A abordagem de One Health parte da premissa de que a saúde de pessoas, animais e do meio ambiente são interdependentes, realçando o frágil e volátil estado de equilíbrio em que o nosso planeta se encontra.
Em tempos de pandemia, como a que enfrentámos recentemente com a COVID-19, esta interdependência tornou-se ainda mais evidente. Estipula-se que este tipo de coronavírus tenha tido origem em animais, provavelmente morcegos, antes de ser transmitido para os humanos, realçando de forma dramática como a saúde dos animais pode influenciar diretamente a saúde humana, e como a desconsideração pelo fator ambiental pode exacerbar a emergência e propagação de novas doenças. One Health não é, portanto, apenas mais uma teoria, mas uma necessidade prática e real que requer a cooperação de diferentes disciplinas para proteger a saúde global.
É importante ter presente que a profunda ligação entre a saúde animal e a saúde humana vai muito além das doenças transmissíveis entre animais e humanos, as denominadas zoonoses. A forma como tratamos e interagimos com os animais tem um impacto inegável na nossa qualidade de vida – doenças como a gripe aviária e a leishmaniose são exemplos claros de como o desleixo com a saúde animal pode desencadear graves crises sanitárias.
Não obstante, esta relação também pode (e deve) ser apreciada pelos seus numerosos aspetos positivos. Os benefícios terapêuticos que os animais de estimação trazem aos seus tutores, tanto em termos emocionais quanto físicos, são irrefutáveis e ilustram como a saúde animal e humana podem beneficiar mutuamente, formando uma simbiose de excelência.
Perante esta realidade, na UPPartner, desde logo, reconhecemos o One Health como o único trajeto a percorrer para alcançar um equilíbrio global. Foi com esse intuito que desenvolvemos os One Health Pet Awards, que reconhecem e celebram projetos inovadores que integram a saúde humana, animal e ambiental. Este tipo de iniciativas visa promover a colaboração interdisciplinar, assim como consolidar a consciência pública sobre a importância de encarar estas três esferas da saúde como uma só.
Contudo, e apesar dos benefícios evidentes, a implementação de uma abordagem One Health acarreta certos desafios. A coordenação entre diferentes áreas de conhecimento, como a medicina humana, a medicina veterinária e as ciências ambientais, pode ser complexa. Cada uma destas áreas possui metodologias, objetivos e culturas distintas, o que pode dificultar a cooperação e a integração eficazes. Mais, muitos dos projetos que se alinham com o conceito de One Health requerem investimentos financeiros significativos, o que pode representar um obstáculo, especialmente em regiões com recursos limitados.
Quanto às oportunidades que poderão advir desta implementação, tecnologias de monitorização ambiental e de saúde, por exemplo, permitem integrar dados e responder rapidamente a surtos de doenças, promovendo uma resposta mais eficaz e sistematizada. Além disso, a crescente sensibilização pública sobre as interligações entre a saúde humana, animal e ambiental cria um ambiente favorável para a implementação de políticas mais integradas e sustentáveis, assim como comunidades mais unidas e fortalecidas em torno de um objetivo comum.
Abraçar a estratégia de One Health não é meramente uma questão de responder às crises atuais, mas sobretudo de preparar o terreno para um futuro mais saudável e sustentável. Ao fomentarmos uma maior cooperação entre as diferentes áreas da saúde, estaremos a proteger as gerações atuais e, ao mesmo tempo, a deixar um legado mais promissor para as gerações vindouras.
Afinal de contas, a saúde global não é uma soma de partes isoladas, mas um todo integrado que exige uma visão e ação holística. Este será o trajeto que nos permitirá afrontar os inevitáveis desafios de saúde que se avizinham com a eficácia e a humanidade que a nossa época exige.
Médico Veterinário / Health Care Director UPPartner