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Teresa Lencastre

As alterações climáticas põem em risco a democracia?

18 Apr 2024 - 09:00
O Canadá é um dos mais recentes países a admitir que as alterações climáticas impactam a democracia. Durante a terceira edição da Cimeira Anual da Democracia, na Coreia do Sul, o primeiro-ministro canadiano anunciou um investimento de milhões de dólares para estudar o fenómeno.

“Hoje, anuncio que o Canadá vai investir 8,4 milhões de dólares em investigação em todo o sul do planeta para compreender melhor como as alterações climáticas interagem com o declínio democrático”, disse Justin Trudeau na Cimeira Anual da Democracia, realizada na Coreia do Sul e promovida pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden.

O investimento, descreve o Governo do Canadá, visa “combater o atrofiamento dos domínios cívicos”, nomeadamente no âmbito político, legislativo, social e económico, “para promover uma governação inclusiva, participativa e responsável face às alterações climáticas”.

O governo canadiano decidiu investir vai investir 8,4 milhões de dólares para compreender melhor como as alterações climáticas interagem com o declínio democrático.

Não é a primeira vez que o impacto das alterações climáticas na democracia é estudado. Daniel Lindvall, da Universidade de Uppsala, na Suécia, tem vindo a investigar a dinâmica.

Numa análise publicada pelo Instituto Internacional para Democracia e Assistência Eleitoral, o sociólogo alerta que “o aquecimento global pode vir a criar uma ordem mundial instável, com poucas perspetivas de liberdade e democracia”.

“As alterações climáticas representam um grande desafio para a democracia e para a sua resistência – provavelmente o maior desafio de sempre”, sublinha o investigador.

O sociólogo sueco Daniel Lindvall alerta que “o aquecimento global pode vir a criar uma ordem mundial instável”.

Lindvall apela à redução das emissões de gases com efeito de estufa e ao cumprimento das metas do Acordo de Paris. Se isso não acontecer, avisa, “o impacto nas populações, nas infraestruturas e na natureza será terrível” e os “quadros democráticos serão sujeitos a uma forte pressão”.

O sociólogo teme que catástrofes naturais, como vagas de calor, secas e a subida do nível do mar, conduzam a conflitos sociais significativos, pondo a democracia à prova.

“As crises ou situações de emergência podem, em alguns casos, ter efeitos positivos para a democracia, aproximando as pessoas”, adianta. Por outro lado, “também podem ser utilizadas como pretexto para regimes autocráticos ou híbridos restringirem as liberdades democráticas”.

A insegurança alimentar, as crises económicas e a migração são apontadas como consequências das alterações climáticas, que minam a estabilidade democrática, especialmente em democracias débeis.