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Teresa Lencastre

Os períodos de seca vão continuar a aumentar em Portugal?

9 Apr 2024 - 09:00
As secas não só vão aumentar em Portugal nas próximas décadas como é possível que alterem o modo de vida dos portugueses. É o que antecipa um estudo recém-divulgado pela Universidade de Aveiro.

A investigação, publicada na revista Atmospheric Research, analisou dois tipos de secas: as meteorológicas, relativas à escassez de chuva, e as hidrológicas, que se referem à redução de água em fontes como aquíferos, lagos e reservatórios.

Por outro lado, incidiu sobre dois períodos diferentes – de 2006 a 2040 e de 2041 a 2075 –, considerando dois cenários de alterações climáticas, um moderado e um severo.

Em declarações ao Green eFact, os autores do estudo, João Miguel Dias e Humberto Pereira, explicam que até 2040, Portugal Continental vai ser palco de mais secas, mesmo num cenário moderado de alterações climáticas.

“Prevêem-se secas meteorológicas mais frequentes em todo o país com um aumento da duração e intensidade na região Sul. As secas hidrológicas deverão ser mais frequentes e intensas na região Norte”, esclarecem.

Os investigadores João Miguel Dias e Humberto Pereira reconhecem que “a consciencialização da sociedade portuguesa sobre a falta de água está a aumentar, mas ainda está longe do desejável”.

De 2041 a 2075, ainda no cenário moderado, espera-se que as secas por falta de chuva sejam mais fortes e longas, mas não tão frequentes no Norte do país. No cenário severo, contudo, as previsões nesse espaço temporal são mais pessimistas: “Poderemos ter secas meteorológicas mais frequentes, duradouras e intensas em especial na região Sul, e secas hidrológicas mais frequentes e intensas na zona Norte.”

As alterações no regime de secas podem alterar o modo de vida dos portugueses, dizem os investigadores, sobretudo no que ao consumo de água diz respeito. “De forma geral, a consciencialização da sociedade portuguesa sobre a falta de água está a aumentar, estando ainda longe do desejável”, referem os autores.

João Miguel Dias e Humberto Pereira apelam ainda ao “uso racional da água”, lembrando que é “o recurso mais valioso para a vida na Terra e que não é inesgotável”. Consideram portanto “fundamental existirem mudanças de hábitos e comportamentos não só na população, mas também na agricultura e indústria, para utilizarmos de forma mais eficaz e responsável este recurso tão importante e essencial.”

Os autores do estudo agora divulgado pela Universidade de Aveiro Pereira apelam a um “uso racional da água”, lembrando que é “o recurso mais valioso para a vida na Terra”.

As consequências das secas são várias, alertam. No âmbito social, podem resultar na escassez de água potável para a população. Do ponto de vista ambiental, impactam a biodiversidade, degradam o solo e aumentam o risco dos incêndios florestais. No que toca à economia, afetam setores como agricultura, o turismo e a produção de energia.

Admitindo que a agricultura é “claramente vulnerável às secas”, os académicos elencam algumas medidas para “minorar os impactos” no setor: a modernização dos sistemas de rega ou a adoção de técnicas de cultivo alternativas, como a agricultura hidropónica, que não requer solo.

Nas cidades, importa “reduzir os desperdícios do transporte de água nas redes existentes, que podem chegar, em média, aos 20-30%, e aumentar o aproveitamento das águas pluviais e a reutilização de águas cinzentas”.

Já na indústria, os autores sugerem construir edifícios capazes de recolher e armazenar águas pluviais, reutilizadas depois “nos sanitários, na rega de jardins ou na lavagem de automóveis”.

Do ponto de vista ambiental, as secas impactam a biodiversidade, degradam o solo e aumentam o risco dos incêndios florestais.

Nos últimos anos, a frequência das secas tem vindo a aumentar em Portugal, à semelhança do resto do mundo. “Um dos impactos mais gravosos das alterações climáticas é precisamente o (…) aumento da frequência e severidade de períodos de seca e escassez de água”, escreve a Agência Portuguesa do Ambiente.

O estudo da UA foi feito em colaboração com Nieves Lorenzo e Ines Alvarez da Universidade de Vigo, procurando traçar uma visão alargada das secas em toda a Península Ibérica.