{"id":5082,"date":"2024-04-15T09:00:00","date_gmt":"2024-04-15T09:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/greenefact.sapo.pt\/?post_type=entrevista&p=5082"},"modified":"2024-04-14T17:55:04","modified_gmt":"2024-04-14T17:55:04","slug":"aldina-duarte-e-urgente-a-transicao-de-uma-civilizacao-economica-para-uma-civilizacao-ecologica","status":"publish","type":"entrevista","link":"https:\/\/greenefact.sapo.pt\/entrevista\/aldina-duarte-e-urgente-a-transicao-de-uma-civilizacao-economica-para-uma-civilizacao-ecologica\/","title":{"rendered":"Aldina Duarte: \u201c\u00c9 urgente a transi\u00e7\u00e3o de uma civiliza\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica para uma civiliza\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica\u201d"},"content":{"rendered":"
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\n A fadista estreia-se esta quarta-feira em nome pr\u00f3prio no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com um concerto servir\u00e1 para apresentar o novo \u00e1lbum Metade-Metade, escrito por Capicua e apresentado pela pr\u00f3pria Aldina Duarte como uma declara\u00e7\u00e3o de amor \u00e0 natureza, mas tamb\u00e9m uma cr\u00edtica \u00e0 \u201cvis\u00e3o antropoc\u00eantrica\u201d e \u201ccientificamente desfasada\u201d da sociedade em que vivemos. <\/div>\n\n
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Pode-se afirmar que este ser\u00e1 o seu \u00e1lbum mais arriscado, pelo modo como explora tantos e t\u00e3o novos territ\u00f3rios musicais e po\u00e9ticos?<\/strong><\/p>\n

Acho que o CD2 do Romance(s)<\/em>, o \u00e1lbum duplo que fiz com o Pedro Gon\u00e7alves como produtor musical \u00e9 mais ousado musicalmente, ou seja, o ambiente sonoro e, consequentemente, a minha interpreta\u00e7\u00e3o pode dizer-se que estra\u00e7alharam a sonoridade do fado, ao ponto de n\u00e3o haver, sequer, a guitarra e a viola. Neste Metade-Metade<\/em> \u00e9 mais o novo l\u00e9xico, os temas in\u00e9ditos e a extrema musicalidade da palavra e na constru\u00e7\u00e3o do verso resultante da escrita da Capicua, que acrescentam, de facto, a linguagem do repert\u00f3rio fadista em geral e do meu. H\u00e1 uma declara\u00e7\u00e3o de amor a uma \u00e1rvore – Arauc\u00e1ria<\/em> – o pr\u00f3prio nome da \u00e1rvore da minha vida; um fado pol\u00edtico sobre a pobreza – Majestade [25ABRIL]<\/em>; a natureza ser central ao longo de todo o disco, o que contradiz a vis\u00e3o antropoc\u00eantrica, a meu ver desfasada, cientificamente falando; a liberdade e a poesia, enquanto alimento na evolu\u00e7\u00e3o humana; n\u00e3o haver o tema do amor rom\u00e2ntico. Todas estas diferen\u00e7as acrescentam po\u00e9tica e tematicamente, provocando uma renova\u00e7\u00e3o natural. Sendo que o fado chega aos dias de hoje, com a pujan\u00e7a que conhecemos, porque a renova\u00e7\u00e3o dentro da tradi\u00e7\u00e3o \u00e9 uma constante na sua longa hist\u00f3ria musical e po\u00e9tica.<\/p>\n

Outra novidade \u00e9 a import\u00e2ncia do sil\u00eancio nos arranjos para que a m\u00fasica da palavra, a poesia verso a verso e a pr\u00f3pria mensagem se ampliem. Ou seja, a minha voz, a escolha dos instrumentos, os duetos voz \/ instrumento, tudo se constr\u00f3i \u00e0 volta do poema, digo poema porque acho que a letrista e rapper Capicua se tornou poetisa ao aprender a escrever para as melodias do fado tradicional.<\/p>\n

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Como afirmou e pela primeira vez canta tamb\u00e9m o amor de uma forma mais universal e menos rom\u00e2ntica: o amor pela natureza e pelas pessoas, atrav\u00e9s de uma apologia da ecologia, da liberdade e da igualdade, da den\u00fancia do preconceito e da pobreza. Concorda que ser\u00e1, porventura, o seu trabalho mais pol\u00edtico?<\/strong><\/p>\n

Intencionalmente pol\u00edtico, sim. Ainda que tenha temas conscientemente politizados em discos anteriores, Princesa Prometida<\/em> \u00e9 um fado feminista, e Ref\u00fagio<\/em> \u00e9 um alerta para o problema dos refugiados, ambos escritos por mim. E h\u00e1 tamb\u00e9m o Ela<\/em>, um poema sobre a for\u00e7a feminina, escrito pelo Manel Cruz. Mas, sim, este disco \u00e9 o mais pol\u00edtico conceptualmente.<\/p>\n <\/div>\n\n

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“A inconsci\u00eancia pol\u00edtica nas quest\u00f5es clim\u00e1ticas que comprometem o futuro da humanidade”, \u00e9 um dos temas abordados no novo disco de Aldina Duarte, escrito por Capicua (Foto: Isabel Pinto).<\/p> <\/div>\n<\/div>\n\n\n\n

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O que a levou a seguir este caminho? Foi algo premeditado ou surgiu devido \u00e0 escrita da Capicua?<\/strong><\/p>\n

Surgiu do encontro de duas mulheres com grandes afinidades pol\u00edticas e art\u00edsticas. Logo que come\u00e7\u00e1mos as oficinas de escrita para fado, a pedido da Capicua, como condi\u00e7\u00e3o para aceitar o meu pedido para que me escrevesse um disco inteiro, percebemos de imediato que a sua escrita levaria o meu fado para novos temas. E, a meio do caminho da aprendizagem, surgiu uma nova linguagem e um novo estilo po\u00e9tico.<\/p>\n

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Como surgiu esta parceria com a Capicua?<\/strong><\/p>\n

Eu admirava o trabalho e a personalidade art\u00edstica da Capicua, identificava-me humanamente, achei que uma parceria art\u00edstica com algu\u00e9m assim s\u00f3 poderia ser enriquecedora. E eu, para gravar um disco, tenho de querer dizer alguma coisa \u00e0s pessoas, e as minhas grandes quest\u00f5es eram o aumento da pobreza e a perda de liberdade que isso implica para as classes mais desfavorecidas, o dom\u00ednio do mercado das artes descart\u00e1veis, a inconsci\u00eancia pol\u00edtica nas quest\u00f5es clim\u00e1ticas que comprometem o futuro da humanidade… n\u00e3o podia ter encontrado melhor parceira criativa.<\/p>\n

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\n “\u00c9 incompreens\u00edvel que uma esp\u00e9cie que \u00e9 capaz de ir \u00e0 Lua, operar um feto no \u00fatero materno ou escrever os Lus\u00edadas destrua estupidamente um planeta ao ponto de se autodestruir.” <\/div>\n<\/div>\n\n\n\n
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Num tempo de trincheiras cada vez mais definidas, \u00e9 importante os artistas assumirem posi\u00e7\u00f5es atrav\u00e9s da sua obra?<\/strong><\/p>\n

Importante \u00e9 um artista dar o seu melhor, isto \u00e9, servir autenticamente a sua arte. Um grande cantor, m\u00fasico ou pintor, ao exercerem o seu talento ser\u00e3o sempre interventivos, e as suas obras uma contribui\u00e7\u00e3o que pode tornar a humanidade mais sens\u00edvel e pensante, ou n\u00e3o, sem se posicionarem publicamente nas quest\u00f5es politicas ou sociais. E um artista se achar que a sua arte deve ser o retrato das suas convic\u00e7\u00f5es pol\u00edticas ou de qualquer tipo de ativismo social, como fiz quest\u00e3o neste meu disco, ou que deve aproveitar o seu espa\u00e7o medi\u00e1tico para defender as suas convic\u00e7\u00f5es, como tenho feito desde o primeiro disco, acho igualmente leg\u00edtimo. Se um artista, como tantas pessoas, n\u00e3o tem na vida uma consci\u00eancia pol\u00edtica n\u00e3o a ter\u00e1 artisticamente.<\/p>\n

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N\u00e3o tem receio de alienar eventuais f\u00e3s devido a isso?<\/strong><\/p>\n

No dia em que isso me passar pela cabe\u00e7a, na cria\u00e7\u00e3o art\u00edstica do que quer que seja, paro na hora, e parto para uma reflex\u00e3o muito, muito, profunda sobre o que quero realmente fazer da minha arte e na vida.<\/p>\n

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Aldina Duarte estreia-se no Coliseu dos Recreios com um concerto intimista, em que parte do p\u00fablico vai partilhar o palco com a artista.<\/p> <\/div>\n<\/div>\n\n\n\n

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Como \u00e9 a sua rela\u00e7\u00e3o com temas como o ambiente, a ecologia e a natureza num sentido mais lato?<\/strong><\/p>\n

Acho que \u00e9 urgentent\u00edssimo come\u00e7armos a trabalhar na transi\u00e7\u00e3o de uma civiliza\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica para uma civiliza\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica, porque sen\u00e3o a esp\u00e9cie humana acaba, e n\u00e3o o planeta como se ouve dizer. \u00c9 incompreens\u00edvel que uma esp\u00e9cie que \u00e9 capaz de ir \u00e0 Lua, operar um feto no \u00fatero materno ou escrever os Lus\u00edadas destrua estupidamente um planeta ao ponto de se autodestruir. Parece que muitos dos humanos cegaram com a ilus\u00e3o do poder do dinheiro, mesmo sabendo que n\u00e3o ir\u00e1 ficar\u00e3o por c\u00e1 mais que cem anos, na melhor das hip\u00f3teses.<\/p>\n

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A fadista estreia-se esta quarta-feira em nome pr\u00f3prio no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com um concerto servir\u00e1 para apresentar o novo \u00e1lbum Metade-Metade, escrito por Capicua e apresentado pela pr\u00f3pria Aldina Duarte como uma declara\u00e7\u00e3o de amor \u00e0 natureza, mas tamb\u00e9m uma cr\u00edtica \u00e0 \u201cvis\u00e3o antropoc\u00eantrica\u201d e \u201ccientificamente desfasada\u201d da sociedade em que vivemos.<\/p>\n","protected":false},"featured_media":5083,"template":"","categories":[316,301,184],"tags":[],"acf":[],"yoast_head":"\nAldina Duarte: \u201c\u00c9 urgente a transi\u00e7\u00e3o de uma civiliza\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica para uma civiliza\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica\u201d - greenefact.sapo.pt<\/title>\n<meta name=\"description\" content=\"A fadista estreia-se esta quarta-feira em nome pr\u00f3prio no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com um concerto servir\u00e1 para apresentar o novo \u00e1lbum Metade-Metade, escrito por Capicua e apresentado pela pr\u00f3pria Aldina Duarte como uma declara\u00e7\u00e3o de amor \u00e0 natureza, mas tamb\u00e9m uma cr\u00edtica \u00e0 \u201cvis\u00e3o antropoc\u00eantrica\u201d e \u201ccientificamente desfasada\u201d da sociedade em que vivemos.\" \/>\n<meta name=\"robots\" content=\"index, follow, max-snippet:-1, max-image-preview:large, max-video-preview:-1\" \/>\n<link rel=\"canonical\" href=\"https:\/\/greenefact.sapo.pt\/entrevista\/aldina-duarte-e-urgente-a-transicao-de-uma-civilizacao-economica-para-uma-civilizacao-ecologica\/\" \/>\n<meta property=\"og:locale\" content=\"en_US\" \/>\n<meta property=\"og:type\" content=\"article\" \/>\n<meta property=\"og:title\" content=\"Aldina Duarte: \u201c\u00c9 urgente a transi\u00e7\u00e3o de uma civiliza\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica para uma civiliza\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica\u201d - 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