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Marina Prieto Afonso

Cronobiologia: um legado da nossa evolução no planeta Terra e a sua relação com a saúde e o bem-estar

27 May 2024 - 09:00
A cronobiologia é o ramo da psicologia e da biologia que estuda os ritmos biológicos dos seres vivos e as suas interações com o meio ambiente. Estes ritmos estão presentes no interior dos diversos organismos, em diferentes escalas temporais, desde os mais curtos até aos mais longos. São controlados por relógios biológicos internos e testemunham a adaptação dos organismos aos ritmos diurnos e noturnos, à dinâmica eletromagnética terrestre e à sua relação com os outros planetas e estrelas, como a lua e o sol.

Os ritmos biológicos internos são muito antigos e foram selecionados pela seleção natural durante a evolução da vida na Terra. Já existem nos organismos unicelulares aquáticos, como certas algas que se contraem e expandem em tempos regulares, e realizam as suas funções de sobrevivência básicas com um ritmo adaptado ao ambiente em que vivem.

Podemos compreender os ritmos biológicos como uma adaptação da fisiologia e do comportamento dos seres vivos a um ciclo de sincronizadores externos que foram, e continuam a ser importantes para a sobrevivência, e estes ritmos internalizados funcionam mesmo na ausência de sinais externos.

Organismos que experimentaram ciclos diurnos e noturnos recorrentes durante a sua evolução no planeta Terra, desenvolveram um oscilador bioquímico ou relógio circadiano interno que determina quais atividades, desde o sono até ao metabolismo celular, ocorrem em momentos biologicamente vantajosos.

O ciclo sono-vigília é um dos ritmos circadianos mais estudados nos humanos, e é controlado pelo hipotálamo, um pequeno órgão no interior de cérebro que regula a produção de hormonas, a temperatura, a sede e a fome.

Existem diversos ritmos biológicos. Os rítmos circadianos correspondem a curvas de atividade cobrindo as 24h do dia e da noite. O ritmo circadiano é influenciado pela luz do sol, pela temperatura, pelo movimento das marés e dos ventos, pelo dia e pela noite.

O ciclo sono-vigília é um dos ritmos circadianos mais estudados nos humanos, e é controlado pelo hipotálamo, um pequeno órgão no interior de cérebro que regula a produção de hormonas, a temperatura, a sede e a fome. Este ritmo regula também a atividade física, química, fisiológica e psicológica dos organismos, influenciando as diversas funções como a digestão, o estado de vigília, a pressão arterial e a regulação das células.

Se o ritmo de atividade é inferior a 20h, fala-se de ritmo ultradiano. Os ritmos ultradianos estão associados a processos fisiológicos que se repetem várias vezes ao longo do dia, como o ciclo de alimentação e de sono REM (fase do sono caraterizado por movimentos oculares rápidos).

Se o ritmo for superior a 28h, fala-se de ritmo infradiano. Um exemplo comum de ritmo infradiano é o ciclo menstrual nas mulheres e em outras fêmeas de primatas, com a duração média de 28 e 26 dias. Mais exemplos incluem os ritmos de hibernação em alguns animais, o ciclo de migração de aves e a floração de certas plantas.

A sincronização adequada dos ritmos biológicos com os sinais externos é essencial para a manutenção da saúde humana e não humana. Perturbações nos ritmos circadianos são observados em trabalhadores por turnos (…) ou em pessoas que sofrem de jet lag porque viajaram para países com diferentes fusos horários.

Os ritmos circanuais correspondem à periocidade típica de certos comportamentos regulados pela sucessão das estações. Estes ritmos relacionam-se com a variação da quantidade de luz solar ao longo do ano, e tanto a lua quanto o sol desempenham papéis importantes na sua regulação.

Por exemplo, muitos animais usam a fase da lua para sincronizarem os seus ritmos reprodutivos e comportamentais e, em certas tradições culturais, ainda se referem as fases da lua para as plantações ou as colheitas, e o nascimento dos bebés.

Quando o sinal externo não é um sincronizador verdadeiro, mas corresponde simplesmente a um agente físico orientando o comportamento, como é o caso, por exemplo, da facilitação da atividade da borboleta noturna pela luz artificial, fala-se então de fenómeno de indução e não de cronobiologia.

A atividade estará presente enquanto o próprio agente físico estiver presente, e a ação resulta da capacidade indutora do agente (como a luz, a gravidade ou substâncias químicas) em provocar uma reação.

Atividades deste tipo são correntemente exemplificadas pelas taxias nas plantas e pelos tropismos nos animais, que correspondem a orientações comportamentais para certos estímulos. É o caso da borboleta noturna atraída por uma fonte luminosa, os anelídeos pela humidade, ou o girassol orientando-se para a luz solar.

Os ritmos circadianos são extremamente afetados pelo quotidiano da vida moderna, marcada pela luz elétrica noturna, as televisões e os ecrãs dos computadores, tablets e telemóveis ligados por longos períodos.

Quando o sinal externo não é um sincronizador verdadeiro, mas corresponde simplesmente a um agente físico orientando o comportamento, como é o caso, por exemplo, da facilitação da atividade da borboleta noturna pela luz artificial, fala-se então de fenómeno de indução e não de cronobiologia. A atividade estará presente enquanto o próprio agente físico estiver presente, e a ação resulta da capacidade indutora do agente (como a luz, a gravidade ou substâncias químicas) em provocar uma reação.

Atividades deste tipo são correntemente exemplificadas pelas taxias nas plantas e pelos tropismos nos animais, que correspondem a orientações comportamentais para certos estímulos. É o caso da borboleta noturna atraída por uma fonte luminosa, os anelídeos pela humidade, ou o girassol orientando-se para a luz solar.

A sincronização adequada dos ritmos biológicos com os sinais externos é essencial para a manutenção da saúde humana e não humana. Perturbações nos ritmos circadianos são observados em trabalhadores por turnos que permanecem acordados durante toda a noite, ou em pessoas que sofrem de jet lag porque viajaram para países com diferentes fusos horários.

Estas perturbações circadianas podem levar a problemas de sono, fadiga, problemas metabólicos e até mesmo aumentar o risco de doenças cardiovasculares e autoimunes. Os ritmos circadianos são extremamente afetados pelo quotidiano da vida moderna, marcada pela luz elétrica noturna, as televisões e os ecrãs dos computadores, tablets e telemóveis ligados por longos períodos.

As oscilações dos ritmos infradianos, superiores a 28h, também podem afetar a saúde física e mental. O ciclo menstrual é um exemplo de ritmo infradiano que afeta com frequência a saúde das mulheres.

A dessincronização interna com os sincronizadores externos, como a luz e a temperatura, é a causa de muitas perturbações fisiológicas, psicológicas e comportamentais, tanto nos animais como nos humanos. Sabemos que muitos animais são perturbados no seu sono e orientação pelas cidades iluminadas e pelo ruído ambiente. Dispositivos eletromagnéticos como as torres elétricas, antenas transmissoras de televisão, radares e outros aparelhos eletrónicos geram campos magnéticos que interferem com a capacidade de orientação animal.

Como vimos acima, o ciclo sono-vigília está ligado aos ritmos ultradianos, inferiores a 20h, e as perturbações do sono como a insónia ou os problemas com a fase REM do sono, têm sido associados a uma variedade de problemas de saúde mental, incluindo depressão, transtorno bipolar e ansiedade. O ciclo de sono REM, que se repete várias vezes durante a noite, desempenha um papel na consolidação da memória e no processamento emocional. Perturbações deste ciclo podem estar relacionados com dificuldades em lidar com as emoções negativas ou positivas, e no controle dos sintomas de ansiedade.

As oscilações dos ritmos infradianos, superiores a 28h, também podem afetar a saúde física e mental. O ciclo menstrual é um exemplo de ritmo infradiano que afeta com frequência a saúde das mulheres. A tensão disfórica pré-menstrual é caracterizada por sintomas emocionais e físicos intensos que ocorrem na fase lútea do ciclo menstrual e as alterações nos níveis hormonais ao longo do ciclo podem influenciar o humor e a cognição das mulheres.

O ritmo infradiano é também responsável pela boa disposição no verão e pela tristeza invernal.

As mudanças sazonais nos padrões de luz é outro exemplo de ritmo infradiano que, por vezes, estão na origem de sintomas depressivos e/ou maníacos em pessoas suscetíveis, especialmente na primavera ou no outono, estações de transição em que há marcada mudança na radiação solar, na humidade e na temperatura.

O ritmo infradiano é também responsável pela boa disposição no verão e pela tristeza invernal. Os ritmos sazonais desempenham igualmente um papel importante na saúde física. Por exemplo, a exposição reduzida à luz solar durante os meses de inverno pode levar à deficiência de vitamina D em algumas populações.

O conhecimento da cronobiologia é fundamental para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes. Por exemplo, a administração de medicamentos pode ser programada de acordo com os ritmos circadianos do paciente, visando melhorar a eficácia do tratamento e reduzir os efeitos colaterais.

Na saúde mental, o conhecimento dos ritmos biológicos é essencial para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas mais eficazes. Um exemplo é a terapia da luz, uma intervenção comum para perturbações do humor, como a depressão sazonal. A exposição à luz brilhante, especialmente pela manhã, pode ajudar a realinhar os ritmos circadianos e melhorar os sintomas depressivos.

A cronoterapia é a abordagem que utiliza a manipulação dos ritmos circadianos para tratar o sono e o humor. Pode incluir a otimização dos horários de sono, a exposição a certas bandas de luz em momentos específicos do dia e a regulação dos padrões de alimentação.

As alterações climáticas e ambientais, com as suas mudanças nos regimes das temperaturas e da humidade, associadas aos padrões eletromagnéticos da Terra, afetam profundamente os ritmos biológicos dos animais, das plantas e dos seres humanos.

Importa compreender que as alterações climáticas e ambientais, com as suas mudanças nos regimes das temperaturas e da humidade, associadas aos padrões eletromagnéticos da Terra, afetam profundamente os ritmos biológicos dos animais, das plantas e dos seres humanos.

Perturbações do sono, da homeostase química e da temperatura corporal, alterações nos padrões de migração e reprodução de animais, mudanças nos padrões de floração de plantas, podem afetar a saúde e o bem-estar de populações inteiras, humanas e não humanas. Por exemplo, variações na temperatura e na precipitação podem alterar o tempo de floração de certas espécies de plantas, afetando os padrões de polinização e a disponibilidade de alimentos para pessoas e animais que dependem delas.

Por todas estas razões, e porque importa perceber que estamos desde sempre intimamente ligados ao planeta Terra e às suas condições de vida, importa ensinar a cronobiologia nas escolas e nas universidades, para podermos retirar os melhores ensinamentos que a nossa relação com a natureza nos pode oferecer.