“Os espaços verdes urbanos constituem um ecossistema fundamental, que integra as variáveis solo, água, flora e fauna”, refere Ana Cristina Costa, que é também dirigente do Núcleo de Braga da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA).
Para satisfazer as necessidades fisiológicas, psicológicas, ambientais, sociais e estéticas dos seres humanos, é essencial que essas variáveis estejam em equilíbrio, explica a Ana Cristina Costa, que ao longo do seu percurso tem feito ações de jardinagem sustentável em escolas.
“Todos devemos atuar de forma sustentável e, como tal, a jardinagem não é exceção, na preservação dos recursos solo e água e na criação de condições para auxiliar a manter o máximo de biodiversidade. Daí que a escolha de espécies de flora autóctone seja prioritária”, refere a técnica, quando questionada sobre qual é o principal ensinamento que procura transmitir aos alunos.
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O medronheiro é uma espécie autóctone de Portugal continental. Está bem adaptada ao clima e solo locais, tendo menor necessidade de água e manutenção.
Ana Cristina Costa deixa mais conselhos para quem quer jardinar de forma consciente e sustentável.
Estudar as características do ambiente
Antes de iniciar um projeto de jardinagem, importa estudar a localização, a forma e o tamanho do espaço disponível, as propriedades do solo, o microclima da zona e a vegetação existente. Este conhecimento permite um planeamento mais eficaz e sustentável, refere Ana Cristina Costa.
Conhecer as necessidades dos utilizadores
Perceber as necessidades dos potenciais utilizadores do espaço verde é importante, adianta Ana Cristina Costa: “Se for junto de um jardim de infância é completamente diferente do que se for junto de um lar de dia”.
Os jardins para crianças, por exemplo, podem focar-se mais na segurança e estimulação sensorial ativa com áreas de brincadeira, ao passo que os jardins para seniores podem enfatizar a acessibilidade, o conforto e elementos relaxantes para promover o bem-estar.
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Os jardins para crianças, por exemplo, podem focar-se mais na segurança e estimulação sensorial ativa com áreas de brincadeira.
Planificar funções específicas
Jardinar de forma sustentável também passa por definir as funções a potenciar no espaço verde, como “caminhadas, piqueniques ou a observação da paisagem”, refere Ana Cristina Costa. Isso orienta o design e a escolha dos elementos vegetais e estruturais do jardim.
Escolher e conservar plantas com critério
Ao escolher plantas e conservar as existentes, importa conhecer os “requerimentos ecológicos das espécies”, como as suas necessidades de luz, solo e água, para “planificar adequadamente a sua distribuição no espaço”, diz Ana Cristina Costa.
Neste contexto, vale a pena considerar a dimensão máxima das espécies e evitar plantações excessivamente distantes ou próximas para garantir um crescimento saudável.
Por outro lado, importa perceber se as plantas vão impactar elementos arquitetónicos próximos, prevenindo danos e custos adicionais de manutenção, e integrar espécies de crescimento rápido e lento.
“No desenho de uma nova zona verde deverão ser integrados estes dois tipos de plantas, para aproveitar as vantagens de duas estratégias ecológicas diferentes, mas compatíveis”, refere.
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Ana Cristina Costa também admite a integração de plantas bem-adaptadas de outras latitudes, desde que não sejam invasoras, como camélias.
Privilegiar plantas autóctones
Ana Cristina Costa também recomenda a criação de jardins que exijam pouca manutenção, de forma a poupar recursos e a promover a sustentabilidade. Para isso, importa privilegiar plantas resistentes e autóctones, que reduzam a necessidade de cuidados intensivos.
Em Portugal, espécies como o sobreiro, a esteva e o medronheiro são ideais, já que estão bem adaptadas ao clima e solo locais, tendo menor necessidade de água e manutenção. Plantas mais pequenas, como o alecrim, o tomilho e o rosmaninho também são boas escolhas para jardins sustentáveis.
Ainda assim, Ana Cristina Costa também admite a integração de plantas bem-adaptadas de outras latitudes, desde que não sejam invasoras, como camélias ou pinheiros.
“O conjunto vegetal do jardim deverá ser resistente às condições climáticas da área onde se localizará a nova área verde”, acrescenta.
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Ana Cristina Costa também recomenda a criação de jardins que exijam pouca manutenção, de forma a poupar recursos e a promover a sustentabilidade.
Regar com eficiência
A técnica também aconselha a adoção de um sistema de rega eficiente e automático, que inclua pluviómetros e segmente áreas de irrigação, “de acordo com as necessidades hídricas das plantas”. O sistema de rega deve ainda ter uma “ampla rede de bocas de rega” e ser alvo de “manutenção periódica e constante”.
Optar por prados de sequeiro
Optar por prados de sequeiro, isto é, áreas de vegetação “com menores exigências hídricas”, também é importante. Ana Cristina Costa recomenda ainda a plantação de espécies rastejantes, como o tomilho ou a erva-das-sete-sangrias, que crescem horizontalmente e também precisam de menos água.
Usar “mulch”
Por último, a técnica em educação ambiental aconselha o uso de “mulch”, isto é uma camada de material orgânico (como palha ou casca de árvore) ou inorgânico (como pedras ou cascalho) espalhada sobre o solo.
“Com esta técnica conseguem-se enormes reduções de custos de manutenção, principalmente por diminuição dos consumos de água de rega, ao reduzir as perdas de água por evaporação e ao reduzir o aparecimento de ervas silvestres”, refere Ana Cristina Costa.
Por outro lado, a cobertura com “mulch” impede a formação de crosta superficial, reduz a compactação do terreno, melhora o arejamento, evita a escorrência superficial, impede a erosão, permite reduzir a superfície de relvados e oculta as instalações de regas superficiais.
“Para além disso, com a utilização destas coberturas de solo poderão conseguir-se resultados de elevado valor estético”, conclui.
Mitigar alterações climáticas
A jardinagem também tem um papel importante na mitigação das alterações climáticas, defende Ana Cristina Costa. Neste contexto, a presença de árvores em espaços urbanos é crucial. “As árvores na cidade são essenciais pelo seu papel no amenizar das temperaturas, melhoria da qualidade do ar e redução do ruído. Reduzem ainda a erosão em alguns locais, aumentando a infiltração da água – tudo vantagens em situação de alterações climáticas”, diz a técnica de educação ambiental.
Por outro lado, a presença de árvores também permite que os cidadãos urbanos tenham consciência da passagem das estações e dos ciclos biológicos. Uma vez que demoram a crescer, a plantação de árvores em cidades tem particular urgência, considera Ana Cristina Costa.