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Rafael Nabais

Toni Melajoki Roseiro: “Portugal tem condições para ser um país líder no combate à emergência climática e à perda da biodiversidade”

8 Apr 2025 - 10:00
Desde 2008 que a organização ambiental Greenpeace já tinha participado em território nacional em campanhas pela proteção dos oceanos ou contra a pesca excessiva, mas, agora, instalou-se em permanência em Portugal. A “petição urgente da ratificação do tratado do alto mar” é uma das prioridades, conforme revelou o diretor da sucursal portuguesa, Toni Melajoki Roseiro, em entrevista ao GreeneFact.

A emergência climática, a proteção da biodiversidade e a transformação do modelo socioeconómico são os três pilares em que se vai sustentar o trabalho da Greenpeace Portugal. A organização não-governamental ambiental, fundada em 1971, no Canadá, pelos ativistas norte-americanos Irving e Dorothy Stowe, hoje com quase 3 milhões de colaboradores em 57 países, tem agora uma representação permanente em território nacional. Este regresso foi simbolicamente assinalado a bordo de um dos seus mais emblemáticos navios, o Arctic Sunrise, que atracou num cais de Lisboa e, dias mais tarde, rumou ao porto de Leixões, Porto, onde ficou aberto ao público.

Toni Melajoki Roseiro, diretor da Greenpeace Portugal, adianta ao GreeneFact quais as ações já planeadas, entre as quais se destacam o combate aos abusos contra o meio ambiente, bem como alguns projetos para o futuro.

 

Qual a importância do regresso da Greenpeace a Portugal?

Trata-se de uma dívida histórica com Portugal. Era essencial estarmos aqui presentes de forma permanente e não esporadicamente, como acontecia.

 

Porquê?

Portugal sempre foi pioneiro na mobilização, na proteção e nas questões ambientais. Detém uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas Marítimas e é uma referência para os países que formam a CPLP, com os quais mantemos laços históricos e culturais, podendo, por isso, ser líder no combate à emergência climática e à perda da biodiversidade.

 

Quais as prioridades desta representação portuguesa?

Neste início de campanha, são a emergência climática, com especial incidência nos incêndios florestais de grande impacto e a proteção da biodiversidade.  E a Ratificação do Tratado do Alto Mar. Já tivemos a oportunidade de ter reuniões com o Governo português, que se mostrou bastante recetivo à nossa petição urgente, assim como outros atores políticos com quem também nos reunimos. Pedimos essa ratificação e a transformação radical do Modelo Socioeconómico. Necessitamos de uma economia centrada na vida das pessoas e do planeta e não unicamente no dinheiro.

O diretor da Greenpeace em Portugal, Toni Melajoki Roseiro, revelou quais as prioridades da ONG em território nacional, entre as quais se destacam “a emergência climática, com especial incidência nos incêndios florestais de grande impacto e a proteção da biodiversidade”.

Em relação à questão dos incêndios, particul”armente significativa em Portugal, há alguma investigação, missão prevista?

Sim, estamos a efetuar um estudo e análise profunda dos incêndios florestais de grande impacto, tanto em Portugal como em Espanha, dando uma visão ibérica a esta problemática.

 

Que outras ações estão no terreno?

A primeira ação efetuada foi a de ouvir, nos últimos meses, o ecossistema organizacional português, coletivos, sociedade civil e partidos políticos, de forma a saber quais as expectativas e necessidades em relação à nossa presença em Portugal. Também já criámos algumas alianças estratégicas, de forma a gerar uma comunidade unida na obtenção de objetivos de bem comum, assim como o início de investigações/relatórios específicos. Por último, estamos a iniciar de forma ativa a construção de uma rede de voluntariado, apoiantes e doadores regulares para poder alcançar o proposto.

 

E relativamente à COP30, Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, em novembro deste ano, que estratégia vão adotar?

Estaremos presentes em Belém, Brasil, na COP30 onde os três pilares da campanha da Greenpeace Portugal se encontrarão: Emergência Climática, Proteção da Biodiversidade e Transformação do Modelo Socioeconómico. Pediremos à indústria fóssil e à agroindústria que paguem pela crise climática, da qual são os principais responsáveis. Esta petição está enquadrada numa Petição Global, “Make Polluters Pay”.

 

“Necessitamos de uma economia centrada na vida das pessoas e do planeta e não unicamente no dinheiro”

Fernando Pereira, o fotógrafo português que morreu em 1984 no ataque ao navio Rainbow Warrior, será uma espécie de emblema da luta ambientalista da Greenpeace Portugal?

Sem dúvida, pois trata-se de um grande exemplo de ativismo ambiental e pela paz. Acaba por ser simbólico que a Greenpeace se instale definitivamente em Portugal no quadragésimo aniversário do bombardeamento do navio Rainbow Warrior I em Auckland na Nova Zelândia, pelos serviços secretos da República Francesa, que culminou com o assassinato do Fernando, um ativista, fotógrafo e companheiro. E por esta mesma razão, é uma homenagem a todas e todos os que lutam por um mundo melhor, nesta época em que verificamos uma tendência global de retrocesso a nível ambiental, social e democrático.

 

De que forma é que a Greenpeace espera marcar o ambiente e as lutas ambientais em Portugal?

A Greenpeace conta com mais de 50 anos de existência, e adaptaremos a nossa metodologia à realidade Portuguesa. Sendo que as Campanhas de sensibilização gerais, as Investigações e documentação de questões ambientais críticas, bem como o ativismo, a mobilização e os protestos, são importantes para pressionar os governos e as empresas a adotarem políticas mais sustentáveis e ambientalmente responsáveis. Também o Lobbying, trabalhando com legisladores e governos para influenciar a criação de leis e políticas que protejam o ambiente e promovam o desenvolvimento sustentável. Por último, a literacia e a sensibilização ambiental como linha de trabalho.

Para asinalar a abertura do escritório português da Greenpeace, um dos seus mais emblemáticos navios, o Arctic Sunrise, atracou num cais de Lisboa e, dias mais tarde, rumou ao porto de Leixões, Porto, onde recebeu mais de 800 visitas.

Como correu a abertura ao público do navio Arctic Sunrise?

Superou as expectativas! Se tivermos em conta as questões climatéricas, de agenda do Arctic Sunrise e da localização do navio; em três janelas distintas de três horas, tivemos cerca de 840 visitas e um número elevado, tanto de novos doadores como de voluntários. Lamentamos que as jornadas de porta aberta não tenham sido possíveis em Lisboa e agradecemos a receção que tivemos em Leixões.

 

E outros projetos para o futuro?

Estamos já a trabalhar no aumento da equipa da Greenpeace Portugal e na realização de novas campanhas, como por exemplo, a melhoria do sistema de transportes públicos sustentáveis, a transição energética e o modelo atual da indústria agroalimentar, a partir de uma perspetiva da utilização dos recursos hídricos.