De acordo com a ONU, a indústria da moda foi uma das que mais cresceu ao longo do século XXI, estando atualmente avaliada “em mais de 2,5 biliões de dólares e dando emprego a mais de 75 milhões de pessoas em todo o mundo”. Só entre entre 2000 e 2014, “a produção de vestuário duplicou, com o consumidor médio a comprar mais 60% de peças em comparação com a década anterior”. Por outro lado, cada peça é agora mantida durante muito menos tempo, facto que marcou a entrada desta indústria na era da chamada “moda rápida” e descartável – ou “fast fashion”.
Apesar do aumento do emprego, este desenvolvimento tem um preço bastante elevado, com a própria ONU a considerar o estado atual da indústria da moda “uma emergência ambiental e social”. Basta analisar, por exemplo, as emissões estimadas, podem variar “entre 2 e 8% do total global”, ou seja “mais do que a aviação e o transporte marítimo combinados”, colocando a indústria têxtil no top 10 das mais poluentes – apenas varia o lugar neste famigerado ranking, consoante os diferentes critérios avaliados.
Outra preocupação são as condições de trabalho, porque as reduções de custos e as pressões de tempo impostas a toda a cadeia de produção, quase sempre situada na Ásia, implica longas horas de trabalho com baixos salários e sem qualquer regalia ao nível da saúde e segurança dos trabalhadores.
Além disso, a indústria têxtil tem sido identificada como um dos principais contribuintes para a entrada de plástico nos oceanos, por ser a que gera mais efluentes líquidos, devido à enorme quantidade de água necessária durante todo o processo de confeção. Tanto o Programa das Nações Unidas para o Ambiente como a Agência Europeia para o Ambiente garantem até que esta indústria é “o segundo maior consumidor de água” e “responsável por cerca de 10% das emissões globais de carbono”.

Segundo a ONU, só entre entre 2000 e 2014, “a produção de vestuário duplicou, com o consumidor médio a comprar mais 60% de peças em comparação com a década anterior”.
De facto, é necessária muita água para produzir têxteis, bem como terra para cultivar algodão. Um estudo do Parlamento Europeu chegou à conclusão que, “para se fazer uma única t-shirt de algodão são necessários 2.700 litros de água doce, o suficiente para satisfazer as necessidades de consumo de água de uma pessoa durante 2,5 anos”.
Conforme o mesmo relatório, “o setor têxtil foi a terceira maior fonte de degradação da água e do uso do solo em 2020”. Nesse ano, cada um dos cidadãos da União Europeia necessitou, em média, de nove metros cúbicos de água, 400 metros quadrados de terra e 391 quilogramas (kg) de matéria-prima só para vestuário e calçado.
Segundo a Agência Europeia do Ambiente, as compras de têxteis na UE “geraram cerca de 270 kg de emissões de CO2 por pessoa”. Tal significa que “os produtos têxteis consumidos na UE geraram emissões de gases com efeito de estufa de 121 milhões de toneladas”.

Em 2020, cada um dos cidadãos da União Europeia necessitou, em média, de nove metros cúbicos de água, 400 metros quadrados de terra e 391 quilogramas (kg) de matéria-prima só para vestuário e calçado.
Outro problema são as lavagens, pois “uma única carga de roupa de poliéster pode libertar 700 mil fibras de micro-plástico, que podem acabar na cadeia alimentar. A maioria é libertada durante as primeiras lavagens. E “como a fast fashion se baseia na produção em massa, nos preços baixos e nos grandes volumes de vendas, é também responsável por muitas primeiras lavagens”.
“A lavagem de produtos sintéticos leva à acumulação de mais de meio milhão de toneladas de microplásticos no fundo dos oceanos todos os anos. Para além deste problema global, a poluição gerada pela produção de vestuário tem um impacto devastador na saúde das populações locais, dos animais e dos ecossistemas onde as fábricas estão localizadas”, acrescenta o documento.
Igualmente grave é a forma cada vez mais rápida com que as pessoas se descartam das roupas, pois apenas “menos de metade da roupa usada é recolhida para reutilização e apenas 1% é reciclada, uma vez que só recentemente começaram a surgir tecnologias que o permitem”.
Em média, “os europeus utilizam cerca de 26 quilos de têxteis e descartam cerca de 11 quilos todos os anos”. E “a maioria das roupas usadas (87%), mesmo as exportadas para fora da UE, são simplesmente incineradas ou depositadas em aterros”. O PE sublinha que “a ascensão da fast fashion tem sido crucial para este aumento do consumo”.

Nos últimos anos têm sido várias as medidas e estratégias, criadas a nível europeu, para inverter a sobreprodução de roupa, seja com o desenvolvimento de novos modelos de negócio ou através de uma maior reutilização e reciclagem das peças de vestuário.
Nos últimos anos têm sido várias as medidas e estratégias, criadas a nível europeu, para inverter esta situação, seja com o desenvolvimento de novos modelos de negócio ou através de uma maior reutilização e reciclagem, aplicando os princípios da chamada “economia circular”. O objetivo é “tornar os têxteis mais duráveis, reparáveis, reutilizáveis e recicláveis”, de modo a “combater a moda rápida, os resíduos e a destruição dos itens não vendidos, garantindo, ao mesmo tempo, que a produção respeita os direitos sociais dos trabalhadores”.
Mesmo assim e em última análise, a decisão final pertence sempre aos consumidores, enquanto estes não forem convencidos orientar o comportamento para opções mais sustentáveis, comprando roupas de melhor qualidade e que durem mais, mas também mais caras, pouco ou nada mudará.
Nesse sentido, é bom lembrar que, conforme alertou um estudo elaborado pelo Centro de Resiliência de Estocolmo, uma organização de ciência ambiental ligada à Universidade de Estocolmo, se este cenário não se alterar rapidamente, “a indústria da moda poderá utilizar um quarto do orçamento global de carbono restante para manter o aquecimento abaixo dos 2ºC até 2050 e utilizar mais 35% de terra cultivável para produzir fibras só até 2030”.