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Isabel Lindim

Estamos a passar por uma sexta grande extinção?

17 Nov 2023 - 02:26
O planeta já passou por cinco extinções. Apenas uma foi causada por um meteorito, as restantes foram consequência de alterações climáticas, tal como agora. A diferença é a velocidade a que está a acontecer.

Na cronologia da história do nosso planeta, houve momentos de transformação que levaram à extinção de muita vida na Terra. No último, há 65 milhões de anos, desapareceram 76% dos seres que formavam o grande ecossistema da Terra. Entre as criaturas que foram atingidas por um meteorito, estavam os dinossauros, mas não eram as únicas criaturas fantásticas pelo seu exotismo ou dimensão.

Pela ordem de acontecimentos, a primeira extinção em massa foi há 440 milhões de anos, a segunda há 365 milhões de anos, a terceira há 250 milhões de anos, a quarta há 210 milhões de anos e a quinta há 65 milhões de anos.

Atualmente, o que muitos investigadores defendem é que estamos a chegar ao ponto em que várias espécies se estão a extinguir a grande velocidade. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla em inglês), há oito fases antes de se chegar à categoria de extinção: “não avaliado, dados deficientes, pouco preocupante, quase ameaçado, vulnerável, em perigo, criticamente em perigo, extinto na natureza”. Ou seja, quando extinto na natureza, podem ainda encontrar-se exemplares em estado de conservação.

Esta organização classifica uma Lista Vermelha desde 1964. É através desta plataforma que podemos avaliar o grande ecossistema da Terra. Até ao momento, desde que foi iniciada esta lista, das 150,388 que foram avaliadas pela IUCN, apenas 9.162 se mantêm vivas.

Há 210 milhões de anos, desapareceram 96% dos seres que formavam o grande ecossistema da Terra, entre eles estavam os dinossauros

Hoje, 42.100 espécies encontram-se em perigo de extinção. O número de plantas é o que se encontra mais ameaçado, seguido dos amigos das plantas responsáveis pela polinização: os insectos. As grandes ameaças são causadas por atividades humanas, sendo as principais a expansão da agricultura e o impacto da pesca industrial, seguidas da queima de combustíveis fósseis.

Por definição, as extinções caracterizam-se pelo declínio da diversidade, em que as condições mudam drasticamente. Na era do Antropoceno que vivemos atualmente, essas mudanças ocorrem em grande parte pela intervenção humana. A palavra Antropoceno foi sugerida pelo cientista Paul Crutzen. No livro “A Sexta Extinção”, de Elizabeth Kolbert ((Edições Elsinore, 2014) estão referidos os pontos principais que caracterizam as mudanças à escala geológica de Crutzen.

Além das alterações da composição da atmosfera, que elevou em 40% o dióxido de carbono libertado para o ar nos últimos dois séculos, há uma lista essencial para entender a era que vivemos: “a actividade humana, transformou entre um terço e metade da superfície terrestre do planeta; a maior parte dos principais rios do mundo têm barragens ou foram desviados; as fábricas de fertilizantes produzem mais nitrogéneo do que é fixado naturalmente por todos os ecossistemas terrestres; a pesca remove mais de um terço da produção primária das águas costeiras dos oceanos; os seres humanos usam mais de metade da água doce corrente e de acesso fácil do mundo”.

Neste tema apocalíptico, tantas vezes retratado em filmes no cenário de planeta inóspito em que qualquer sinal de vida é uma esperança (ou uma ameaça), a grande questão é sempre se a espécie humana se vai extinguir.

O Homem está constantemente no centro das suas atenções, convicto que irá encontrar soluções para o seu domínio sobre a vida, nem que seja no recurso à biotecnologia. É a outra metade dos temas cinematográficos sobre a sobrevivência humana: a ficção científica.

Elizabeth Kolbert, depois de escrever “A Sexta Extinção”, publicou uma obra (“Sob um céu branco”, edições Elsinore, 2021) em que reflecte sobre a ciência e os projetos para mitigar o impacto das alterações climáticas, aquelas que seguram a vida humana. Na procura de soluções, raramente o ser humano se vê como parte da natureza, mas sim como um elemento exterior.

Como disse Kolbert numa entrevista ao jornal “Público” na altura do lançamento da obra mais recente: “extinção quer dizer que se acaba com todos os pares reprodutores. Não acho que isso seja iminente, nem acho que seja muito provável, no caso da Humanidade, num futuro próximo. Mas isso não quer dizer que não vá haver muito sofrimento e algumas pessoas podem argumentar que já estamos a ver um pouco disso.”

As plantas e os insetos, responsáveis pela polonização, são os seres mais ameaçados pela atividade humana