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Teresa Lencastre

A agricultura regenerativa tem vantagens ambientais?

5 May 2024 - 09:00
A agricultura regenerativa tem sido apontada por vários especialistas como uma aliada no combate às alterações climáticas. Há quem diga que é até capaz de reduzir o “fosso” entre ambientalistas e agricultores, cujo diálogo nem sempre é fácil. Mas o que é, afinal, esta prática?

O World Economic Forum define agricultura regenerativa como “uma abordagem sistemática para adotar as melhores práticas sustentáveis que têm um impacto positivo na natureza e no clima”.

“Trata-se de produzir mais alimentos utilizando menos recursos do planeta”, adianta a organização internacional.

Em entrevista ao Green eFact, André Antunes, consultor de agricultura regenerativa, dá mais pistas sobre o conceito. De acordo com este especialista, a agricultura regenerativa é uma “maneira nova de trabalhar e de conceber o complexo catalisador solo/planta”, isto é a interação dinâmica entre o solo e as plantas.

“A agricultura regenerativa tem como objetivo principal usar três recursos gratuitos: o ar, a água e a luz solar. O que nós tentamos com a agricultura regenerativa é minimizar os obstáculos no sistema catalisador solo/planta e alavancar os processos bioquímicos e fotossintéticos.”

De acordo com o especialista português André Antunes, a agricultura regenerativa promove a fertilidade natural do solo, reduzindo o uso de fertilizantes químicos e pesticidas.

André Antunes considera que a agricultura regenerativa faz parte da solução para combater a crise climática, por vários motivos. Em primeiro lugar, porque potencia o sequestro de carbono no solo, através de práticas como o uso de coberturas vegetais ou a rotação de culturas. Além disso, previne a erosão, “que sempre foi o grande dano ambiental da agricultura convencional”, e “promove a biodiversidade acima e abaixo do solo”.

“Um dos princípios da agricultura regenerativa é ter os solos cobertos o máximo de tempo possível. Outro princípio importante é a preservação da água no solo, aumentando a porosidade e a percolação, isto é, a maneira como a água circula, de forma lenta, recarregando os aquíferos”, sublinha.

Segundo o consultor, a agricultura regenerativa promove a fertilidade natural do solo, reduzindo o uso de fertilizantes químicos e pesticidas. Em alternativa, aproveita os recursos naturais disponíveis na terra, como as reservas de fósforo e o CO2 atmosférico.

“As plantas ‘comem’ CO2 do ar. O maior nutriente das plantas está na atmosfera. Com a agricultura regenerativa, conseguimos potenciar isso e produzir alimentos e fibras têxteis com uma fração ínfima dos recursos”, acrescenta André Antunes.

Esta prática previne a erosão, “que sempre foi o grande dano ambiental da agricultura convencional”, e “promove a biodiversidade acima e abaixo do solo”.

Admitindo que o conceito é “complexo”, André Antunes diferencia a agricultura regenerativa da convencional e da biológica. No que toca ao uso de fertilizantes sintéticos, por exemplo, é uma espécie de meio termo entre as duas. Não os privilegia, mas também não os rejeita totalmente.

“A agricultura regenerativa recomenda e tende para processos orgânicos e biológicos”, refere. Ainda assim, ao contrário da agricultura biológica, “não impede que se usem fertilizantes sintéticos em situações específicas, de modo a promover a absorção eficiente de nutrientes pelas plantas”.

Por prever benefícios ambientais, não ser “fundamentalista” em relação aos fertilizantes sintéticos e não comprometer a rentabilidade, a agricultura regenerativa apresenta-se como uma solução conciliadora e capaz de minimizar o conflito frequente entre ambientalistas e agricultores, considera André Antunes.

“Por parte dos ambientalistas, há também muitas vezes a tendência de apontar o dedo e não apresentar soluções”, considera.

A agricultura regenerativa apresenta-se como uma solução conciliadora e capaz de minimizar o conflito frequente entre ambientalistas e agricultores, considera André Antunes.

Por outro lado, esse diálogo não é facilitado pela indústria agroquímica. A título de exemplo, André Antunes fala numa campanha recente da Bayer que promove a agricultura regenerativa. A iniciativa desagradou a Associação Ibérica de Agricultura Regenerativa, que acusou a empresa de se apropriar indevidamente do conceito.

Também o Financial Times abordou recentemente a propaganda de grandes empresas do setor alimentar e agroalimentar – como a Danone, a PepsiCo, a Nestlé e a Cargill –, que “estão a promover a agricultura regenerativa como forma de reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa”.

No artigo, lê-se que “a agricultura regenerativa faz muito sentido”, prevendo “benefícios para o ambiente, os agricultores e a produção alimentar”. Por outro lado, o jornal cita discursos exagerados sobre a capacidade do solo em armazenar carbono.

“O ângulo do carbono foi sobrevalorizado”, diz Pete Smith, professor de solos e alterações globais na Universidade de Aberdeen, ao jornal.

Santiago Gowland, CEO da Rainforest Alliance, é outro dos que alerta para o chamado “greenwashing” em torno desta prática agrícola. Num artigo publicado no World Economic Forum, diz que é preciso saber distinguir “os verdadeiros defensores da sustentabilidade”.