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Pureza Fleming

Consumo sustentável: Quem mais ganha quer pagar menos por produtos amigos do ambiente?

25 May 2024 - 09:00
De acordo com alguns estudos recentes, a tendência global aponta para uma crescente consciencialização sobre a sustentabilidade nas escolhas de consumo. No entanto, uma análise mais detalhada revela uma dinâmica divergente, pois enquanto a maioria dos consumidores está disposta a investir em práticas sustentáveis, quem tem rendimentos mais altos demonstra uma menor propensão a pagar mais por produtos amigos do ambiente.

Segundo a mais recente pesquisa de Voz do Consumidor da PwC, uma das maiores empresas de consultadoria do mundo, os consumidores estão cada vez mais dispostos a priorizar a sustentabilidade nas suas decisões de compra, mesmo que isso signifique um aumento dos preços. Os resultados demonstraram que quase 4/5 dos consumidores não se importam de pagar mais por produtos produzidos ou adquiridos de forma sustentável.

A pesquisa, que contou com a participação de mais de 20 mil consumidores de 31 países e territórios, destaca que 85% dos entrevistados têm experiências diretas com os efeitos das mudanças climáticas, motivando assim uma integração crescente de práticas sustentáveis nos seus hábitos de consumo.

Apesar da inflação e o aumento do custo de vida, mais de 80% diz-se disposto a pagar mais por produtos sustentáveis. Também os hábitos dos consumidores revelaram mudanças, como fazer compras conscientes, modificar hábitos alimentares ou adotar opções de transporte mais amigas do ambiente.

Apesar da maioria dos consumidores não se importarem de pagar mais por produtos sustentáveis, essa percentagem diminui à medida que os rendimentos aumentam.

Consumo Verde: Tendências e Gerações

Um outro estudo foi mais fundo e revelou que os consumidores mais ricos não são os mais interessados em práticas ecológicas.

A pesquisa, levado a cabo pelo Squared Circles, um site de moda e tendências com foco na sustentabilidade e num consumo mais consciente, concluiu que, embora mais da metade dos inquiridos esteja disposta a alterar o seu estilo de vida para apoiar a sustentabilidade, essa percentagem diminui quando se trata de pagar mais por produtos amigos do ambiente, especialmente entre os de maior rendimento.

O relatório, divulgado no final do passado mês de abril e partilhado pelo site Business Of Fashion, declara que mais de metade dos 3 mil inquiridos estão dispostos a fazer mudanças no seu estilo de vida para apoiar a sustentabilidade: “Sessenta e quatro por cento dos participantes afirmaram que ‘reconhecem a necessidade de comprometer o modo como vivemos para garantir a sustentabilidade’”, lê-se.

A percentagem, porém, diminui quando se trata de pagar preços mais elevados por produtos e práticas sustentáveis, especialmente entre os consumidores com rendimentos mais elevados. Se por um lado, os inquiridos da Geração X se mostraram particularmente cautelosos em relação aos produtos sustentáveis, os mais jovens admitiram estar mais dispostos a gastar nesse sentido. Apesar de tudo, a maioria dos consumidores não está aberta a sacrificar a qualidade em prol da sustentabilidade, revela o estudo.

As mensagens para um consumo mais sustentável tardam em passar nas camadas da população com maior poder de compra.

Segundo o estudo, 52 por cento dizia-se disposto a pagar 10 por cento mais por um produto sustentável. Mas ao excluir as respostas de quem tem um rendimento familiar inferior a 100 mil dólares, a percentagem cai para menos de metade, situando-se nos 45 por cento.

“Quanto mais rico é o consumidor, mais ele analisa, curiosamente, como gasta o seu dinheiro” disse Lukas Derksen, co-fundador da Squared Circles ao Business Of Fashion.

A pesquisa dividiu a Geração X em quatro grupos psicográficos: Maximalistas Conscientes, Ativistas Passivos, Desinteressados e Meios Modestos. Os Maximalistas Conscientes, grupo dominado pela Geração X, foi 27 por cento mais propenso a concordar que “os produtos sustentáveis não correspondem às expectativas”. O segmento mais jovem mostrou-se mais disposto a gastar em sustentabilidade do que todos os outros grupos etários pesquisados.

De acordo com o artigo publicado no Business Of Fashion, entre o perfil Ativistas Passivos, composto principalmente por indivíduos entre os 18 e os 45 anos, 76 por cento acreditam que uma empresa deve poder cobrar 10 por cento extra por um produto sustentável, e 70 por cento estão dispostos a comprá-lo.

Contudo, uma área de sustentabilidade em que a maioria dos consumidores afirmou não estar disposta a fazer sacrifícios é a qualidade: somente 35 por cento afirmaram estar dispostos a comprar um produto com desempenho inferior se fosse mais sustentável.

Mais de 80 por cento dos adultos na Grã-Bretanha relataram ter mudado o estilo de vida para enfrentar questões ambientais.

Mapeando o Bem-Estar Sustentável

 Há mais de uma década que o Office for National Statistics (ONS) recolhe dados sobre o bem-estar para medir o progresso no Reino Unido.

Estas Medidas Nacionais de Bem-Estar (UK MNW) abrangem uma ampla gama de informações, recolhendo dados sobre a saúde física e mental e a vida profissional dos indivíduos, as opiniões das pessoas sobre as suas comunidades locais e, a nível nacional, também sobre ambiente.

E segundo um destes últimos estudos, realizado entre maio e junho de 2023, 86,5% dos adultos na Grã-Bretanha relataram ter mudado o estilo de vida para enfrentar questões ambientais.

Esta e outras perguntas, sobre o nível de satisfação com serviços públicos, como a polícia, tribunais, saúde e educação, foram adicionadas para compreender melhor os comportamentos e atitudes da população do Reino Unido, que revelou ter atualmente as questões ambientais como uma das suas preocupações mais prementes.