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Miguel Judas

Daniel Galrão: “Sistemas mal dimensionados acabam por falhar no seu propósito de poupança e sustentabilidade”

13 Aug 2024 - 09:00
Desde há 14 anos que a sustentabilidade energética é o mantra da Galrão Renováveis uma empresa especialista na implementação de sistemas integrados de energias renováveis, com uma visão/missão inspirada em Steve Jobs. Neste caso não para ter “um Mac em cada casa”, mas para que cada edifício esteja preparado de raiz para ser auto-suficiente e proporcionar o maior conforto do modo mais eficiente possível, como sublinha ao Green eFact o fundador e diretor comercial deste “negócio familiar” sediado em Pêro Pinheiro, Sintra.

O que levou a Galrão a apostar neste segmento de mercado, já há 14 anos?

As energias e a climatização já eram uma área de negócios trabalhada anteriormente, desde o ano 2000, numa outra empresa de família mais especializada na implementação de outros sistemas. Por vermos que era uma tendência, mas sobretudo uma solução para um futuro mais sustentável e com imenso potencial, criámos a Galrão Renováveis para nos dedicarmos exclusivamente a este mercado, com o intuito de nos tornarmos especialistas nesta área e na implementação de sistemas integrados de energias renováveis.

 

Com base na experiência da Galrão Renováveis, como analisa o processo de transição energética, aparentemente bastante atrasado em relação às metas inicialmente propostas pela União Europeia?

Tem sido uma transição lenta, principalmente nos primeiros anos, em que era novidade e começaram a aparecer os primeiros sistemas no mercado. No entanto, com o passar dos anos, foram surgindo obrigatoriedades ao nível dos novos projetos e também programas do Governo, tais como o Fundo Ambiental (FA) e o Vale Eficiência (VE), que agitaram bastante a área e permitiram que uma boa parte da população olhasse de outra forma para as mais-valias dos sistemas face ao investimento.

 

Daniel Galrão converteu um “negócio familiar” de climatização numa empresa de referência na área das energias renováveis.

Quais são os erros mais comuns que os portugueses cometem nas suas casas a nível energético e que consequências isso tem, tanto para o ambiente como para a carteira de cada um?

Os principais erros são ao nível da utilização dos sistemas instalados nas habitações, muitas das vezes de forma menos ajustada às suas verdadeiras necessidades, e também no dimensionamento dos equipamentos, o que leva a um dispêndio energético bastante elevado. A eficiência não está só na instalação de bons sistemas, é fulcral que as soluções estejam desenhadas para se adaptarem às características de cada espaço, seja ele uma vivenda ou um apartamento. É recorrente aconselharmos os clientes neste sentido, pois este rácio entre sistema, necessidades de consumo e dimensão da habitação é o fator que mais pesa no resultado final. Sistemas mal dimensionados acabam por falhar no seu propósito de poupança e de sustentabilidade por trazerem custos elevados aos proprietários ou utilizadores, associados ao maior consumo energético e, nesse caso, menos prevenção de CO2 e toneladas de carvão salvos para a atmosfera.

 

Um dos motes da empresa é que cada casa esteja preparada de raiz para ser sustentável, considera que os construtores e os arquitetos já estão sensibilizados para esta questão?

Sim, já começam a estar mais a par e a ser mais conhecedores do tema, mas notamos que – na maioria dos casos – há uma tendência natural a evitar o que não seja obrigatório por lei e, por isso, há soluções que só entram em última instância ou em projetos premium. Nestes casos, temos sido bastante proativos para com os clientes particulares, projetistas, engenheiros, construtores e outros intervenientes, procurando informar e dar a melhor consultoria em cada caso. Neste sentido, no passado dia 5 de julho, realizámos o nosso primeiro Encontro sobre Soluções Integradas de Energias Renováveis, no “showroom vivo” da Solius, nossa grande parceira e cúmplice nesta missão de partilhar informação e esclarecer sobre as mais recentes inovações da área, para garantir o conforto e maior eficiência energética dos espaços, bem como sobre a forma como podem ser aplicadas e acrescentar valor aos projetos.

“Muitas vezes os consumidores estão confusos, devido a campanhas extremamente agressivas por parte de algumas empresas ou operadores que propõem o que mais lhes interessa vender”

Os consumidores estão bem informados, por exemplo, sobre os diversos tipos de painéis solares existentes para uso doméstico? De que forma é que este tipo de literacia poderia ser implementado, de forma a evitar gastos desnecessários?

Na minha opinião, e pelo conhecimento prático dos contactos que recebemos diariamente, muitas vezes os consumidores estão confusos, devido a campanhas extremamente agressivas por parte de algumas empresas ou operadores que propõem o que mais lhes interessa vender, em detrimento do que mais se adequa às necessidades e perfil de consumo de cada cliente e/ou edifício.

 

Como é que isso pode ser evitado?

De forma a evitar estas situações, cada contacto que nos chega é alvo de uma visita técnica pormenorizada, estudo e respetiva avaliação do perfil do consumidor e condições de instalação. Cada casa é um caso, e o cliente é merecedor de uma solução personalizada de acordo com o seu perfil. Só assim conseguimos cumprir com honestidade e rigor a missão a que nos propusemos há 14 anos, quando começámos, de melhorar a eficiência dos espaços e reduzir e pegada ecológica de Portugal, uma casa de cada vez.

Daniel Galrão antevê que o mercado energético “vai evoluir para soluções e sistemas cada vez mais ao alcance de mais famílias e empresas, o que vai tornar possível baixar os custos energéticos”.

E no que diz respeito às empresas, sentem que já há uma maior sensibilidade e interesse em apostar em sistemas energéticos mais sustentáveis? E por que razão isso acontece?

Sim, as empresas estão mais sensibilizadas e conhecedoras, uma vez que têm inúmeras vantagens ao apostar em sistemas sustentáveis. Os incentivos fiscais têm desempenhado um papel muito importante neste mercado empresarial, com IVA a 6% e dedução em sede de IRC, programas governamentais com linhas de crédito e financiamento bastante favoráveis ou poupança direta e imediata de até 70% nas faturas de energia, uma vez que, na maioria das situações, os horários de maior produção de energia através dos painéis coincidem com os horários laborais das empresas, o que dá uma excelente percentagem de energia utilizada em regime de autoconsumo.

 

Como antevê o mercado da energia a médio e longo prazo?

Parece-nos que o mercado se tornará bastante agressivo comercialmente, como, aliás, já se começa a sentir na atualidade. Mas, do que vejo, penso que vai evoluir para termos cada vez mais soluções e sistemas ao alcance de mais famílias e empresas, o que vai tornar possível baixar os custos energéticos nas casas, empresas, indústria e outros espaços, independentemente da tipologia e finalidade do edifício, seja hotelaria, serviços, geriatria, desportivos, culturais, ensino, saúde, etc.