As árvores contribuem para a regulação do carbono na atmosfera através da fotossíntese, absorvendo dióxido de carbono (CO2) e libertando oxigénio. O carbono capturado é armazenado nos troncos, raízes e folhas, ajudando a reduzir a quantidade de CO2 na atmosfera – um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global. Florestas maduras funcionam como importantes “sumidouros de carbono”, retendo grandes quantidades deste gás.
Esta capacidade de armazenamento de CO2 tem sido amplamente promovida por diversas entidades, desde ativistas como Greta Thunberg a governos, gigantes tecnológicas e até órgãos de comunicação social.
Também em Portugal, há múltiplas campanhas de plantação de árvores, ainda que nem todas se foquem exclusivamente na captura de carbono. É exemplo disso a Quercus, cujas iniciativas privilegiam espécies autóctones para promover a biodiversidade e evitar riscos como incêndios.
“O nosso objetivo é sobretudo a biodiversidade. Até porque, como sabemos, a plantação de árvores com o objetivo de sequestro de carbono tem sido desvirtuada em certos contextos, nomeadamente com espécies de crescimento rápido”, diz ao GreeneFact Alexandra Azevedo, presidente desta associação ambientalista.

Segundo a associação ambientalista Quercus, “a plantação de árvores com o objetivo de sequestro de carbono tem sido desvirtuada em certos contextos, nomeadamente com espécies de crescimento rápido”.
Alexandra Azevedo alerta que a plantação de espécies de crescimento rápido e altamente inflamáveis, como o eucalipto, pode trazer riscos se não houver fiscalização adequada.
Sem um controlo rigoroso, estas árvores podem alimentar incêndios ou ser abatidas antes de cumprirem a função de armazenar carbono, anulando o benefício esperado em termos de sequestro de CO2.
Já Luís Loures, engenheiro agrónomo e presidente do Politécnico de Portalegre, sublinha vantagens ambientais da plantação de árvores, mesmo no que toca ao sequestro de carbono. Apesar disso, também faz ressalvas, lembrando que o impacto destas iniciativas depende do contexto.
“As árvores e as florestas têm um efeito benéfico no balanço de carbono. Isto parece-me evidente. Agora, o impacto e a positividade da plantação de árvores é tanto maior e diferenciado de acordo com o contexto em que se insere”, refere.

Florestas maduras funcionam como importantes “sumidouros de carbono”, retendo grandes quantidades deste gás.
Por exemplo, plantar árvores numa cidade traz benefícios diferentes dos de uma plantação comercial, para produção de madeira ou papel. Da mesma forma, replantar uma área destruída por um incêndio pode ter um impacto ambiental mais significativo do que plantar árvores numa zona onde antes só havia mato, já que permite recuperar vegetação perdida e evitar a degradação do solo.
O tempo é outro fator essencial a considerar. Árvores jovens demoram anos ou mesmo décadas a atingir o seu pleno potencial de sequestro de carbono, o que significa que os efeitos destas iniciativas variam consoante a escala temporal considerada.
Já em relação à questão que dá o mote a este artigo, João Camargo, investigador em alterações climáticas e ativista do Climáximo, é categórico: “A plantação de árvores não reduz emissões de gases com efeito de estufa.”
O especialista reforça que as florestas não conseguem absorver o volume de CO2 libertado todos os dias pela queima de combustíveis fósseis. Além disso, a plantação industrializada de árvores pode mesmo aumentar as emissões devido à mobilização dos solos, uso de fertilizantes e remoção precoce das árvores.
“Existem contextos em que a florestação pode ser benéfica em termos de proteção de solos e água, mas deve haver uma escolha muito criteriosa da plantação e o objetivo deve ser criar uma floresta e nunca uma plantação florestal para ser removida no curto prazo”, reforça.

Árvores jovens demoram anos ou mesmo décadas a atingir o seu pleno potencial de sequestro de carbono.
Todos os especialistas ouvidos pelo Green eFact consideram que o “greenwashing” é uma prática adotada por algumas organizações, que usam a plantação de árvores como uma estratégia para parecerem mais sustentáveis, sem reduzirem efetivamente a sua pegada carbónica.
“A indústria da madeira, mas do papel em particular, tem aproveitado esta fraude para expandir as suas plantações, ocupar territórios onde não devia estar e até substituir florestas antigas por plantações industriais, aumentando as emissões de carbono”, diz João Camargo.
Mas se há vantagens ambientais na plantação de árvores, como pode o público distinguir entre uma campanha ética e eficaz de uma iniciativa sujeita ao “greenwashing”?
“É muito difícil para quem vai participar numa campanha perceber as intenções da empresa que a está a promover”, considera Luís Loures. “Para o participante poder fazer esta distinção, tinha de conhecer, na génese, o funcionamento, a visão e a estratégia de cada uma das empresas que a promove. E isso é muito complicado.”

Algumas organizações usam a plantação de árvores como uma estratégia para parecerem mais sustentáveis, sem reduzirem efetivamente a sua pegada carbónica.
Alexandra Azevedo concorda: “Essa linha não é muito clara.” E João Camargo explica em que condições a plantação de árvores faz sentido, na sua opinião: “Devemos plantar árvores segundo grandes projetos integrados, que plantem as espécies corretas nos locais corretos, que correspondam às condições edafoclimáticas atuais e futuras, que permitam regulação da temperatura, sombra, conservação de solos e água e até produção de fruto, nomeadamente dentro das cidades.”
No final de contas, a plantação de árvores não deve ser vista como a solução para a crise climática. Embora tenha o seu valor, Luís Loures defende que medidas como a economia circular, a reutilização de resíduos e a valorização de subprodutos são mais eficazes.
Para este especialista, a redução “quase drástica” do consumo de matérias-primas, a limitação da desflorestação e a gestão sustentável dos recursos naturais devem estar no topo das prioridades.
“A plantação de árvores é um dos processos e é importante. Mas há outras questões que têm muito mais a ver com a crise climática. Se eu tivesse de decidir, não seria, seguramente, no combate às alterações climáticas, a minha prioridade”, conclui.