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Ana Bernardino

O crescimento das empresas de aviação é incompatível com as metas climáticas da Europa?

1 Feb 2025 - 10:00
Apesar das anunciadas melhorias ao nível da eficiência dos combustíveis, o novo relatório da Transport & Environment, a entidade que reúne várias ONGs europeias da área do transporte e ambiente, concluiu que as estimativas de crescimento das empresas de aviação são incompatíveis com as metas climáticas da Europa.
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Se as projeções de crescimento de empresas como a Airbus e a Boeing se concretizarem, o tráfego aéreo de passageiros na União Europeia duplicará até 2050, esgotando o orçamento de carbono do setor aéreo europeu em 2026 e colocando assim em grande risco as metas climáticas estabelecidas pela União Europeia e pelo Acordo de Paris para 2040 e 2050.

Esta é uma das principais conclusões de um relatório recentemente publicado, a 13 de janeiro, pela Transport & Environment (T&E), uma entidade que reúne várias ONGs europeias da área do transporte e ambiente, como aliás já havia sido concluído noutros estudos anteriores.

Em 2024, um relatório do Conselho Internacional do Transporte Limpo (ICCT) alertou para o crescimento da aviação nas próximas décadas, apontando para um aumento no tráfego capaz de levar à duplicação do tamanho atual da frota e do uso de aeronaves.

E, em 2022, também a Greenpeace, concluiu que as maiores companhias aéreas europeias estavam a adotar medidas insuficientes para atingir a meta climática de 1,5ºC estabelecida pelo Acordo de Paris – segundo o documento desta ONG ambiental, as companhias precisavam de reduzir, pelo menos, 2% dos voos, anualmente, até 2040, sendo que nenhuma das empresas apresentava metas anuais com esse objetivo.

Os voos na Europa estão a aumentar a um ritmo que, tal como indicou a Greenpeace em 2022, não poderá ser atenuado pelas melhorias na eficiência dos aviões.

Segundo o relatório da T&E, está a acontecer precisamente o oposto: os voos na Europa estão a aumentar a um ritmo que, tal como indicou a Greenpeace em 2022, não poderá ser atenuado pelas melhorias na eficiência dos aviões através da utilização dos combustíveis de aviação sustentáveis (SAFs, na sigla em inglês).

Pelo contrário e ainda de acordo com a T&E, a duplicação do tráfego aéreo representará um aumento do consumo de combustíveis fósseis em 59% até 2050, com os aviões que partem de aeroportos europeus a queimar 21,1 milhões de toneladas de querosene por ano – um valor que equivale à extração anual de 1,9 mil milhões de barris de petróleo.

Ou seja, o impacto das SAF (que se dividem entre biocombustíveis e e-fuels) será anulado pelo ritmo de crescimento do setor — tal como já tinha sido sugerido por várias entidades, como a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) que, em colaboração com a Agência Europeia do Ambiente e a Eurocontrol, elaborou o relatório Ambiental da Aviação Europeia.

Publicado em 2022, o documento já clamava por “soluções imediatas, rápidas e em larga escala” para resolver o problema das emissões no setor da aviação. De igual forma, o já referido relatório da ICCT também sublinhava que estes combustíveis não serão capazes de fazer frente aos desafios do futuro.

Apesar das melhorias na eficiência dos aviões através da utilização dos combustíveis de aviação sustentáveis, esta será rapidamente anulada pelo ritmo de crescimento do setor.

Se entretanto não forem tomadas medidas, para a T&E o resultado esperado será este: em 2049, as emissões da aviação europeia serão apenas 3% inferiores às de 2019; e, em 2050, ano em que a União Europeia se comprometeu a atingir a neutralidade carbónica, segundo a Lei Europeia do Clima, alinhada com os objetivos do Acordo de Paris, o setor ainda emitirá 79 milhões de toneladas de CO2.

A organização apela deste modo à ação, lembrando que, sem medidas concretas para limitar o crescimento do setor, este será inimigo das metas climáticas.

Na ausência de restrições de crescimento da infraestrutura aeroportuária e sem incentivos à redução de voos frequentes, bem como de viagens corporativas, a estimativa é de que a aviação europeia emita 960 milhões de toneladas adicionais de CO2 face ao modelo de crescimento mais moderado defendido pela Comissão Europeia entre 2023 e 2050.