Uma análise feita por um grupo de cientistas da Universidade do Quebeque, Canadá, publicada no início de 2023 no site académico The Conversation, comparou quatro métodos diferentes de fazer café (cápsulas, filtro, prensa francesa e solúvel) e concluiu que as cápsulas são, quase sempre, a melhor opção.
O estudo, liderado pelo cientista brasileiro Luciano Rodrigues Viana, contabilizou todos os passos, desde as emissões da produção de café e das embalagens à preparação em casa e ao tratamento ou aterro dos resíduos e, como sublinha o próprio autor, chegou à conclusão que “a poluição resultante de se fazer café em casa é apenas a ponta do icebergue”.
Esta conclusão, apesar de contra-intuitiva, deve-se ao facto de, sendo a produção de café em si responsável pela maior fatia de emissões em toda a cadeia, as cápsulas garantirem um menor desperdício, otimizando a quantidade de café e de água quente.

Segundo um estudo da Universidade do Quebeque, Canadá, que comparou quatro métodos diferentes de fazer café (cápsulas, filtro, prensa francesa e solúvel), as cápsulas poderão ser a melhor opção para consumir esta bebida.
Em média, usa-se quase o dobro do café de filtro para a preparação da bebida (25 gramas contra as 14 gramas das cápsulas) e também o café de prensa, com 17 gramas, perde para as cápsulas e mesmo o café solúvel ou instantâneo, que usa uma menor quantidade de café (12 gramas), poderá perder para as cápsulas se os consumidores utilizarem mais água do que a necessária, desperdiçando, assim, também, mais energia para a aquecer. Neste caso as cápsulas permitem otimizar a quantidade de café e água por consumo.
Mas, se pelo contrário, forem utilizadas as quantidades recomendadas de café e água, o café solúvel ou instantâneo parece ser mesmo a opção mais ecológica. Segundo o estudo, “tal deve-se à baixa quantidade de café solúvel utilizado por xícara, ao menor consumo de energia elétrica da chaleira em comparação com uma cafeteira e ainda à ausência de resíduos orgânicos a serem tratados”.

Quando utlizadas as quantidades recomendadas de água e café, a velha cafeira ainda é o método mais ecológico de se fazer café, segundo também apuraram diversos estudos.
Em 2009 um outro estudo, publicado no Journal of Cleaner Production, concluía então que o café de filtro era a pior opção para o ambiente; E também em 2017, um outro artigo, este publicado no Journal of Industrial Ecology, afirmava que as “soluções mais convenientes” para os consumidores, ou seja, as cápsulas “podem efetivamente ter menos impactos” para o ambiente.
Já em 2021, outro estudo conduzido em Itália, por investigadores da Accademia dei Georgofili de Florença, uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior deste país na área da agricultura, chegou no entanto à conclusão que o café feito numa popular cafeteira italiana ou moka, “pode produzir significativamente menos gases de efeito estufa do que uma cápsula”, devido à embalagem extra e aos resíduos pós-consumo das mesmas.
O líder da equipa que efetuou este último estudo, Mauro Moresi, reconheceu em entrevista ao jornal inglês The Guardian que, “apesar do cultivo e produção do café representarem a maior fatia das emissões”, estas “podem variar entre os vários países produtores”, dependendo de fatores como “quão vasta é a escala do desflorestação em cada um deles”, por exemplo, sendo por isso importante ter sempre em conta a origem do café.

Apesar do cultivo e produção do café representarem a maior fatia das emissões, estas podem variar entre os vários países produtores.
Mas regressemos à questão dos resíduos das cápsulas, outro fator que também varia de país para país, baralhando ainda mais esta equação, como assinala o mesmo artigo do The Guardian, lembrando que “as cápsulas de café representam cerca de 576 mil toneladas de resíduos”.
Enquanto a maior parte das marcas ainda utiliza plástico derivado de combustíveis fósseis para fabricar as respetivas cápsulas, outras já produzem cápsulas de alumínio, que podem ser recicladas, embora só em algumas cidades e países. E até já há locais, como a cidade de Hamburgo, na Alemanha, a proibir o uso de cápsulas de café em todos os edifícios públicos ou similares, como escolas, universidades ou hospitais, cortando assim o mal pela raiz.
Em Portugal, a empresa Bio4plas inaugurou em maio, na zona de Cantanhede, a primeira linha de reciclagem de cápsulas de café multimarca, com capacidade para mais de 6 mil toneladas ao ano, o equivalente a 330 milhões de cápsulas. O projeto contempla ainda uma rede de recolha de cápsulas alargada a todo o país, através das lojas do grupo Sonae, que depois serão transformadas em dois produtos distintos: um biofertilizante líquido pelo aproveitamento das borras; e uma nova cápsula com uma pegada carbónica mais baixa.
Outro modo de combater a pegada ecológica das cápsulas é a montante, como fez a empresa suíça Migros em 2022, ao lançar uma nova máquina de “bolas de café”, sem cápsulas, em que estas estão revestidas por uma cobertura à base de algas marinhas, tornando-as totalmente compostáveis. E também por cá o Grupo Nabeiro – Delta Cafés tem no mercado desde 2019 uma “biocápsula” de “base biológica e vegetal, feita de cana-de-açúcar, mandioca e milho”, com “0% plásticos, 0% microplásticos e 0% alumínio”, que segundo a empresa terá uma versão melhorada já a partir de julho.