voltar

Teresa Lencastre

A música beneficia os animais?

4 Jan 2025 - 10:00
Vários estudos indicam que a música pode beneficiar os animais, influenciando positivamente o seu comportamento e bem-estar. Desde vacas leiteiras a cães, gatos e até codornizes, a investigação científica sugere que a música, especialmente quando adaptada às características de cada espécie, pode desempenhar um papel importante nos cuidados com os animais.
verdadeiro

Uma das experiências mais recentes com música e animais decorreu nos Açores. No âmbito do Programa Leite de Vacas Felizes, a artista portuguesa MARO deu um concerto nos pastos açorianos – pode vê-lo aqui – tendo como público as vacas de um produtor local. O objetivo foi promover o bem-estar dos animais.

“Sempre adorei animais e sempre explorei a sua ligação com a música, mas nunca imaginei cantar assim para muitas vacas”, disse a artista, citada num comunicado de imprensa. “Poder viver esta experiência (…) sabendo que a música pode realmente contribuir para o seu bem-estar, deixou-me muito feliz.”

A iniciativa foi inspirada por estudos científicos que comprovam o impacto positivo da música nas vacas. Em 2001, investigadores da Universidade de Leicester descobriram que músicas relaxantes, como “Everybody Hurts” dos R.E.M. e a “Sinfonia Pastoral” de Beethoven, reduzem o stress das vacas, aumentando em cerca de 3% a produção de leite. Em contraste, músicas mais agitadas, como “Back in the USSR” dos Beatles ou “Size of a Cow” dos The Wonderstuff, têm o efeito oposto, diminuindo a produção.

Esta investigação, como muitos outras, toca num ponto central na análise dos benefícios da música nos animais: o tipo de música tocada. Tal como acontece nos humanos, diferentes géneros desencadeiam diferentes reações e nem todas as espécies respondem da igual forma às mesmas melodias.

No âmbito do Programa Leite de Vacas Felizes, a artista portuguesa MARO deu um concerto nos pastos açorianos, onde teve como público as vacas de um produtor local.

Em 2012, investigadores da Colorado State University analisaram precisamente o impacto de diferentes géneros musicais em cães alojados em canis. Durante a investigação, foram reproduzidos estilos como música sinfónica e rock, bem como composições orquestrais.

Os resultados mostraram que os cães expostos à música clássica dormiam de forma mais profunda, indicando um efeito relaxante. Por outro lado, a exposição à música rock resultou num aumento de tremores, frequentemente associados à ansiedade.

Mais tarde, um estudo da Scottish SPCA e da Universidade de Glasgow foi ainda mais longe. Os investigadores concluíram que, mais do que música clássica, os cães preferem reggae e soft rock. Apesar destes géneros se destacarem, o estudo também sugere que, tal como os humanos, cada cão tem preferências musicais individuais.

Um estudo da Universidade do Colorado demonstrou que os cães expostos à música clássica dormiam de forma mais profunda, indicando um efeito relaxante.

Outras investigações mostram que composições criadas especificamente para cada espécie são mais eficazes do que músicas destinadas a humanos.

É o caso de um estudo da Universidade de Wisconsin-Madison, que revela que, embora os gatos tendam a ignorar música humana, respondem positivamente a composições adaptadas às suas características sensoriais, ronronando ou aproximando-se da fonte de som. Pode ouvir uma composição feita para gatos no âmbito deste estudo aqui.

Este trabalho deu continuidade às investigações do autor principal Charles Snowdon, que já tinha identificado respostas emocionais a músicas compostas para saguins-cabeça-de-algodão.

Os resultados reforçam a hipótese de que elementos essenciais na música humana – como tom, ritmo e timbre – podem também induzir reações noutras espécies quando ajustados às suas necessidades sensoriais. Pode ouvir uma composição feita para os saguins no âmbito deste estudo aqui.

Uma experiência com carpas revelou que a música clássica reproduzida debaixo de água promove o bem-estar e o crescimento destes peixes.

Além dos mamíferos, aves e peixes também têm sido alvo de investigações. Um estudo de 2017 com codornizes japonesas mostrou que a exposição a música, especialmente clássica, contribuiu para o aumento de peso corporal e melhoria na qualidade dos ovos.

Da mesma forma, uma experiência com carpas realizada pela Universidade de Atenas, na Grécia, revelou que a música clássica reproduzida debaixo de água promove o bem-estar e o crescimento destes peixes, reforçando a ideia de que os benefícios da música não se limitam aos animais terrestres.