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Teresa Lencastre

Como jardinar de forma sustentável?

3 Jun 2024 - 09:00
Jardinar de forma sustentável contribui para a preservação dos recursos naturais, promove a biodiversidade e cria espaços verdes fundamentais ao bem-estar da comunidade. Quem o diz é a técnica de educação ambiental Ana Cristina Costa, que deixa vários conselhos a quem procura criar espaços verdes mais conscientes.

“Os espaços verdes urbanos constituem um ecossistema fundamental, que integra as variáveis solo, água, flora e fauna”, refere Ana Cristina Costa, que é também dirigente do Núcleo de Braga da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA).

Para satisfazer as necessidades fisiológicas, psicológicas, ambientais, sociais e estéticas dos seres humanos, é essencial que essas variáveis estejam em equilíbrio, explica a Ana Cristina Costa, que ao longo do seu percurso tem feito ações de jardinagem sustentável em escolas.

“Todos devemos atuar de forma sustentável e, como tal, a jardinagem não é exceção, na preservação dos recursos solo e água e na criação de condições para auxiliar a manter o máximo de biodiversidade. Daí que a escolha de espécies de flora autóctone seja prioritária”, refere a técnica, quando questionada sobre qual é o principal ensinamento que procura transmitir aos alunos.

O medronheiro é uma espécie autóctone de Portugal continental. Está bem adaptada ao clima e solo locais, tendo menor necessidade de água e manutenção.

Ana Cristina Costa deixa mais conselhos para quem quer jardinar de forma consciente e sustentável.

 

Estudar as características do ambiente 

Antes de iniciar um projeto de jardinagem, importa estudar a localização, a forma e o tamanho do espaço disponível, as propriedades do solo, o microclima da zona e a vegetação existente. Este conhecimento permite um planeamento mais eficaz e sustentável, refere Ana Cristina Costa.

 

Conhecer as necessidades dos utilizadores 

Perceber as necessidades dos potenciais utilizadores do espaço verde é importante, adianta Ana Cristina Costa: “Se for junto de um jardim de infância é completamente diferente do que se for junto de um lar de dia”.

Os jardins para crianças, por exemplo, podem focar-se mais na segurança e estimulação sensorial ativa com áreas de brincadeira, ao passo que os jardins para seniores podem enfatizar a acessibilidade, o conforto e elementos relaxantes para promover o bem-estar.

Os jardins para crianças, por exemplo, podem focar-se mais na segurança e estimulação sensorial ativa com áreas de brincadeira.

Planificar funções específicas 

Jardinar de forma sustentável também passa por definir as funções a potenciar no espaço verde, como “caminhadas, piqueniques ou a observação da paisagem”, refere Ana Cristina Costa. Isso orienta o design e a escolha dos elementos vegetais e estruturais do jardim.

 

Escolher e conservar plantas com critério 

Ao escolher plantas e conservar as existentes, importa conhecer os “requerimentos ecológicos das espécies”, como as suas necessidades de luz, solo e água, para “planificar adequadamente a sua distribuição no espaço”, diz Ana Cristina Costa.

Neste contexto, vale a pena considerar a dimensão máxima das espécies e evitar plantações excessivamente distantes ou próximas para garantir um crescimento saudável.

Por outro lado, importa perceber se as plantas vão impactar elementos arquitetónicos próximos, prevenindo danos e custos adicionais de manutenção, e integrar espécies de crescimento rápido e lento.

“No desenho de uma nova zona verde deverão ser integrados estes dois tipos de plantas, para aproveitar as vantagens de duas estratégias ecológicas diferentes, mas compatíveis”, refere.

Ana Cristina Costa também admite a integração de plantas bem-adaptadas de outras latitudes, desde que não sejam invasoras, como camélias.

Privilegiar plantas autóctones 

Ana Cristina Costa também recomenda a criação de jardins que exijam pouca manutenção, de forma a poupar recursos e a promover a sustentabilidade. Para isso, importa privilegiar plantas resistentes e autóctones, que reduzam a necessidade de cuidados intensivos.

Em Portugal, espécies como o sobreiro, a esteva e o medronheiro são ideais, já que estão bem adaptadas ao clima e solo locais, tendo menor necessidade de água e manutenção. Plantas mais pequenas, como o alecrim, o tomilho e o rosmaninho também são boas escolhas para jardins sustentáveis.

Ainda assim, Ana Cristina Costa também admite a integração de plantas bem-adaptadas de outras latitudes, desde que não sejam invasoras, como camélias ou pinheiros.

“O conjunto vegetal do jardim deverá ser resistente às condições climáticas da área onde se localizará a nova área verde”, acrescenta.

Ana Cristina Costa também recomenda a criação de jardins que exijam pouca manutenção, de forma a poupar recursos e a promover a sustentabilidade.

Regar com eficiência  

A técnica também aconselha a adoção de um sistema de rega eficiente e automático, que inclua pluviómetros e segmente áreas de irrigação, “de acordo com as necessidades hídricas das plantas”. O sistema de rega deve ainda ter uma “ampla rede de bocas de rega” e ser alvo de “manutenção periódica e constante”.

 

Optar por prados de sequeiro

Optar por prados de sequeiro, isto é, áreas de vegetação “com menores exigências hídricas”, também é importante. Ana Cristina Costa recomenda ainda a plantação de espécies rastejantes, como o tomilho ou a erva-das-sete-sangrias, que crescem horizontalmente e também precisam de menos água.

Usar “mulch” 

Por último, a técnica em educação ambiental aconselha o uso de “mulch”, isto é uma camada de material orgânico (como palha ou casca de árvore) ou inorgânico (como pedras ou cascalho) espalhada sobre o solo.

“Com esta técnica conseguem-se enormes reduções de custos de manutenção, principalmente por diminuição dos consumos de água de rega, ao reduzir as perdas de água por evaporação e ao reduzir o aparecimento de ervas silvestres”, refere Ana Cristina Costa.

Por outro lado, a cobertura com “mulch” impede a formação de crosta superficial, reduz a compactação do terreno, melhora o arejamento, evita a escorrência superficial, impede a erosão, permite reduzir a superfície de relvados e oculta as instalações de regas superficiais.

“Para além disso, com a utilização destas coberturas de solo poderão conseguir-se resultados de elevado valor estético”, conclui.

 

Mitigar alterações climáticas

A jardinagem também tem um papel importante na mitigação das alterações climáticas, defende Ana Cristina Costa. Neste contexto, a presença de árvores em espaços urbanos é crucial. “As árvores na cidade são essenciais pelo seu papel no amenizar das temperaturas, melhoria da qualidade do ar e redução do ruído. Reduzem ainda a erosão em alguns locais, aumentando a infiltração da água – tudo vantagens em situação de alterações climáticas”, diz a técnica de educação ambiental.

Por outro lado, a presença de árvores também permite que os cidadãos urbanos tenham consciência da passagem das estações e dos ciclos biológicos. Uma vez que demoram a crescer, a plantação de árvores em cidades tem particular urgência, considera Ana Cristina Costa.