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Pureza Fleming

A insustentável “leveza” da moda

23 Mar 2024 - 10:00
De marcas de luxo à denominada “fast fashion”, são vários os exemplos de práticas pouco sustentáveis numa indústria a necessitar cada vez mais de urgente reconversão.

A marca italiana Loro Piana, pertencente ao grupo LVMH, líder mundial em produtos de luxo, está sob escrutínio por alegadamente explorar povos indígenas dos Andes peruanos que fornecem a fibra natural mais cara do mundo. Um relatório da Bloomberg revelou que esta casa de moda está a usar mão-de-obra não remunerada para produzir camisolas de vicunha que são vendidas por 9 mil dólares (cerca de 8.283€).

Ora a comunidade indígena de Lucanas, que fornece a lã, recebe apenas $280 (cerca de 305€) pelo equivalente em fibra, deixando os trabalhadores que pastoreiam e tosquiam a lã a trabalhar praticamente sem remuneração. Estes camelídeos nativos dos Andes do Peru, conhecidos como vicunhas (Vicugna vicugna), são descritos como tendo a lã mais fina, rara e cara do mundo.

As vicunhas são a espécie de camalídeo mais pequena dos Andes e é conhecida por ter “a lã mais fina, rara e cara do mundo”.

Neste contexto, o congressista americano de origem peruana Robert Garcia escreveu uma carta ao Presidente do Conselho de Administração da Loro Piana, Antoine Arnault, e ao CEO Damien Bertrand, onde exigiu que a empresa fornecesse respostas escritas ao Congresso americano até ao final de abril. Na carta, o congressista questiona as práticas daquela casa de luxo, enquanto manifesta preocupação com a população andina.

“Apesar do sucesso da Loro Piana, os povos indígenas desta região continuam profundamente empobrecidos”, escreveu Garcia na carta, cuja cópia foi vista pela Bloomberg. “Há poucas evidências de que os benefícios do retorno da população de vicunhas tenham chegado às pessoas que mais os deveriam beneficiar.”

Questionada sobre a carta, a Loro Piana destacou que tem trabalhado para ajudar a preservar a população de vicunhas há três décadas. “Também aumentámos os nossos investimentos em irrigação, educação e infraestruturas no Peru ao longo dos últimos anos, e estamos comprometidos em dedicar recursos adicionais para beneficiar as populações locais no futuro”, disse a empresa em comunicado por e-mail.

As novas marcas de fast-fashion online, que cresceram à custa dos preços baixos e da rapidez com que lançam coleções, também não são um exemplo de sustentabilidade.

A nova moda “mastiga-e-deita-fora”

Do outro lado da moeda, as novas marcas de fast-fashion online, que nos últimos anos cresceram à custa dos preços baixos e da rapidez com que lançam novas coleções, também não são propriamente um exemplo de sustentabilidade, como alerta a aplicação Good on You.

Apoiada pela atriz e ativista ambiental Emma Watson, esta aplicação apresenta-se como “uma fonte confiável de classificações de marcas de moda sustentável”, fornecendo aos consumidores informações claras sobre o impacto das marcas no planeta, nas pessoas e nos animais.

Assim e “através de um sistema de classificação rigoroso”, a Good On You analisou uma seleção de marcas de fast-fashion, atribuindo a algumas a classificação de “De Evitar”, a mais baixa da sua tabela.

Ainda segundo a aplicação, estas marcas falham em fornecer informações sobre as suas práticas de sustentabilidade e ética, levantando preocupações face ao impacto negativo que têm no meio ambiente e na sociedade.

Quais são, então, as marcas a evitar?

CIDER

A marca online chinesa não comunica informações suficientes sobre as suas políticas ambientais e laborais.

VRG GRL

Fundada pelas australianas Natalia Suesskow e Daniella Dionyssiou, em 2007, esta marca online segue a cartilha da fast-fashion, proporcionando “estilo” a preços baixos, mas, como se sabe, em termos ambientais e sociais, o barato sai quase sempre caro. A marca obteve uma das classificações mais baixas da good on you.

Edikted

Com base nos Estados Unidos, a Edikted é uma marca de moda online orientada para a Geração Z, fortemente influenciada pela cultura pop e tecnologia. “Embora a marca pareça focar-se nos estilos e tendências mais recentes, tem-se mantido afastada de fazer quaisquer avanços quando se trata de sustentabilidade ou garantia dos direitos dos trabalhadores”, lê-se no relatório da good on you.

Missguided

As conclusões sobre “a empresa retalhista de fast-fashion do momento” levantam muitas dúvidas, exatamente porque são inconclusivas: “a Missguided, não fornece informações suficientes sobre o seu impacto nas pessoas, no planeta e nos animais”.

Fashion Nova

Tal como muitas outras marcas, também a esta empresa americana de venda de roupa online fornece “informações insuficientes e relevantes” sobre como reduz o seu impacto nas pessoas, no planeta ou nos animais.

SHEIN

Fundada em 2008, a Shein conta atualmente com cerca de 27 milhões de seguidores no Instagram e é talvez a marca de de fast-fashion mais conhecida do mundo. “Num desfecho não tão surpreendente assim, a SHEIN recebe a nossa pontuação mais baixa de”, escrevem os editores da good on you.

Romwe

Mais uma vez, esta marca fornece “informações insuficientes acerca de como reduz o seu impacto nas pessoas, no planeta ou nos animais”.

Hot Topic

A procura pela originalidade que procuram nas sucessivas coleções não parece ser aplicada no que às práticas sustentáveis diz respeito, como se conclui mais uma vez pela avaliação da Good on You: “informações insuficientes e relevantes sobre como reduz o seu impacto nas pessoas, no planeta e nos animais”.

PacSun

Fundada em 1980 como Pacific Sunwear, a americana PacSun é hoje uma das principais marcas de lifestyle, oferecendo diversas coleções anuais a uma comunidade de clientes cada vez mais jovens. “Apesar de seguir a cultura jovem no TikTok, a PacSun falhou em evoluir de forma sustentável, fazendo pouco para fornecer direitos dos trabalhadores ou ambientais”, expõe a good on you.

Brandy Melville

E para não variar, esta marca britânica fornece “informações insuficientes e relevantes sobre como reduz o seu impacto nas pessoas, no planeta e nos animais”.