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Bernardo Simões de Almeida

O que está a impedir a transição para o Hidrogénio Verde?

15 Mar 2024 - 11:33
O Hidrogénio é o elemento mais abundante no planeta. É visto por muitos como uma alternativa viável aos combustíveis fosseis como fonte de energia e tem um enorme potencial para se destacar dentro do sector das energias renováveis.

Produzem-se anualmente 110 milhões de toneladas de hidrogénio por ano. Cerca de 55% é utilizado, segundo o site resource works, para fabricar amónia que é integrada nos fertilizantes. O restante é para processar crude, remover contaminantes e ainda produzir metanol.

Porém, atualmente, a sua produção é feita com recurso aos combustíveis fosseis. De acordo com a Agência Internacional de Energia, cerca de três quartos da produção têm origem no gás natural e carvão e por isso emitem mais 800 milhões de toneladas de CO² para atmosfera todos os anos.

O resultado deste tipo de produção é chamado de Hidrogénio Cinzento uma vez que usa um método que se chama steam-methane-reforming. O relatório do Observatório Europeu de Hidrogénio demonstra que das quase 500 fábricas de produção de hidrogénio, 376 usam este processo convencional, o que determina que a Europa é maior produtor de hidrogénio mas é também o continente que mais polui.

Existe já em curso uma solução híbrida, denominada de Hidrogénio Azul que é similar ao acima mencionado, mas as emissões de carbono são capturadas na origem com recurso a tecnologia adequada.

A terceira solução, que é ao mesmo tempo a mais limpa, é o Hidrogénio Verde. Esta via é produzida com recurso a fontes de energia renováveis como a solar ou eólica, que é feito através de eletrolise. Este processo divide as moléculas da água em hidrogénio e oxigénio com recurso a um eletrolisador.

O hidrogénio verde é produzido através de fontes de energia renováveis como a solar ou eólica.

No entanto de acordo com um outro relatório da Agência Internacional de Energia, esta terceira solução, atualmente representa apenas 0.1% da produção total de hidrogénio.

As razões desta pequena contribuição do hidrogénio limpo prendem-se com vários fatores:

Em primeiro lugar, os custos. De momento a tecnologia por trás do Green Hydrogen ainda não está massificada, o que torna a compra e venda dos aparelhos bastante cara sobretudo no que toca à matéria-prima necessária para a construção, o que também aumenta os custos de produção.

Para se ter uma ideia, para cada quilograma produzido através de um eletrolisador o custo dessa produção é superior a 4 dólares, de acordo com o relatório da Agência Internacional paras as Energias Renováveis. Em termos comparativos, um quilograma de carvão produzido tem um custo de produção de 0.3 dólares.

Em segundo lugar, as infraestruturas. Não existe ainda uma coordenação sólida entre governos, empresas e investidores de modo a criar condições para que as populações possam de facto usufruir deste fonte de energia.

Em terceiro lugar, os regulamentos. Os governos e indústrias devem criar regras internacionais que possam servir de catalisador para criar um mercado de hidrogénio consolidado e seguro do ponto de vista ambiental.

Cada uma tonelada de Hidrogénio Verde produzida através de um eletrolisador tem um custo superior a 4 milhões de dólares.

De acordo com a Agência Internacional para as Energias Renováveis, prevê-se que o Hidrogénio irá emergir como uma força que mudará a face das trocas comerciais de energia. Com isso mudará também a atual posição de alguns países, que poderão cimentar-se como exportadores neste mercado emergente de energia renovável.

A mesma agência vaticina que até 2050 o hidrogénio representará 12% do total de energia utilizada à escala mundial. Atualmente estão previstas serem construídos mais de 90 locais com recurso à eletrolise.

Em Portugal, está prevista a construção de uma dessas fábricas, Em Sines. A fábrica, cujo investimento de mais de 2,8 milhões de euros será levado a cabo pelo grupo italiano Maire, terá uma capacidade de produção superior a 1GW. O início da construção está previsto para este mês.

O portal Portugal Energia prevê que esta fábrica produza hidrogénio suficiente para 5% de consumo final de energia, 5% para o transporte rodoviário, 5% para o setor da indústria e 15% para ser injetado nas redes de gás natural. Está também prevista a capacidade para fornecer hidrogénio a 100 postos de abastecimento.