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Miguel Judas

Forest Green Rovers: o clube de futebol mais sustentável do mundo

15 May 2024 - 09:00
O Forest Green Rovers disputa a League Two, o equivalente à quarta divisão inglesa, mas ostenta no seu palmarés um título difícil de bater numa indústria tão pouco sustentável como a do futebol, o de “clube mais ecológico do mundo”, atribuído pela própria FIFA em 2017. Da energia (toda renovável) ao relvado (orgânico), passando pela alimentação (vegana), a sustentabilidade está presente em todos os setores do clube, o que lhe valeu o reconhecimento da ONU como “o primeiro clube de futebol neutro em carbono do mundo”.

Apesar de ganhar poucos títulos dentro do relvado, o Forest Green Rovers é um clube vencedor num campeonato em que a humanidade – e o planeta – parece estar constantemente a perder, o da sustentabilidade. Aliás, basta pensar um pouco em toda a logística da indústria do futebol – energia, água, transportes – para depressa se perceber que será uma das mais insustentáveis do mundo.

É precisamente esse paradigma que este clube da pequena cidade de Nailsworth, no condado de Gloucestershire, sudoeste de Inglaterra pretende ajudar a mudar, através do exemplo.

Tudo começou em 2010, quando o histórico emblema, fundado em 1889, foi adquirido pelo magnata Dale Vince, proprietário da empresa de energias renováveis Ecotricity, que colocou a sustentabilidade no centro da filosofia do clube, sempre “em busca de novas formas de ultrapassar os limites da consciência ambiental no desporto”.

A sustentabilidade está no centro da filosofia deste pequeno, mas histórico, clube inglês, sempre “em busca de novas formas de ultrapassar os limites da consciência ambiental no desporto”.

De acordo com o site o site oficial do clube, “cerca de 20% das necessidades energéticas anuais é garantida através de painéis solares”, sendo as restantes fornecidas pela Ecotricity, a empresa de energias renováveis que também pertence ao dono do clube. No estádio, o placar dos resultados é de led, tal como toda a iluminação, “alimentada por uma bateria carregada pelo sol”.

O relvado é orgânico e está “equipado com um sistema que capta a água da chuva e a recicla para irrigação”. Foi ainda recentemente introduzido num novo processo de limpeza para a água utilizada nas casas-de-banho, que é bombeada de volta para o campo, no qual “não é usado qualquer produto químico ou pesticida”. As ervas daninhas são simplesmente cortadas e junto ao relvado existem canteiros de flores silvestres, para atrair os polinizadores – existe até uma colmeia nas instalações do clube.

Outro aspeto em que o clube tem apostado é na redução das emissões de carbono resultantes das viagens, tanto da equipa como dos adeptos, para quem disponibilizam transportes organizados nos jogos fora de casa. Já no estádio, foi construído um enorme parque de bicicletas, para incentivar os fãs a usá-las e instalados diversos pontos de carregamento para veículos elétricos.

Na época de 21/22 a pegada carbónica do clube foi de 73 toneladas, um valor que, segundo o site oficial do Forest Green Rovers foi “12% menor do que a última temporada pré-COVID, em 2018/19”.

Foi no entanto devido ao estrito regime alimentar que o Forest Green Rovers atraiu as atenções do mundo inteiro, ao tornar-se, em 2015, o primeiro clube do mundo com uma dieta exclusivamente vegana, tanto para atletas como para o público, através da comida que é vendida no estádio, onde as embalagens descartáveis foram também substituídas por doseadores recarregáveis.

O clube estabeleceu ainda uma parceria com The Captain Paul Watson Fundation, uma organização britânica de defesa dos oceanos, para sensibilizar os adeptos sobre o problema dos resíduos plásticos nos mares. Ao abrigo desse protocolo, todos os materiais de limpeza usados nas instalações do clube são produzidos no local e guardados em garrafas recarregáveis.

Há mais de uma década que o clube publica a respetiva pegada carbónica, “certificada pela norma ambiental internacional ISO1400”. Na época de 21/22, a última auditada, a pegada foi de 73 toneladas, um valor que, segundo o site oficial do emblema de Nailsworth, foi “12% menor do que a última temporada pré-COVID, em 2018/19”.

Devido a esta revolucionária filosofia, o Forest Green Rovers foi eleito em 2017 pela FIFA “o clube mais sustentável do mundo” e em 2019 foi a vez da ONU o reconhecer como “o primeiro clube de futebol neutro em carbono do mundo”, atribuindo ainda ao presidente Dale Vince a distinção deCampeão do Clima”.

Desde que, em 2015, todas as bancas de comida do estádio do FGR passaram a vender apenas comida vegana, o Devil’s Kitchen burger tornou-se num verdadeiro campeão de vendas.

O próximo projeto do clube passa pela construção de um novo estádio, já batizado de Eco Park Stadium. Será feito inteiramente em madeira, segundo um projeto da renomada arquiteta anglo-iraquiana Zaha Hadid, falecida em 2016.

Terá capacidade para 5 mil espectadores e “integrado num parque paisagístico com cerca de 500 árvores e 1,8 km de sebes, de modo a promover a biodiversidade”. Será também construída uma passagem pedestre, uma travessia para bicicletas e uma ciclovia de ligação à Ciclovia Nacional 45.

No lugar do atual estádio, o clube comprometeu-se entretanto a construir uma urbanização “de alta qualidade e baixo carbono”, com “boas ligações à rede de transportes públicos”, que aumentará bastante o parque habitacional da região com “uma grande proporção de casas a preços acessíveis”.

O novo estádio do clube será feito inteiramente em madeira, segundo um projeto da renomada arquiteta anglo-iraquiana Zaha Hadid, falecida em 2016.

O trabalho do Forest Green Rovers em prol do ambiente, através do futebol, chamou a atenção do jogador espanhol Hector Bellerín, ele próprio vegano e um conhecido ativista climático.

O defesa-lateral, que já representou o Sporting e atualmente joga no Arsenal, tomou conhecimento do projeto durante uma partida amigável entre a sua atual equipa e o Forest Green Rovers, tornando-se pouco tempo depois acionista minoritário do clube.

“Trata-se de um exemplo a seguir a vários níveis, mas representa também uma oportunidade para consciencializar jogadores e clubes de futebol para as questões ambientais e promover a sustentabilidade no desporto”, explicou o jogador.