O Amanhecer de uma Nova Consciência
A década de 1970 foi marcada por crises ambientais e energéticas, que começaram a revelar a precariedade dos modelos de crescimento centrados no consumo ilimitado de recursos. Desastres como o derrame de petróleo ao largo da Califórnia e a crise do petróleo de 1973 enfatizaram a necessidade de políticas ambientais e de governança mais robustas, ilustrando que a ausência de enquadramento legal e de padrões corporativos claros acarretava riscos sistémicos.
Esta perceção impulsionou a emergência de entidades reguladoras especializadas, como a EPA (Environmental Protection Agency) nos Estados Unidos, e a formação de blocos de pensamento que convergiriam na ideia de responsabilidade corporativa. Foi neste contexto que a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) germinou, ainda que de forma tímida, embebida em campanhas de filantropia empresarial, mas longe de alterar profundamente as estruturas de capital ou a estratégia de longo prazo das grandes corporações.
O Salto Conceptual para o Desenvolvimento Sustentável
A publicação do Relatório Brundtland, em 1987, provocou uma rutura paradigmática ao vincar o conceito de “desenvolvimento sustentável”, sublinhando a interdependência entre progresso económico, equidade social e proteção ambiental.
A Cimeira do Rio (1992), com a Agenda 21 e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, sedimentou esta perspetiva ao nível político, embora ainda faltassem métricas concretas para avaliar, comparar e comunicar o desempenho socioambiental das empresas.
O início do século XXI, entretanto, assistiu à formalização do ESG como critério de investimento e à consolidação de quadros globais de reporte — como o GRI (Global Reporting Initiative) e, posteriormente, o SASB (Sustainability Accounting Standards Board).
Documentos cruciais, como o relatório Who Cares Wins (2004), e iniciativas como os Princípios de Investimento Responsável (PRI) das Nações Unidas (2006), demonstraram empiricamente que a sustentabilidade podia melhorar a solidez financeira de longo prazo, envolvendo menos riscos reputacionais e regulatórios.
Da Crise Financeira à Liderança Regulatória
A crise de 2008 expôs a face oculta dos mercados, acentuando a relevância de fatores como governança empresarial e ética corporativa. Tornou-se patente que o “valor” de uma organização transcende métricas financeiras e que práticas de gestão de risco e transparência são vetores determinantes de solidez.
Na última década, a União Europeia assumiu um papel de liderança regulamentar, com instrumentos como o Regulamento de Taxonomia, a SFDR e a CSRD — um “ecossistema legislativo” que desafia empresas e instituições financeiras a reportar e a integrar fatores ESG de forma sistemática.
Esta vaga regulatória, por sua vez, induziu um efeito de contágio global, levando outras jurisdições a adotarem padrões semelhantes, sob pena de perderem acesso a financiamento e a mercados estratégicos.
O Futuro: ESG como Imperativo Estratégico
Hoje, o ESG deixou de ser uma expressão de “boa vontade” para se afirmar como um imperativo estratégico. A convergência de padrões de reporte, a crescente influência de investidores e o aumento da literacia financeira, ambiental e social nos conselhos de administração sinalizam uma consolidação irreversível do conceito.
A expectativa é que as empresas incorporem cada vez mais metodologias quantitativas para aferir riscos e oportunidades, adotem metas de redução de emissões e promovam políticas inclusivas — não como mera retórica, mas como eixo central de criação de valor.
No contexto atual, a história e a evolução do ESG indicam que o único caminho de competitividade real e duradoura passa por harmonizar lucro e propósito, fazendo da sustentabilidade não apenas um requisito legal, mas a pedra angular do sucesso empresarial a longo prazo.