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Teresa Lencastre

Seabin: o caixote do lixo que aspira a poluição do mar

6 Dec 2024 - 10:00
À medida que a luta contra a poluição marinha se torna mais urgente, soluções inovadoras procuram mitigar os impactos do lixo nos ecossistemas aquáticos. É o caso do Seabin, um dispositivo flutuante que atua como um “caixote do lixo” nos oceanos. De acordo com a organização, remove mais de 3,6 toneladas de resíduos marinhos dos cursos de água e oceanos todos os dias.

A poluição marinha é uma das crises ambientais mais graves da atualidade. De acordo com estimativas recentes, os oceanos acumulam hoje perto de 171 biliões de fragmentos de plástico, valor que pode mais do que duplicar até 2040, se não forem tomadas medidas.

Todos os dias, o equivalente a mais de 2 mil camiões de lixo cheios de plástico é despejado na água, alerta a ONU, e as consequências são devastadoras: a destruição de habitats, a contaminação da cadeia alimentar e impactos na saúde humana e no equilíbrio dos ecossistemas.

É neste contexto que surge o Seabin, um dispositivo que funciona como um “caixote do lixo” flutuante, capaz de recolher resíduos diretamente da superfície da água.

Criado em 2015 por dois empreendedores australianos, Andrew Turton e Pete Ceglinski, o projeto tem hoje unidades em mais de 53 países e a missão de chegar a 100 cidades até 2050.

O Seabin funciona como um “caixote do lixo” flutuante, capaz de recolher resíduos diretamente da superfície da água.

“Os Seabins filtram 500 milhões de litros de água e removem mais de 3,6 toneladas de lixo marinho dos nossos cursos de água e oceanos todos os dias”, escreve Pete Ceglinski no site da Seabin Foundation.

“É importante reconhecer, no entanto, que o problema nunca será resolvido apenas com tecnologia. A mudança de comportamentos e uma melhor educação é o que vai salvar os nossos oceanos, mas, entretanto, podemos começar a limpá-los”, sublinha no mesmo texto.

O dispositivo é descrito como uma “combinação entre um caixote do lixo e um ‘skimmer’ de piscina”. Funciona através da escumação – isto é, da remoção de resíduos ou substâncias que flutuam na superfície – e da aspiração da água, recolhendo plásticos, microplásticos, combustível, óleo e outros contaminantes nocivos.

Instalado em locais estratégicos, o Seabin é composto por uma bomba submersa elétrica para filtrar a água. O modelo mais avançado, o Seabin 6.0, tem capacidade para processar até 55 mil litros de água por hora e 481,2 milhões de litros de água por ano.

O Seabin funciona através da escumação – isto é, da remoção de resíduos ou substâncias que flutuam na superfície – e da aspiração da água, recolhendo plásticos, microplásticos, combustível, óleo e outros contaminantes nocivos.

Além da sua eficiência mecânica, o Seabin também recolhe dados sobre a poluição marinha, permitindo monitorizar os tipos e quantidades de resíduos recolhidos. Estes dados são utilizados para apoiar campanhas de sensibilização e orientar políticas de gestão dos oceanos.

“Capturamos diariamente microplásticos e resíduos plásticos. Posteriormente, processamos os dados para monitorização e elaboração de relatórios. Para gerar receita, vendemos os dados de impacto a empresas, quer para utilização em relatórios de sustentabilidade, quer para ajudar as empresas a atingir um balanço positivo em relação ao plástico”, escreve a organização.

Apesar de o Seabin operar globalmente, através de parcerias com entidades locais, a Austrália destaca-se como o país onde o projeto centraliza as suas operações e pesquisa, servindo como sede da iniciativa.

É na Austrália que a empresa desenvolve novas tecnologias e coordena as suas operações internacionais, além de investir significativamente na limpeza das suas próprias águas.

Sydney é apontada como um exemplo de sucesso. Em 2020, tornou-se a primeira cidade a implementar o “Smart City Program”, permitindo a recolha e monitorização contínuas de lixo marinho 24 horas por dia.

Desde julho de 2020, os Seabins instalados no porto de Sydney recolheram mais de 22 milhões de artigos de plástico. Este ano, já removeram mais de 2 milhões de microplásticos.

“Beatas de cigarro, embalagens de alimentos moles, autocolantes de alimentos, embalagens de cigarros eletrónicos, bem como objetos de plástico rígido, estão entre os resíduos mais comuns encontrados nas nossas recolhas com o Seabin” em Sydney, refere a organização.

O Seabin também recolhe dados sobre a poluição marinha, permitindo monitorizar os tipos e quantidades de resíduos recolhidos.

De acordo com a Seabin, a poluição plástica impacta não só a vida marinha, mas também a saúde humana, podendo até contribuir para o cancro. “80% dos seres humanos têm partículas microplásticas no sangue”, alerta a entidade, citando os resultados de um estudo publicado na revista Environment International, em 2022.

Outro trabalho, de 2019, estima que uma pessoa comum pode ingerir, beber ou inalar entre 78 mil e 211 mil partículas de microplásticos por ano. Mais recentemente, um estudo veio ainda sugerir que a exposição a microplásticos pode estar associada a um maior risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou morte.

Além disso, defende a Seabin, a poluição plástica também constitui um risco financeiro para setores como o turismo, a pesca e os bens de consumo embalados, devido ao lixo de marcas que contamina o ambiente, o que pode levar a proibições de produtos e a ações legais.