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Teresa Lencastre

Podemos comer peixe e marisco de forma sustentável?

12 May 2024 - 09:00
Portugal é o país que mais consome peixe na União Europeia, mas nem tudo o que “vem à rede” dos portugueses é sustentável. Há práticas que as pessoas podem adotar de forma a comer pescado de forma mais consciente, como diversificar as espécies na ementa, comer peixe nacional ou consultar rótulos, entre outras.

“As nossas escolhas diárias de pescado têm um enorme impacto sobre os recursos marinhos e sobre as pessoas do outro lado do mundo”, diz Ana Henriques, técnica em Oceanos e Pescas na ANP|WWF, ao Green eFact.

“A sobrepesca, para satisfazer uma procura crescente, é uma grande ameaça à conservação marinha e como consumidores devemos apoiar o pescado sustentável, que é capturado de forma a ter menor impacto sobre os recursos marinhos e sobre as pessoas que deles dependem”, acrescenta.

Uma das formas apoiar o pescado sustentável passa por não comer sempre as mesmas espécies. “É importante a diversidade no consumo de produtos do mar, já que garante uma pressão mais equilibrada sobre os recursos marinhos”, esclarece Ana Henriques.

A sapateira só deve ser consumida de dezembro a abril, indica a Deco.

Não consumir “espécies ameaçadas e peixes bebés” também é importante, realça Ana Henriques, bem como “suplementos alimentares à base de krill ou tubarões”. Para isso, importa estar atento aos rótulos.

“Na União Europeia temos o direito legal de saber o nome completo do produto que estamos a comprar, de onde vem, se ele foi capturado ou produzido e como, e se é fresco ou congelado”, recorda a especialista.

“Se não estiver visível, podemos perguntar, e se não for possível obter respostas, não devemos comprar”, sublinha.

O tamanho mínimo de captura da sardinha são 11 centimetros. Se for mais pequena, não se deve comprar.

A par da ANP|WWF, que tem um guia online para consumo do pescado, também a Deco Proteste tem vindo a sensibilizar os consumidores portugueses para esta questão, divulgando um a série de dicas.

A associação de defesa do consumidor reitera a importância de diversificar as opções no prato e acrescenta que “não devemos desvalorizar o pescado de aquicultura, que ajuda a aliviar a pressão sobre os ecossistemas”.

“A aquicultura, que contribui apenas com 5% no nosso consumo, pode ser uma solução. Amêijoa (33%), pregado (22%), mexilhão (14%), ostra (9%) e dourada (8%) são as espécies mais produzidas”, refere a Deco.

De acordo com o calendário da Deco, a dourada deve ser evitada em outubro, novembro e dezembro.

Equilibrar o consumo é outro dos apelos da organização. Isso pode ser feito, por exemplo, através da introdução de “um dia vegetariano na ementa semanal”. No que toca aos peixes gordos, cuja ingestão é recomendada pelos nutricionistas, vale a pena comprar espécies que se encontram com facilidade nos oceanos, como a cavala e a sarda.

Tal como a ANP|WWF, também a Deco alerta para importância da idade do peixe, que pode ser avaliada pela respetiva dimensão. Nas idas às compras, o conselho é não comprar peixe abaixo do tamanho mínimo de captura.

“Para não comprometer o ciclo de vida das espécies, existe uma dimensão mínima de captura, imprescindível ao nível da sustentabilidade”, explica a organização.

Os famosos “jaquinzinhos” (carapaus pequenos), por exemplo, não podem ser capturados com menos de 15 centímetros. No caso da sardinha pequena, esse valor desce para os 11 centímetros.

No que toca aos peixes gordos, cuja ingestão é recomendada pelos nutricionistas, vale a pena comprar espécies que se encontram com facilidade nos oceanos, como a cavala e a sarda.

No que toca aos rótulos, a Deco aconselha a procura dos selos da Marine Stewardship Council (MSC) ou da Aquaculture Stewardship Council (ASC), que certificam que os produtos são oriundos de pesca ou de um modo de produção sustentáveis.

No caso do peixe português, o selo comprovativo de compra em lota (CCL) garante que o pescado foi controlado e rastreado, desde a captura. Além disso, valoriza o setor das pescas em Portugal e o pescado transacionado nas lotas nacionais.

“Em regra, [o CCL] aplica-se a embarcações portuguesas que operam ao longo da nossa costa, o que pressupõe menos gastos energéticos e menos emissões de carbono.”

Comprar peixe nacional é o ideal, mas não só: “Sazonal também é importante. O pescado identificado com o CCL respeita a época de cada espécie e as quotas estabelecidas: são dois critérios vitais para conservar os recursos marinhos e a sustentabilidade.”

Nem todos sabem, mas há meses mais adequados do que outros para comer determinadas espécies. A dourada, por exemplo, deve ser evitada em outubro, novembro e dezembro, e a sapateira só deve ser consumida de dezembro a abril.

A esse propósito, a Deco disponibiliza um calendário com os melhores meses para consumir cada espécie, que avalia ainda o respetivo risco de extinção.

No caso do peixe português, o selo comprovativo de compra em lota (CCL) garante que o pescado foi controlado e rastreado, desde a captura.

Também o Oceanário de Lisboa disponibiliza um guia online para um consumo sustentável de peixes e mariscos. Além de trazer informações nutricionais sobre cada espécie, o documento também indica a proveniência e o tamanho ideais de cada opção.

A cor verde refere-se ao que devemos privilegiar, isto é, o tipo de pescado que existe em maior quantidade. Incluem-se a amêijoa-boa (aquicultura), o carapau (mais de 15 centímetros), o choco (mais de 10 centímetros), a dourada (aquicultura), o polvo-comum (mais de 750 gramas), o robalo (aquicultura) e o sargo (mais de 15 centímetros).

A alternativa surge a amarelo e remete para o que devemos comer “só às vezes”. Inclui pescado capturado no mar, que apesar de não estar em perigo, deve começar a ser protegido “já”. É o caso do bacalhau (mais de 35 centímetros), do cherne, da dourada (mais de 19 centímetros), da garoupa, da pescada (mais de 27 centímetros), do robalo (mais de 36 centímetros) e da sardinha (mais de 11 centímetros).

Já o vermelho indica o que se deve evitar: tipos de peixe em risco por serem capturados em grandes quantidades, tais como o atum-rabilho (menos de 115 centímetros ou abaixo dos 30 quilos), o bacalhau (menos de 35 centímetros), o carapau (menos de 15 centímetros), a enguia e o meixão, a pescada (menos de 27 centímetros), a sardinha (menos de 11 centímetros) e o tamboril.