, desde a Serra do Caldeirão, onde o rio nasce, até Vila Nova de Mil Fontes, onde desagua.