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Pureza Fleming

Como chega o salmão ao nosso prato?

12 Feb 2024 - 10:00
O salmão criado em cativeiro é considerado um dos alimentos mais tóxicos do mundo: a informação baseia-se em diversos estudos e é consequência da enorme quantidade de produtos químicos envolvidos na criação destes peixes.

Na dúvida, o documentário Filet Oh! Fish, realizado pelo jornalista Nicolas Daniel em 2013, que foi exibido na RTP sob o título “Peixe, Criação em Águas Turbulentas”, confirma-o. Resultado da investigação de Daniel, o documentário mostra os meandros da indústria da aquicultura revelando alguns segredos da produção do peixe.

São vários os testemunhos recolhidos. Nestes, cientistas confirmam, por exemplo, que o salmão de viveiro é o alimento mais tóxico do mundo. Kurt Oddekalv, um respeitado ativista ambiental norueguês, é o primeiro interlocutor de Nicolas Daniel e afirma que “a criação de salmão é um desastre, tanto para o ambiente como para nossa saúde”.

Uma “fábrica” de salmão pode conter dois milhões de peixes num espaço relativamente pequeno, o que resulta em doenças nos animais. Por esse motivo, os criadores utilizam pesticidas perigosos, de maneira a evitar pragas e também para não perderem a mercadoria.

Os pesticidas, por sua vez, diminuem a imunidade do peixe que, doente, é tratado com mais drogas, incluindo vários antibióticos. As criações norueguesas de salmão apresentam, assim, camadas profundas de resíduos que incluem excrementos, bactérias, drogas e pesticidas. Ou seja, além de serem criados presos e amontoados, os salmões são obrigados a conviver com os próprios excrementos e uma enorme acumulação de químicos, fazendo deles peixes tóxicos.

 

O conteúdo nutricional dos salmões de cativeiro difere significativamente do salmão selvagem.

Além da poluição ambiental e das doenças, os salmões de cativeiro também sofrem com mutações genéticas e outras anomalias físicas. A “carne” do salmão de cultivo é bastante mais “quebradiça” e propensa a despedaçar-se quando dobrada, uma característica considerada “altamente anormal”.

Além disso, o conteúdo nutricional dos salmões de cativeiro difere significativamente do salmão selvagem: os salmões de cultivo contêm teores de gordura significativamente mais altos, variando de 14,5 a 34 por cento, em comparação com os 5 a 7 por cento do salmão selvagem.

Apesar dos pesticidas e poluentes desempenharem um importante papel na toxicidade dos salmões de cultivo, a principal fonte de exposição tóxica é a própria ração dos peixes. A ração em pellet seco, usada  normalmente na piscicultura, contém poluentes como dioxinas, PCBs (Bifenilas policloradas) e vários medicamentos e produtos químicos.

A ração de peixe usada em particular na indústria de peixes na Noruega é composta por enguias e peixes gordurosos do muito poluído Mar Báltico. Esta contaminação ocorre porque o Báltico recebe resíduos tóxicos de nove países industrializados ao redor das suas margens. Como resultado, algumas espécies de peixes que habitam o Mar Báltico, como arenque, enguia e salmão, acumulam níveis mais altos de poluentes, incluindo dioxinas.

 

Apesar dos pesticidas e poluentes desempenharem um importante papel na toxicidade dos salmões de cultivo, a principal fonte de exposição tóxica é a própria ração dos peixes.

Outra descoberta alarmante é o acrescento de etoxiquina na ração de peixes, um pesticida originalmente criado pela Monsanto na década de 50, para uso em frutas e vegetais. Os fabricantes de ração de peixe adicionam etoxiquina para evitar a oxidação das gorduras, mas os seus efeitos na saúde humana nunca foi estudado. Surpreendentemente, enquanto a União Europeia regula os níveis de etoxiquina noutros alimentos, não existe regulamentação semelhante para os peixes consumidos por humanos.

Toda esta realidade é replicada no outro lado do Atlântico, nas costas da província canadiana da Nova Escócia, como igualmente foi denunciado pelo premiado casal de jornalistas Douglas Frantz e Catherine Collins no livro Salmon Wars. Ou como também alerta a revista Time num artigo publicado em julho de 2022, pouco tempo depois da edição do livro.

Como alternativa ao salmão de cativeiro, as melhores opções são peixes como o salmão selvagem do Alasca, as sardinhas ou as anchovas. E, quanto mais pequeno for o peixe, menor o risco.

Em todo o caso, como já mencionado acima, também não se pode confiar na qualidade de todos os peixes selvagens, já que algumas águas encontram-se contaminadas com metais pesados (como mercúrio) e outros produtos químicos prejudiciais à saúde humana. Como em tudo, o melhor é sempre procurar o máximo de informação possível antes de comprar.