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Diogo Augusto

Como as Alterações Climáticas agravaram ainda mais o abastecimento de água em Gaza

24 Oct 2023 - 01:36
Numa zona politicamente tão conturbada, a escassez de água e os episódios de calor extremo, cada vez mais frequentes, têm também desempenhado um papel neste conflito que se arrasta há décadas.

A região de Israel e da Palestina é uma das que mais tem visto o seu clima mudar devido ao aquecimento global. Este fenómeno, que se tem vindo a agravar ao longo dos últimos 50 anos tem contribuído para que a área se tenha vindo a tornar cada vez mais desértica

Em Março de 2022, a propósito do Dia Mundial da Água, Mazen Al-Banna, da Autoridade Palestinian para a Qualidade do Ambiente e da Água, chamava a atenção para a situação catastrófica em Gaza no que dizia respeito ao acesso a água potável.

As infraestruturas decrépitas provocam infiltrações de contaminantes que tornam as reservas de água impróprias para consumo.

Com o bloqueio imposto à faixa de Gaza por Israel, o território depende em grande parte das suas reservas de água subterrâneas para satisfazer as necessidades básicas. No entanto, também devido ao bloqueio, as infraestruturas decrépitas provocam infiltrações de contaminantes que tornam as reservas de água impróprias para consumo.


 

Por outro lado, dizia Al-Banna, a captação de água subterrânea e de superfície por parte de Israel ao longo da fronteira Este de Gaza, faz com que as reservas dos aquíferos Palestinianos caiam para níveis alarmantes e aumentem a proporção da concentração de poluentes.

A situação anterior à guerra já era alarmante, com apenas 4% das casas de Gaza com acesso a água potável (Foto: Hosni Sabah )

A situação anterior à guerra já era alarmante, com apenas 4% das casas de Gaza com acesso a água potável segura e um quarto das mortes infantis a dever-se a doenças relacionadas com o consumo de água contaminada.

Isto mesmo já era reconhecido por um relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2021. Nele, reconhecendo o problema, eram feitas várias recomendações, entre as quais: o fim do bloqueio a Gaza, o início imediato de ações que pusessem fim à crise de água em Gaza, o fim da extração de recursos naturais para benefício de Israel ao arrepio da lei humanitária internacional e o fim das práticas de exploração e degradação ambiental levadas a cabo pelos colonatos israelitas.

Em 2017, um relatório da Amnistia Internacional revelava que o consumo de água médio diário de um palestiniano era de 73 litros, sendo que em algumas comunidades este número baixava para 20. Pelo contrário, o consumo diário de água de um israelita estava nos 300 litros por dia. 

Em 1980 as Nações Unidas já alertavam para o facto de Israel proibir a abertura de poços na Cisjordânia a palestinianos

Há um ano, em Outubro de 2022, um relatório de uma comissão de inquérito da ONU dizia que a ocupação de Israel era ilegal e que, entre outros impactos, tinha reduzido o acesso dos palestinianos a água potável, pondo em causa a sua sobrevivência.

Apesar dos recentes acontecimentos, o problema é antigo. Em 1980 as Nações Unidas já alertavam para o facto de Israel proibir a abertura de poços na Cisjordânia a palestinianos enquanto a Mekorot, empresa de águas nacionais, extraía água de novos e velhos poços para servir os colonatos.