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Miguel Judas

De onde vem o plástico que polui os oceanos?

9 Aug 2024 - 09:00
O mundo produz cerca de 350 milhões de toneladas de resíduos plásticos todos os anos, mas o que realmente importa, em termos ambientais, é o modo como estes são geridos e onde vão acabar. Quanto destes resíduos terminam de facto no mar? E como chegam lá?

O número poderá parecer surpreendente, tendo em conta o flagelo que o plástico representa para os oceanos e para a vida marinha, mas segundo o Global Plastic Outlook da OCDE, publicado em 2022, apenas cerca de 0,5% dos resíduos plásticos produzidos anualmente no mundo, cerca de 350 milhões de toneladas, termina no mar.

Mas até aí há chegarem há, literalmente, um longo caminho a percorrer, que começa com quase um quarto dos resíduos plásticos do mundo, cerca de 82 mil toneladas, mal gerido ou deitado fora. Ou seja, sem ser armazenado em aterros seguros, reciclado ou incinerado.

O problema, ainda segundo os cálculos da OCDE, é que um quarto deste valor, por volta de 19 milhões de toneladas, é simplesmente descartado – mais em concreto 13 milhões de toneladas para ambientes terrestres e 6 milhões de toneladas para cursos de água ou zonas costeiras.

Deste último total, 1,7 milhões de toneladas são transportadas para o oceano – 1,4 milhões de toneladas provenientes dos rios e 0,3 milhões de toneladas das zonas costeiras. Tal significa que cerca de 0,5% dos resíduos plásticos produzidos anualmente no mundo acabam no mar, onde se vão acumulando e perpetuando toda esta situação.

Segundo a OCDE, cerca de 0,5% dos resíduos plásticos produzidos anualmente no mundo acabam no mar.

A quantidade exata de resíduos plásticos que chegam aos oceanos continua no entanto âmbito da estimativa, pois enquanto os primeiros estudos indicavam números mais elevados (até cerca de 8 milhões de toneladas por ano), pesquisas mais recentes, como a da OCDE, apontam para valores entre 1 e 1,7 milhões de toneladas.

O grande enigma por resolver é o que realmente acontece ao plástico após entrar no oceano, pois a quantidade que flutua em mar alto é bastante menor que o total que continuamente tem fluido para os oceanos ao longo de décadas.

O “problema do plástico desaparecido”, como já foi descrito, pode ter várias explicações, como estimativas imprecisas, a rápida decomposição dos resíduos devido à luz ultravioleta, tornando-os microplásticos, ou simplesmente porque a maioria fica junto à costa, acabando, mais tarde ou mais cedo, por ir parar às praias.

Segundo o Global Plastic Outlook da OCDE, 83% por cento do plástico existente nos oceanos chega através dos rios.

Mas quais são, afinal, os tipos de resíduos que mais se encontram nos rios e oceanos? Apesar de todos lembramos de imediato das famigeradas palhinhas, estas não são mais que uma pequena gota neste mar de lixo, como comprovou um estudo publicado em 2021 na revista Nature, liderado por Carmen Morales-Caselles, cientista no departamento de biologia da Universidade de Cadiz e especialista no efeito dos microplásticos nos oceanos.

Ainda segundo este estudo e no geral dos vários ambientes aquáticos (leito e águas de rios, fundo do mar, mar aberto, mar costeiro e costa), o item mais encontrado é o sempre omnipresente saco de plástico (14,1%), seguido das garrafas de plástico (11,9%), de embalagens de comida e talheres (9,4%), invólucros vários (9,1%) e cordas sintéticas (7,9%). O caso muda todavia de figura quando a análise é feita individualmente em cada um dos diferentes ambientes aquáticos, como se comprova na infografia seguinte.

 

No geral dos vários ambientes aquáticos (leito e águas de rios, fundo do mar, mar aberto, mar costeiro e costa), o item mais encontrado é o sempre omnipresente saco de plástico.

Outra questão que se coloca é como chega o plástico ao mar? A maior parte do plástico que desagua nas grandes superfícies de água tem origem em dez rios: Yangtze, Indus, Yellow, Hai He, Ganges, Pearl (rio das Pérolas), Amur, Mekong (estes oito na Ásia) e Nilo e Niger (em África).

Ainda segundo os números apresentados no já citado Global Plastic Outlook da OCDE, 83% por cento do plástico existente nos oceanos chega através dos rios, enquanto o restante vem das zonas costeiras.

Já no que diz respeito aos países mais poluentes, a geografia do plástico é claramente asiática, como se comprova por um outro estudo, resultante de uma parceria entre a ONG holandesa Ocean Cleanup, a Universidade de Delft, na Holanda, e o Centro de Investigação Ambiental de Helmholtz, na Alemanha. Publicada em 2021, esta investigação conclui que “mais de mil rios são responsáveis ​​por 80% das emissões globais de plástico no oceano”, estando a maioria destes situados na Ásia.

Uma realidade que se comprova quando se olha para o top 10 dos países mais poluentes, liderado pelas Filipinas (356 371 t), seguindo-se Índia (126 513 t), Malásia (73 098 t), China (70 707 t) e Indonésia (56 333 t), antes de aparecer a primeira exceção à regra asiática, o Brasil (37 799 t). Surgem depois o Vietname (28 221 t), o Bangladesh (24 640 t), a Tailândia (22 806 t) e só então a Nigéria (18 640 t), que representa a segunda exceção. Já Portugal, com uma média de 76 toneladas ao ano, aparece apenas na posição 98.