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Bernardo Simões de Almeida

O lixo espacial e os resíduos dos lançamentos de foguetes têm consequências ambientais para o planeta?

30 Nov 2024 - 10:00
Embora o foco global se concentre no impacto das alterações climáticas na Terra, há problemas ambientais crescentes que se encontram fora do nosso planeta: o lixo espacial e a poluição causada pelos lançamentos de foguetes para o espaço. Com milhares de satélites e fragmentos de equipamentos a acumular-se no espaço, a questão das suas pegadas ambientais é frequentemente ignorada, mas está longe de ser irrelevante.
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Entende-se como lixo espacial objetos como satélites desativados, fragmentos criados após colisões e detritos resultantes de lançamentos dos foguetes que transportam os satélites e posteriormente são abandonados, muitas vezes reentrando na atmosfera. Da mesma forma, a poluição causada pelos lançamentos de foguetes, quer para o envio de satélites ou voo espaciais é também um tema cada vez mais preocupante, uma vez que tem havido um aumento significativo de descolagens espaciais, inclusive para fins turísticos.

De acordo com o site Space Debris User Portal, pertencente à Agência Espacial Europeia (ESA), desde a década de 1950 já foram lançados mais de 19 mil satélites para a órbita terrestre. Desses, 13 mil ainda estão no espaço, mas apenas 10 mil estão em funcionamento. No total, a massa de objetos espaciais em órbita supera as 13 mil toneladas. Desde então, ocorreram cerca de 650 eventos que resultaram na criação de fragmentos, como explosões, destruições acidentais de materiais ou colisões entre objetos espaciais.

Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), desde a década de 1950 já foram lançados mais de 19 mil satélites para a órbita terrestre.

Segundo um artigo publicado na revista digital americana E+E Leader, cerca de 80 toneladas de lixo espacial reentram anualmente na atmosfera terrestre. O calor gerado durante a reentrada causa a vaporização dos materiais utilizados na construção da maquinaria.

Um grupo de cientistas da NASA concluiu, num estudo publicado em 2023, que a reentrada de detritos espaciais contribui para a presença de metais em forma de aerossol na estratosfera, como lítio, prata, cobre e nióbio.

Já em 2022, um estudo publicado pela AGU (Advancing Earth and Space Sciences) alertou para a potencial danificação da camada de ozono, causada tanto pelo lixo espacial como pelos gases dos propulsores de satélites.

Além disso, certos materiais não se desintegram completamente ao reentrar na Terra, causando danos. Em abril deste ano, um objeto de 10 cm e 700 g, proveniente da Estação Espacial Internacional, caiu sobre uma casa na Florida, nos Estados Unidos. Conforme é noticiado num artigo da BBC, este fragmento partiu duas camadas do telhado devido ao impacto causado pela velocidade de descida.

A propulsão utilizada para lançar foguetes ao espaço é uma fonte significativa de emissões.

No entanto, há uma outra consequência ambiental associada ao lixo espacial que é igualmente relevante: o impacto dos lançamentos espaciais que originam os detritos. A propulsão utilizada para lançar foguetes ao espaço é uma fonte significativa de emissões.

Os lançamentos espaciais emitem uma combinação de gases e partículas para as diferentes camadas da atmosfera, uma vez que percorrem essas camadas até atingir o espaço. De acordo com um artigo publicado na revista digital americana Payload Space, cada lançamento de um foguete emite entre 200 a 300 toneladas de CO₂ para a atmosfera. Em 2022, estas emissões totalizaram cerca de 1.000 toneladas de CO₂ por ano.

Os propulsores utilizados dependem do tipo de foguete. Estes utilizam substâncias combustíveis como querosene, oxigénio líquido e hidrogénio líquido, que libertam diferentes poluentes na atmosfera, incluindo óxido de nitrogénio, carbono negro, monóxido de carbono, vapor de água, cloro gasoso e óxido de alumínio.

em 2021, o voo inaugural de um dos foguetes da empresa Space X, liderada pelo magnata Elon Musk, libertou 358 toneladas de CO₂, equivalentes às emissões de 25 mil automóveis, 3 mil cabeças de gado ou 50 voos de avião de passageiros.

Se os lançamentos de foguetes destinados à colocação de satélites já constituem um problema ambiental, há também que considerar as consequências ambientais do turismo espacial e da exploração espacial por empresas privadas.

A SpaceX, empresa liderada pelo magnata Elon Musk, lançou 96 foguetes em 2023 e 150 em 2024. Para contextualizar, o voo inaugural de um dos foguetes desta empresa, em 2021, libertou 358 toneladas de CO2, equivalentes, de acordo com o The Eco Experts, um site britânico dedicado às tecnologias e energias verdes, às emissões 4.6 milhões de pessoas no Reino Unido no mesmo período de tempo.

O lixo espacial e os lançamentos de foguetes são problemas que transcendem fronteiras. A sua pegada carbónica e respetivo impacto ambiental sublinham a necessidade de uma abordagem mais responsável e sustentável para a exploração espacial. Enquanto a humanidade se expande para além da Terra, é fundamental que os esforços para combater as alterações climáticas no nosso planeta sejam também aplicados fora dele.