Hoje há consenso científico (99.99% dos climatologistas acreditam que o aquecimento global existe e provém de ação humana) relativamente ao nosso impacto no planeta: entramos no Antropoceno, um período geológico marcado pelas alterações da terra pelo Humano. Estamos a consumir os recursos do planeta, e a poluir o meio ambiente, de forma insustentável, de tal maneira que estamos a sobreaquecer a terra, a acidificar os mares, e a acabar com a biodiversidade.
Posso concluir portanto que há consenso científico, mas que infelizmente não há consenso económico. E como na nossa sociedade a economia governa as esferas sociais e políticas, entramos num grave dilema: Natureza v. Possibilidades de consumo e crescimento económico.
Neste momento prevalece a perspetiva Económica. A economia, de mãos dadas com a ideologia de liberdade de consumo enquanto liberdade do indivíduo, tem conseguido influenciar-nos, através de formas engenhosas de marketing, a embarcar numa vida individualista, com pouca conexão ao “outro”.
A problemática ambiental é no fundo uma crise social: um distanciamento entre o indivíduo e a comunidade; entre o indivíduo e a natureza. Este distanciamento é-nos imposto pela sociedade de consumo que nos aliena; distancia-nos da vida Política e das suas instituições que ficam à mercê de interesses de corporações – transformando estados Democráticos, em estados “corporativos”, o que descredibiliza o poder das instituições.
Se seguirmos o caminho da alienação, se continuarmos a delegar as nossas decisões a entidades com interesse absoluto no lucro, espera-nos um futuro sombrio: aumento do numero e de intensidade de catástrofes climáticas; conflitos climáticos (sendo que o primeiro foi a Guerra da Siria); Redução da capacidade de criar alimentos, e redução da capacidade nutritiva desses mesmos alimentos; Migrações climáticas em massa; detrimento da qualidade do ar, causando cada vez mais mortes (neste momento são 7 milhões todos os anos – um holocausto climático a cada 365 dias).
Compreendo que a tomada de consciência deste abismo que sobrevoamos possa trazer algum niilismo climático, no entanto é necessário um exercício de esperança.
Que podemos fazer? 70% da poluição é feita por 3% dos mais ricos da população mundial, pelo que as mudanças nos hábitos de consumo, a meu ver, pouco importam.
Creio que a resposta está em consciencializar os cidadãos e os líderes mundiais, tal como foi feito em 1986, quando foi descoberto o buraco na camada do Ozono, que está agora a recuperar. Temos de nos aproximar uns dos outros, criar comunidades; permitir o debate público; criar pressão política, não só com o nosso voto a cada 4 anos, como também através de ferramentas democráticas como: abaixo assinados, Conselhos de Cidadãos, e demonstrações/manifestações públicas.
Acabo este pequeno texto com algumas sugestões de leitura: “Pequeno tratado para um decrescimento sustentável”, de Latouche; Terra Inabitável, de Wallace Wells; 6a Extinção, de Elizabeth Colbert; Lucro, de Mark Stoll.
(Texto inspirado numa conversa com o ator Vasco Barroso)
*Ator, ativista e embaixador do projeto #DingDongEU