O sector dos transportes é responsável por cerca de 23% das emissões mundiais de CO2, pelo que repensar a mobilidade individual tornou-se fulcral para o alcance de um futuro ambientalmente sustentável. Quando comparadas com outros meios de transportes, as bicicletas têm óbvias desvantagens em viagens de longa distância devido aos limites de velocidade e ao esforço físico necessário. Mas no que à mobilidade de curta distância diz respeito, especialmente em espaços urbanos, são sem dúvida a opção mais verde. A circulação em bicicleta tem uma pegada de carbono significativamente menor que a de automóvel, com pouco mais de 20g de CO2 emitidos por quilómetro.
Também no que toca à sua produção, a bicicleta é a opção mais amiga do ambiente. Segundo o relatório de sustentabilidade da maior construtora dos Estados Unidos, a Trek, em 2021 a manufatura de bicicletas de alumínio produzia à volta de 125 quilos em CO2. A produção de bicicletas em aço é ainda mais verde, tendo uma pegada de carbono dois terços menor. Infelizmente, para os fãs das bicicletas em fibras de carbono as notícias não são nada boas, pois a sua produção tem cerca do triplo de emissões de CO2.
As bicicletas comercializadas em Portugal são montadas a partir de partes produzidas por toda a Europa, tornando-se a monitorização da sua pegada de carbono mais complexa e imprecisa. No entanto, segundo a Confederação da Indústria Europeia de Bicicletas, Portugal é o sexto maior produtor de partes e acessórios para bicicletas no continente, com uma indústria que gera acima dos 121 milhões de euros.
O país é também o maior fabricante europeu de rodas e correntes para bicicletas, e o primeiro no mundo a ter uma fábrica de produção de quadros em alumínio totalmente automatizada. A produção e montagem em solo nacional de bicicletas na sua totalidade torna-se assim uma possibilidade a curto prazo, o que poderia baixar consideravelmente as emissões de CO2 para qualquer unidade “made in Portugal” vendidas no país.
Na avaliação da sustentabilidade do uso da bicicleta convém também ter em conta que a maioria dos capacetes e demais acessórios de segurança à venda são praticamente impossíveis de reciclar. Opções mais ecológicas começam agora a entrar no mercado, mas ainda a preços proibitivos para a maioria dos consumidores.
Talvez o passo mais importante na avaliação da sustentabilidade do ciclismo enquanto meio de transporte, depois do cálculo da pegada do carbono, seja o estudo da infraestrutura existente. Até porque As ciclovias ou espaços em que a bicicleta possa ser usada em segurança, são fundamentais para a adoção da mesma no dia-a-dia.
Segundo os mais recentes dados da European Cyclist Federation (ECF), em Portugal somente 2.5% da infraestrutura rodoviária é composta por ciclovias segregadas – o equivalente a uns meros 1716 quilómetros. A extensão é um pouco maior – 2358 quilómetros – se contarmos com estradas partilhadas com autocarros e outras vias limitadas a motorizados, mas fica muito aquém dos 6000 quilómetros em vias cicláveis projetadas para 2023, como parte da Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável 2020-2030 do governo.
Com um aumento em popularidade das bicicletas desde a pandemia, os acidentes aumentaram em 20,4% entre 2020 e 2021, e em 8,7% entre 2021 e 2022. E os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária mostram que só no ano passado morreram 19 ciclistas.
Em Portugal, uma bicicleta nova em aço pode facilmente chegar aos €200, em alumínio aos €300. O valor é inferior ou comparável a um ano em passes mensais para os transportes públicos de Lisboa ou Porto, mas significativamente mais baixo que os custos de manutenção de um automóvel no mesmo período. Uma vitória clara para a bicicleta em tempos de crise de custo de vida.
Os programas de bicicletas partilhadas são outra alternativa para quem não esteja pronto a investir numa bicicleta só sua ou para quem não tenha onde a guardar. Companhias privadas como a Bolt ou a Bird cobram à volta de €1 por utilização, mais uma fração por minuto em bicicletas elétricas. Em Lisboa, o programa Gira dá acesso a viagens até 45 minutos em bicicletas elétricas e normais por €2 por dia. Mas também há passes mensais e anuais para utilizadores frequentes e valores especiais para residentes na capital.
Para os que procuram uma solução mais rápida e menos fisicamente desgastante, a bicicleta elétrica é hoje a opção por excelência. Conseguindo chegar aos 25km/h não é de admirar que seja este o sector em maior crescimento, com cinco milhões de bicicletas elétricas vendidas na Europa só em 2021.
Infelizmente a sua manufatura continua a ser menos verde do que o desejável, com a ECF a calcular a pegada ecológica da produção de uma ebike em 134 quilos de CO2. Isto sem contar com a eletricidade usada no recarregar da bateria, que em média tem uma autonomia de 40 quilómetros.
E se o preço de uma elétrica nova começa por volta dos €700, o valor pode aumentar consideravelmente dependendo da durabilidade e capacidade da bateria. Revelando assim que ainda há muito a aperfeiçoar na sustentabilidade das ebikes.