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Isabel Lindim

O que significa ser um milionário pela humanidade? 

17 Apr 2024 - 09:00
Será que no futuro teremos uma geração com mais consciência de justiça e igualdade? Um grupo de multimilionários diz que sim, e para isso criaram uma plataforma onde juntam as intenções para melhorar o mundo.

O movimento começou com as declarações de Marlene Engelhorn, herdeira da multinacional BASF, uma empresa fundada por Friedrich Engelhorn em 1865, que hoje em dia tem um alargado portfólio mundial de produção na área de químicos. “Tenho este dinheiro porque o governo não cumpriu o seu mandato de garantir que a riqueza seja distribuída na sociedade de tal forma que não acabe desigualmente nas minhas mãos, só porque estou neste mundo, nesta família em particular, com este sobrenome”, disse a herdeira. E acrescentou que decidiu doar 25 milhões de euros para uma justa redistribuição. 

Marlene Engelhorn tem 31 anos e faz parte do universo paralelo das grandes fortunas. Uma notícia recente anunciou que 15 jovens com menos de 30 anos estão na lista da revista de multimilionários da Forbes de 2024 porque herdaram uma fortuna. São novas entradas nesta lista, assim como mais 141 nomes do que em 2023, perfazendo atualmente um total de 2781 ultra-ricos no mundo. 

A austríaca Marlene Engelhorn pretende doar 90% da fortuna que a avó lhe deixou, avaliada em 3,8 mil milhões de euros, e pretende um aumento de impostos para os mais ricos do mundo, grupo no qual está incluída.

Entre os 265 recém-chegados está Taylor Swift, talvez a única que teve de trabalhar para ganhar esta riqueza e estatuto. A lista do grupo júnior é encabeçada pelos irmãos irlandeses Firoz e Zahan Mistry, com uma fortuna avaliada em 4,5 mil milhões de euros, e a pessoa mais nova é Livia Voigt, com 19 anos, de nacionalidade brasileira, estudante de psicologia e herdeira da WEG, multinacional dedicada ao fabrico de motores elétricos. Talvez um dia se possam juntar ao novo projecto Milionários pela Humanidade. 

A herdeira austríaca Marlene Engelhorn pretende doar 90% da fortuna que a sua avó lhe deixou, a filantropa “Traudl Engelhorn-Vechiatto, que morreu em 2022 e deixou um património avaliado em 3,8 mil milhões de euros, resultante da venda da farmacêutica Boehringer Mannheim”, tal como foi noticiado pelo jornal “Público” em janeiro deste ano.

A decisão é de 2024, mas o movimento que Marlene iniciou foi anterior, em 2021, quando fundou o Tax Me Now, um coletivo de milionários de países de língua alemã que exigem impostos mais elevados para aqueles que pertencem ao 1% mais rico do mundo. “Queremos prosperidade, participação e segurança social para todos. O pré-requisito para tal é um sistema fiscal forte e justo que garanta a redistribuição de forma democrática e transparente e reforce o bem comum através do financiamento de bens e serviços públicos”, afirmam desde o momento da sua fundação, e para tal pretende ser os primeiros a ser taxados.

Marlene foi a criadora do grupo Milionários pela Humanidade, que advoga um novo imposto sobre as grandes fortunas, de apenas 1%, que serviria para “apoiar a recuperação da COVID-19, combater a pobreza e as alterações climáticas e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.”

A diferença para a filantropia é precisamente a mensagem adjacente ao altruísmo: “Com o nosso trabalho queremos provocar mudanças estruturais nos sistemas fiscais existentes, contribuir para reduzir a desigualdade social e fortalecer a democracia”, afirmam, partindo do princípio que são um exemplo. Com o fundo Guter Rat lançou o desafio a um conselho de 50 austríacos (a partir de 10 mil escolhidos aleatoriamente)  para decidirem o que fazer à sua fortuna. O objetivo é que esse grupo seja representativo da sociedade austríaca em todos os quadrantes, do género às origens e salários.

Marlene Engelhorn criou entretanto o grupo de Milionários pela Humanidade, onde a ideia de pro-atividade vai mais longe. Para este coletivo, não é preciso taxar muito as grandes fortunas, apenas 1% para “apoiar a recuperação da COVID-19, combater a pobreza e as alterações climáticas e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.” Unindo-se, a mensagem chega mais longe e alcança o interesse dos meios de comunicação e de parceiros institucionais.

Por enquanto, o grupo é formado por 33 membros, entre eles Abigail Disney, a neta de Walt Disney, mas as inscrições estão abertas.