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Teresa Lencastre

Quais são as principais espécies em risco em Portugal?

21 Aug 2024 - 09:00
O boto, a águia-pesqueira, a enguia-europeia, o lobo-ibérico, o cágado-de-carapaça-estriada e muitas outras espécies estão em perigo em Portugal, alerta a ANP|WWF. Conheça alguns dos animais que enfrentam maior risco de extinção no país.

Neste artigo, vai encontrar algumas espécies (embora não todas) “criticamente em perigo” e “em perigo” em Portugal, seguindo o sistema de classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza, utilizada também em várias listas vermelhas nacionais. A classificação de cada espécie varia em função do local e esta lista refere-se à população portuguesa.

“Criticamente em perigo” significa que a espécie enfrenta um perigo de extinção extremamente elevado na natureza e “em perigo” prevê um risco muito elevado. Informação adicional das espécies ameaçadas em Portugal pode ser encontrada em várias plataformas, incluindo o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, o Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos de Portugal Continental ou a Lista Vermelha das Aves de Portugal Continental.

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus). (foto: Fritz Pölking / WWF)

Águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) – criticamente em perigo 

A águia-imperial-ibérica “está a sofrer com a perda de habitat e de alimentos e a perseguição humana, explica ao Green eFact Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da ANP|WWF. Em território português, a espécie está “criticamente em perigo”, apresentando um risco de extinção extremamente elevado.

 

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) – criticamente em perigo 

A águia-pesqueira também está “criticamente em perigo” em Portugal, alerta, por sua vez Vasco da Silva, coordenador de Florestas e Biodiversidade da ANP|WWF. Também conhecida como guincho, é a única ave de rapina que se alimenta quase exclusivamente de peixe. No passado, o território português chegou a ter relativa abundância de populações residentes, que faziam ninhos e se reproduziam no país. Hoje, encontram-se no território sobretudo de passagem ou durante o inverno, o período não reprodutor. “Em Portugal continental a Águia-pesqueira inverna numa larga porção do território, em particular no Centro e Sul do país”, adianta Vasco da Silva.

Boto (Phocoena phocoena). (foto: Alamv Stock Photo / Buiten-Beeld)

Boto (Phocoena phocoena) – criticamente em perigo 

O boto é outra das espécies mais ameaçadas do território português. “É a segunda espécie com mais arrojamentos na costa portuguesa”, diz Vasco da Silva, referindo-se ao fenómeno em que animais marinhos são encontrados encalhados ou presos na costa, não conseguindo regressar ao mar sozinhos. O especialista dá conta de “capturas acidentais” destes animais e diz que “as alterações climáticas podem estar a prejudicar a disponibilidade de alimentos” da dieta dos botos.

 

Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) – em perigo 

Esta espécie rara está em declínio na maioria das regiões onde é encontrada na natureza, “principalmente devido à destruição dos seus habitats para fins agrícolas ou urbanísticos”, explica o coordenador de Florestas e Biodiversidade da ANP|WWF.

 

Enguia-europeia (Anguilla anguilla) – em perigo 

Catarina Grilo, por sua vez, explica que a enguia-europeia enfrenta sérias ameaças devido às “barreiras obsoletas nos rios”, que impedem a sua migração, e à “poluição aquática”, que degrada o seu habitat e afeta negativamente a sua população.

Gato bravo (Felis silvestris). (foto: Ola Jennersten / WWF-Sweden)

Gato bravo (Felis silvestris) – em perigo 

O gato bravo é outra espécie com risco de extinção muito elevado em Portugal. Na origem da mortalidade da espécie estão atropelamentos e o abate ilegal, diz Vasco Silva. “Os roedores e os lagomorfos, como a lebre e o coelho, constituem as suas principais fontes de alimento”, explica. O declínio do coelho-bravo fragiliza ainda mais a espécie.

 

Lobo-ibérico (Canis lupus signatus) – em perigo 

Atualmente, o lobo-ibérico é uma das espécies que mais preocupa a ANP|WWF, tendo em conta a proposta da Comissão Europeia de reduzir o estatuto de proteção do lobo. Ao Green eFact, Catarina Grilo diz tratar-se de “um carnívoro emblemático” do território português que “precisa de medidas urgentes de redução da pressão humana sobre os seus habitats, a par de um amplo reconhecimento social da sua existência e presença”. A este propósito, a ANP|WWF lançou uma petição para travar a alteração do estatuto.

 

Morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale) – em perigo 

Classificada como “em perigo”, esta espécie é “bastante sensível à perturbação dos seus abrigos, abandonando-os imediatamente”, explica o coordenador de Florestas e Biodiversidade da ANP|WWF. Os seus abrigos estão ameaçados pela “reativação da exploração mineira em alguns locais”. Além disso, a utilização de pesticidas e a fragmentação do território representam sérias ameaças.

Toirão (Mustela putorius). (foto: David Lawson / WWF-UK)

Morcego-rato-pequeno (Myotis blythii) – criticamente em perigo 

O morcego-rato-pequeno também está “criticamente em perigo” em Portugal, alerta Vasco da Silva. Esta espécie de morcego está “bastante sujeita às alterações climáticas”. O coordenador de florestas e biodiversidade da ANP|WWF explica que as populações de morcego-rato-pequeno se encontram de forma concentrada e “em número muito reduzido dentro de abrigos subterrâneos” e que “sofrem bastante com a sua perturbação ou destruição”.

 

Pardela-balear (Puffinus mauretanicus) – criticamente em perigo 

Endémica das Ilhas Baleares, mas também encontrada na costa portuguesa, a pardela-balear é outras das espécies que enfrenta um risco extremamente elevado de extinção na natureza não só em Portugal, mas em todo o continente europeu. “A pardela-balear é considerada a ave marinha mais ameaçada da Europa e a costa portuguesa é a zona de invernada mais importante para esta espécie a nível mundial”, descreve Vasco da Silva.

 

Saramugo (Anaecypris hispanica) – em perigo 

O saramugo é “um pequeno peixe de água doce criticamente ameaçado pela poluição e pela alteração dos cursos de água”, descreve Catarina Grilo. As barreiras obsoletas, como diques e açudes, também contribuem para o seu declínio, dificultando a sua sobrevivência e reprodução.

 

Toirão (Mustela putorius) – em perigo 

O toirão enfrenta uma elevada mortalidade devido a atropelamentos e à conversão e degradação dos ecossistemas. À semelhança do que acontece com o gato bravo e também com o lince-ibérico, a diminuição da população de coelho-ibérico, uma das suas principais presas, agrava ainda mais a situação desta espécie, explica Vasco da Silva.

Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus). (WWF / Helmut Diller)

Tartaranhão-caçador (Circus pygargus) – em perigo 

Esta ave nidificante em Portugal está ameaçada pela conversão de áreas de cereal em pastagens ou culturas permanentes (olivais, amendoais, etc.), e pela instalação de parques eólicos e centrais fotovoltaicas. “Outros fatores de ameaça são o insucesso reprodutor, em parte pelo corte precoce de fenos, e a mortalidade por colisão em parques eólicos e linhas elétricas”, refere Vasco da Silva.

 

Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus) – em perigo 

A toupeira-de-água é outra espécie “em perigo” em território português. De acordo com Vasco da Silva, a “fragmentação e isolamento populacional” deste animal têm sido provocados pela construção de barragens, a poluição dos cursos de água, a destruição da vegetação ripícola, os incêndios, espécies invasoras e o aquecimento global. A ANP|WWF está a desenvolver projetos de remoção de barreiras fluviais obsoletas, nomeadamente no rio Sabor, no norte do país, com o objetivo de restaurar a continuidade do curso de água, melhorando o habitat e promovendo a conservação e conectividade das populações desta espécie.